Passageiros enfrentam medo de assalto, tumulto e horas de espera nas barcas

Muitos moradores de Niterói que trabalham no município do Rio só souberam da interdição da Ponte Rio-Niterói — no início da noite nesta segunda-feira devido a uma colisão de um navio à deriva com a estrutura — quando já estavam no trajeto para casa. Foi o caso do contador Eraldo Batista, que chegou a entrar no ônibus para voltar para casa, em Niterói. Ele saiu do trabalho por volta de 18h, no Centro do Rio, e embarcou no Terminal Menezes Côrtes. A cerca de 20 metros para atravessar a Ponte Rio-Niterói, o tráfego foi interrompido para o acesso.

— Fiquei atônito. Ninguém sabia o que tinha acontecido, até a TV do ônibus dar a notícia de que o navio tinha batido na ponte. Quando percebemos que não sairíamos tão cedo dali, resolvemos juntar um grupo, por medo de assaltos. Descemos o elevado, pegamos parte das avenidas Brasil e Rodrigues Alves, caminhando até a rodoviária. De lá, pegamos o VLT para chegar na estação das barcas. Por ser no meio do feriado, peguei o ônibus porque achei que chegaria rápido em casa. Um trajeto que duraria 40 minutos está levando mais de três horas. Ainda estou na barca — comentou ele, às 21h15 desta segunda-feira.

Situação parecida aconteceu com o analista de logística Gabriel Soares, de 29 anos. Depois de peregrinar pelo Centro do Rio, Gabriel enfrentou tumulto na Praça Quinze. Ele só ficou sabendo da interdição da Ponte Rio-Niterói quando já estava dentro do ônibus para Itaipuaçu, em Maricá, onde mora.

— Peguei o ônibus como sempre pego, no (Terminal) Menezes Côrtes, para Itaipuaçu. Quando já tinha embarcado, soube do acidente na Ponte. Aí enfrentei um engarrafamento até a Rodoviária Novo Rio, onde desci e fui pegar o VLT com uma multidão que teve o mesmo pensamento. VLT lotado, descemos na Praça Quinze e já estava aquela multidão toda — conta Gabriel.

Ponte Rio-Niterói foi fechada na noite desta segunda-feira
Ponte Rio-Niterói foi fechada na noite desta segunda-feira Foto: Domingos Peixoto / Domingos Peixoto

Na estação, ele esperou por 50 minutos até conseguir embarcar. Além da multidão, conta que havia empurra-empurra e até brigas:

— Foi um verdadeiro caos, superlotado, filas quilométricas, intervalos de hora em hora, uma confusão generalizada na hora do embarque, tendo briga e tudo, por causa do desespero para entrar antes de travar as roletas.

A universitária Esthefanie Gomes, de 28 anos, conta que só conseguiu embarcar porque furou fila. Ela estava voltando do trabalho e não imaginou que fosse encontrar a Praça Quinze lotada:

— Furei fila e peguei a barca seguinte. O intervalo estava de hora em hora. Não liberaram para a cada 30 ou 20 minutos. Se eu não tivesse furado fila, só pegaria a barca mais tarde. A Praça Quinze estava lotada.

Família passou pela Ponte instantes antes do acidente

Por pouco a família do militar José Araújo, que saiu do Rio para Niterói para uma festa de aniversário, não passou pelo susto na hora do acidente com o navio na ponte:

— Tinha acabado de passar com meus filhos e a minha esposa na Ponte, quando houve o acidente. Agora estou aqui em Itaipu (na Região Oceânica de Niterói) e acho que dormiremos na casa de uma amiga. Se o tráfego da ponte for liberado, vamos arriscar, porque as crianças não gostam de dormir fora de casa. Só estamos com a roupa do corpo.

Marinha vai instaurar inquérito

A Marinha do Brasil (MB) informou que a embarcação será conduzida para atracação no Porto do Rio de Janeiro e que a destinação da embarcação “SÃO LUÍS” é objeto de processo judicial. Afirmou ainda que, enquanto aguarda a decisão judicial, a embarcação permanecia fundeada em local predefinido pela autoridade marítima, na Baía da Guanabara, desde fevereiro de 2016, sem oferecer riscos à navegação. Ressaltou que um Inquérito sobre Acidentes e Fatos de Navegação (IAFN) será instaurado para apurar causas, circunstâncias e responsabilidades do acidente.

Confira a nota na íntegra:

“A Marinha do Brasil (MB) informa que a Capitania dos Portos do Rio de Janeiro (CPRJ) tomou conhecimento, na noite desta segunda-feira (14), da ocorrência envolvendo a embarcação de nome “SÃO LUIZ” que, devido às condições climáticas extremas neste final de tarde, teve sua amarra partida e se deslocou do local em que se encontrava fundeada.

A CPRJ enviou uma equipe de Busca e Salvamento (SAR) para o local, a fim de prestar o apoio e realizar a coordenação necessária, com a Praticagem e os rebocadores da empresa Camorim. A embarcação será conduzida para atracação no Porto do Rio de Janeiro.

A destinação da embarcação “SÃO LUÍS” é objeto de processo judicial. Enquanto aguarda a decisão judicial, a embarcação permanecia fundeada em local predefinido pela Autoridade Marítima, na Baía da Guanabara, desde fevereiro de 2016, sem oferecer riscos à navegação.

Um Inquérito sobre Acidentes e Fatos de Navegação (IAFN) será instaurado para apurar causas, circunstâncias e responsabilidades do acidente.”

Fonte: Portal G1