Passageiros protestam contra reajuste da tarifa de trem no Rio em 25,5%: ‘Abusivo’


Diante do aumento da tarifa de trens do Rio, aprovado nessa quarta-feira para entrar em vigor no dia 2 de fevereiro, os passageiros protestaram. O impacto do reajuste de 25,5%, que fez a passagem pular de R$ 4,70 para R$ 5,90, será grande para os usuários do transporte ferroviário. A Agetransp, agência reguladora dos transportes no estado, admite que o índice de reajuste é elevado e recomendou que o governo do estado avalie negociar soluções que pesem menos no bolso dos trabalhadores. As tratativas já estão em andamento, informaram o estado e a SuperVia.

— O serviço é uma porcaria a esse preço que pagamos hoje, com trens lotados, velhos, que quebram e deixam a gente a pé. Além disso, o ar-condicionado não funciona. Esse reajuste é um absurdo — protesta a empregada doméstica Guaraciara Dordenones, de 42 anos, moradora da Vila Kennedy.

Expectativa de reajuste foi motivo de reclamações de usuários
Expectativa de reajuste foi motivo de reclamações de usuários Foto: Cléber Júnior / Extra

A diferença diária, de R$ 1,20, representa, em média, um gasto a mais de R$ 52 por mês, considerando ida e volta de segunda a sexta-feira. No fim de um ano, a diferença acumulada chega a R$ 624, mais da metade do salário mínimo.

— Acho abusivo o reajuste em meio a uma pandemia. Mesmo os trabalhadores que têm ajuda das empresas para custear a passagem podem ser prejudicados. Sem contar que o serviço não vale isso tudo. A condição dos vagões é a pior possível e diminuíram a quantidade de trens — reclama o auxiliar de limpeza Sedimilson Ricardo, de 55 anos.

O gerente de loja Bruno Ivo, de 26 anos, está preocupado com o impacto em sua renda.

— Muitas empresas deixam de contratar, porque eleva o custo com transporte do empregado — reclamou o morador de Nova Iguaçu, na Baixada.

O passageiro Evandro Rodrigues Correa, de 42 anos, reclama que a qualidade do serviço está aquém do prometido:

— Me sinto lesado. Está difícil. A qualidade do trem caiu muito, já a tarifa só sobe.

A atendente de telemarketing Mayara Leão, de 20 anos, moradora de Duque de Caxias, se queixa de superlotação, atraso e da falta de manutenção:

— Os trens já saem lotados. Às vezes pegamos uns sem ar-condicionado e com cheiro de mofo. Dia desses, peguei um na Central, e ele saiu 35 minutos depois. Na baldeação, ainda esperei 48 minutos. Não estão olhando para a gente. E a toda hora estão em manutenção, porque descarrilaram — relata.

A Agetransp argumenta que seu papel é de fiscalizador e regulador da operação. Por isso, não tem poderes para alterar critérios de reajuste previstos no contrato com o Governo do Estado. Mas, por reconhecer que o índice é elevado, o conselho diretor da agência, em decisão inédita, recomendou ao estado avaliar soluções para minimizar o impacto para o usuário, levando em conta a pandemia. As sugestões incluem negociar com a SuperVia a adoção de uma tarifa social, proporcionar subsídio ou outra compensação.

O estado informou que já está em tratativas com a SuperVia para definir medidas visando à redução do reajuste. “Além de um valor mais adequado ao atual cenário socioeconômico, o objetivo dessa negociação é garantir o equilíbrio econômico-financeiro do contrato”, disse em nota. A concessionária, por sua vez, confirmou que as negociações com o estado estão em andamento, mas lembrou que, em função da pandemia, desde março de 2020 acumula perda de mais de R$ 292 milhões, resultado da redução de 67 milhões de passageiros.

No caso da travessia por barcas entre Rio e Niterói o reajuste, que passa a vigorar em 12 de fevereiro, é de 6,1%, de R$ 6,50 para R$ 6,90. A Agetransp também aprovou aumento para a linha Charitas, que passa de R$ 18,20 para R$ 19.

De acordo com a agência reguladora, a grande diferença entre os índices de reajuste de trem e de barca ocorre porque cada contrato está vinculado a um indicador diferente. No caso dos trens, é o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), que tem na sua cesta de análise a alimentação. Isso significa que os aumentos sucessivos, nos últimos meses, de itens da cesta básica como arroz, óleo e feijão jogaram nas alturas a tarifa. Já a passagem de barca é reajustada pelo Índice Nacional de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA).

Novos aumentos a caminho

Reajustes de outros modais estão a caminho. O do metrô deve acontecer em abril. Sobre os ônibus municipais, que costumam ter a tarifa reajustada a cada início de ano, a futura secretária de Transportes, Maína Celidônio, disse que, antes de pensar em aumento, quer ter um diagnóstico do setor. Mas, como o valor está congelado desde 2019, é possível que algum reajuste seja concedido. A Secretaria estadual de Transportes não deu previsão de quando deve conceder o aumento dos ônibus intermunicipais.





Fonte: G1