Para motoristas do BRT, circular pelo Transoeste equivale a uma verdadeira prova de obstáculos. Para vencer os 56 quilômetros de pista entre Santa Cruz e Barra da Tijuca são obrigados a driblar em torno de 400 crateras — ou uma a cada 140 metros, considerando a extensão da via expressa. A prefeitura prometa fechar todos até o fim do mês, em mais uma operação tapa-buracos, a cargo da Secretaria municipal de Conservação, que começou nesta semana. O mesmo tipo de serviço está sendo feito no Transcarioca, onde o alvo são os cerca de 100 buracos nos 39 km, entre o Terminal Alvorada, na Barra, e o Aeroporto do Galeão.
Segundo o consórcio BRT, as más condições da pista reduzem a vida útil dos veículos, que em outras cidades é de 20 anos, para algo em algo entre cinco e oito anos, conforme o corredor. Além disso, afeta a velocidade dos articulados em torno de 40% no Transoeste, sendo que no trecho entre a estação Pingo D’Água e o Túnel da Grota Funda, considerado o pior, a velocidade média é em torno de 20km/h.
— Esse tipo de veículo foi fabricado para transportar uma quantidade específica de passageiros. Mas, como só andam acima da capacidade permitida, você junta dois fatores: a superlotação com a quantidade de buracos na via e não há carro que aguente. Esse é um problema de anos. Isso afeta também o tempo de viagem. Se você viajar no Transolímpica vai ver que é bem diferente. Como lá eles têm aquela malha de concreto (na pista), o ônibus têm muito mais facilidade para se deslocar. Acaba sendo uma viagem mais rápida porque não tem estes obstáculos de pista recapeada e buracos do Transoeste, que está abandonado — aponta o vendedor Alexandre Matias, de 37 anos, morador em Guaratriba, que utiliza o BRT todos os dias para chegar no trabalho na Barra.
O problema também afeta o auxiliar de limpeza Anderson Costa, de 46 anos. Na quinta-feira, o ônibus do BRT que o levaria para o trabalho, na Barra da Tijuca, quebrou duas estações depois de deixar o terminal de Santa Cruz, na Zona Oeste. Os passageiros tiveram de desembarcar e esperar o outro articulado, que não demorou, mas já chegou lotado. Prevendo os transtornos, o passageiro costuma sair de casa com mais de duas horas de antecedência, para uma viagem que deveria durar menos da metade desse tempo.
— A pista é péssima porque o asfalto não é de qualidade. Não suporta o peso do BRT com passageiros e isso reduz, realmente, a velocidade (do ônibus). Ele vem muito devagar e acaba quebrando também. Hoje (quinta-feira) o que eu vim quebrou no caminho e não saiu mais do lugar. Tive de entrar num outro BRT lotado para continuar a viagem. Praticamente todos os dias a gente vê no caminho três a quatro BRTs quebrados — reclama o passageiro.
Para o professor de Engenharia de Transportes da PUC-Rio José Eugênio Leal, o problema do Transoeste começou pelo projeto. A opção pela pista em asfalto, segundo ele, foi um erro cometido na época da construção:
— Foi um erro lá atrás que causou esse problema e, realmente, tem que fazer alguma coisa. Se não pode fazer uma mudança definitiva (do piso) tem que ficar permanentemente resolvendo o problema com tapa-buraco. O tráfego é muito pesado para uma cobertura de asfalto simples — avalia o especialista.
O serviço de reposição asfáltica dentro da calha do BRT iniciada nesta semana tem previsão de durar até o fim do mês. A operação tapa-buracos no Transoeste vai abranger os 56 Km do corredor e começou pelo trecho compreendido entre a Estação Magarça e o Terminal Pingo D’Água, onde operários trabalham na pista.
Para garantir a segurança dos operários um trecho de 500m da calha foi interditado e os articulados estão passando por fora. Já no Transcarioca, a operação iniciou as estações do Fundão e Madureira, sentido Alvorada, e vai abranger 39 km da via expressa. Segundo a Secretaria municipal de Conservação, os operários já percorreram dez quilômetros de cada via expressa.
A pasta não informou o custo das intervenções. Disse apenas que a massa asfáltica é produzida nas usinas da Prefeitura e os serviços estão sendo feitos com recursos próprios. Disse ainda que realiza manutenção constante nas vias expressas, com exceção do Transolímpica, que é mantida pelo próprio consórcio que administra a via.
O problema do Transoeste, inaugurado em 2012, é antigo. Ao iniciar sua construção, a prefeitura optou por usar asfalto comum, que não resiste aos peso dos ônibus lotados, ao contrário dos demais cujas pistas são em concreto e mais resistentes. Com isso, as operações tapa-buraco viraram uma rotina.
Em maio de 2018, a Secretaria municipal de Conservação e Meio Ambiente havia informado que a recuperação da pavimentação dependia da liberação R$ 35 milhões e de um minucioso estudo de suporte do solo. Disse ainda que, sem previsão para a liberação da verba, recorria paulatinamente aos tapa-buracos.
Em novembro de 2019, após seis meses de intervenção da Prefeitura no sistema, os operadores se comprometeram a investir R$ 24 milhões no sistema, sendo R$ 18 milhões em melhorias e R$ 6 milhões em segurança, a partir de 2020. A manutenção dos corredores ficou fora do acordo. Mas, a queda na arrecadação e no volume de passageiros por conta da pandemia fizeram com que os investimentos ficassem só na promessa.
Fonte: G1