O menino Lorenzo dos Santos Gomes de Freitas, de 3 anos, está internado na enfermaria pediátrica do Hospital Universitário Pedro Ernesto, em Vila Isabel, na Zona Norte do Rio, desde o começo de junho e nesta semana foi submetido a cirurgias para amputação de parte do braço esquerdo e do pé direito, como sequelas de uma superbactéria, que já estaria controlada. O drama do garoto, que mora com a família em Itaocara, no Norte Fluminense, começou no fim de maio e ganhou contornos de negligência médica, segundo a família, praticada no hospital municipal da cidade, onde foram feitos os primeiros atendimentos no fim de maio. A prefeitura de Itaocara foi procurada pelo EXTRA na noite de terça-feira (19) e na tarde desta quarta-feira (20), mas não enviou resposta sobre o caso até o momento.
O pai do menino, o ajudante de caminhão Nominato Gomes de Freitas, o Nanato, de 31 anos, contou que desde que o garoto começou a se queixar de dores na barriga e sentir febre levou o filho no hospital de Itaocara quatro vezes, e nas três primeiras vezes os médicos (clinico geral) o mandaram de volta para casa, após receitar remédio para prisão de ventre e gases. Como a criança não melhorava ,os pais retornaram à unidade e, só na quarta vez, já no começo de junho, o pediatra pediu um raio x do pulmão e constatou que o órgão estava tomado por uma bactéria e apresentava quadro de derrame pleural.
Segundo o relato do pai, esse mesmo profissional estranhou que os colegas não tenham detectado o problema por meio de exames e solicitou a transferência imediata, feita no mesmo dia para o Hospital Pedro Ernesto. A unidade do Rio, após novos exames, confirmou o quadro de pneumonia bacteriana. Para a família do menino, a demora da unidade local em dar um diagnóstico mais preciso agravou a situação do garoto.
— O médico pediu a transferência dele e, no próprio dia 4 de junho, às 18h20, chegamos ao Pedro Ernesto, onde exames confirmaram a pneumonia bacteriana. Por causa do antibiótico errado que deram para o meu filho anteriormente, a bactéria se fortaleceu e se transformou numa superbactéria. Isso porque eles trataram uma coisa, mas na verdade meu filho tinha outra coisa — disse o pai, acrescentando que logo no dia seguinte o menino precisou ser intubado. — O médico disse que, se demorasse mais duas horas (a transferência), ele teria morrido.
No dia 6, o menino sofreu duas paradas cardíacas, uma delas na frente do pai. A situação se complicou no dia seguinte, quando foi constada também uma trombose, que resultou em três cirurgias. O ajudante de caminhão contou que o estado de seu filho se agravou e ele passou pelo menos 15 dias intubado na UTI do hospital. Nominato disse ainda que os médicos do Pedro Ernesto fizeram de tudo para tentar evitar a amputação, mas não houve jeito. Ele disse que o hospital do Rio não tem nenhuma responsabilidade sobre o agravamento do quadro do garoto, que segundo ele está sendo bem tratado na unidade:
—Se meu filho não estivesse vindo para cá teria zero por cento de chance de ser tratado corretamente e sobreviver. Segundo os médicos daqui, houve negligência em Itaocara. Eles disseram que se ele tivesse sido tratado corretamente lá não teria chegado no Rio em quadro gravíssimo. O próprio médico de lá (Itaocara, que atendeu o menino antes da transferência) criticou os colegas por não ter pedido um raio x para descobrir a origem do problema. Eu também acredito que houve negligência (nos primeiros atendimentos), pelo que os médicos falam.
Segundo o ajudante de caminhão, um médico do Pedro Ernesto teria dito a ele que a bactéria adquirida pelo menino é muito forte e nociva e mata nove em cada dez pacientes. O pai disse que os médicos garantiram e ele que o pior já passou, mas o garoto ainda não tem previsão de alta. A doença do filho abalou o pai que teve de se afastar do emprego, onde estava havia apenas dois meses. Ele contou que teve crise depressiva, taquicardia e problemas de nervos, que ainda está tratando. A mãe, Alaíde Rodrigues dos Santos, de 32 anos, também ficou emocionalmente abalada.
A principal preocupação do pai é com o tratamento do garoto depois que ele tiver alta. Ele acredita que o filho — que ainda teve isquemia no braço e no cérebro, sem sequelas — vá precisar de acompanhamento de fisioterapeuta, fonoaudiólogo e psicólogo, além de precisar de próteses. Ele também não sabe se será mantido no emprego, do qual precisou se licenciar ainda cumprindo período de experiência. No Rio para acompanhar o tratamento do menino, ele e a esposa se dividem entre a casa de parentes em São Gonçalo, na Região Metropolitana, e de amigos, em Campo Grande, na Zona Oeste. Mesmo achando que o filho foi vítima de negligência, Nonato disse que, por enquanto, não pensa recorrer à Justiça.
— Por enquanto, eu prefiro entregar a Deus. O que importa é que o menino está vivo e, agora, com saúde. Se antes ele já era especial para a gente, agora é muito mais — disse, sobre o filho único do casal, descrito pelo pai como uma criança alegre, inteligente, brincalhona e amorosa.
Sensibilizados com a situação da família, vizinhos se mobilizaram e criaram uma vaquinha que, em menos de 24h, arrecadou mais de R$ 1.500. As doações podem ser encaminhadas pelo PIX (22)98144-2290.
O Hospital Pedro Ernesto informou, por meio da assessoria de imprensa, que “o paciente Lorenzo de Freitas chegou ao hospital com um quadro de pneumonia grave, que evoluiu posteriormente para choque séptico refratário. O paciente necessitou de suporte intensivo e, atualmente, está finalizando o tratamento das sequelas decorrentes da gravidade do quadro, estando fora de perigo”.
Fonte: Portal G1