Pixinguinha é homenageado em painel na parede do Museu da Imagem e do Som da Lapa


RIO — Pixinguinha retornou para a Lapa. Um painel de aproximadamente 150 metros quadrados do maestro carioca foi pintado, por meio de grafite, na empena do edifício do Museu da Imagem do Som, no coração do bairro do Centro, e entregue na última quinta-feira. Na pintura, Alfredo da Rocha Vianna Filho aparece em dois momentos: tocando o seu icônico saxofone e também com o seu semblante característico.

O trabalho começou como um sonho pessoal do pesquisador Pedro Rajão, o produtor executivo do coletivo cultural Leão Etíope do Méier, que atua na praça Agripino Grieco, no bairro da Zona Norte, há sete anos. Pedro, que tem o grupo Oito Batutas tatuado em sua costela — formado por Pixinguinha e seu irmão Otávio Viana (o China), Donga, Raul e Jacob Palmiére, Nelson Alves, José Alves e Luís Silva — cogitou levar a ideia para algum muro de Ramos, na Zona Norte, onde o maestro chegou a morar por três décadas. Mas uma visita ao MIS lhe fez mudar de ideia:

— No ano passado eu fui até lá para propôr uma parceria no sentido deles proverem o conteúdo do museu para o nosso site. Nessa reunião, eu falei “e esse paredão lateral de vocês aqui?”. Assim, fomos conversando até conseguir a autorização, já que é um prédio tombado. Quando a gente viu que ele autorizava e que o MIS tinha, inclusive, um dos saxofones do Pixinguinha no acervo, aí foi um golaço.

Músico, compositor e arranjador, o autor de “Carinhoso”, além de ser o mestre do chorinho, compôs valsas, sambas, choros e polcas, também sendo fundamental para a criação do que, hoje, se entende como MPB. Carioca nascido no Catumbi, Zona Central do Rio, Pixinguinha começou a tocar justamente na Lapa, quando, aos 14 anos, começou a trabalhar na Casa Chope Concha, além do Cine Teatro Rio Branco e também nos mais famosos cabarés da cidade, como O Ponto, ABC e O Castelo. Em 1922, o gerente do cinema Palais, Isaac Frankel, convidou o maestro e Os Oito Batutas para se apresentarem no local. No mesmo ano, o grupo também participou da primeira transmissão de rádio feita no Brasil.

A parte lateral do Museu da Imagem e do Som
A parte lateral do Museu da Imagem e do Som Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo

— A pandemia com certeza mudou a nossa forma de usar os espaços públicos, com o carioca buscando os espaços mais abertos menos aglomeração. Por isso é que vai ser importante ter o Pixinguinha ali, lembrando que ele e o conjunto foram fundamentais para a retomada da cidade depois da Gripe Espanhola. Eles são um alento, um porto de esperança por dias melhores que estão por vir, de resistência como ícones do povo preto e erguendo monumentos em um país com pouquíssimos monumentos em exaltação da memória de pessoas negras — declarou o produtor cultural.

A obra foi feita por meio do projeto Negro Muro, que Pedro toca, há três anos, junto do artista urbano Fernando Sawaya, o Cazé, que já pintou dez obras pelas ruas do Rio. Pessoas célebres como o o compositor Cartola, a vereadora Marielle Franco, o maestro Moacir Santos e a líder religiosa Mãe Beata de Iemanjá já forma homenageados. Este painel do Pixinguinha, por enquanto, foi o maior projeto do grupo.

— O grafite é uma arte negra diaspórica que já foi marginalizada e que, hoje, ocupa esse lugar de hype, mas a gente quer colocar o grafite como uma obra maior. Queremos colocar o rosto das nossas referências pretas e remexer na memória local desses lugares — disse Rajão.

Pixinguinha (músico) na Musidisque
Pixinguinha (músico) na Musidisque Foto: Arquivo O Globo / Agência O Globo





Fonte: G1