Paes diz não querer hospitais de campanha e, sim, reabrir leitos


Em entrevista coletiva nesta sexta-feira, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, disse que os dados mostram que abrir hospitais de campanha no Rio foi um equívoco — ele chamou a medida de “maluquice”. E fez um apelo ao Ministério da Saúde:

— Ninguém precisa de hospital de campanha. O que precisamos é abrir 350 leitos que estão fechados. Essa quantidade é muito grande. Estamos conversando com o Ministério da Saúde. Os hospitais da Lagoa e de Ipanema poderiam ser usados em parceria com a iniciativa privada. Tem que colocar recursos humanos.

Ele chamou de genocídio a iniciativa de abrir o hospital de campanha do Riocentro.

— No máximo 111 pessoas foram atendidas simultaneamente no Riocentro — afirmou Paes.

Segundo ele, há três semanas os números indicavam que o Rio registrava casos mais graves, com elevação no número de mortes. Por isso, medidas mais restritivas foram adotadas.

— Estamos fazendo essas medidas para preservar vidas. Todos torcemos para ser uma ilha no Brasil. Mas não somos uma ilha. O cenário o risco da falta de leito e aumento da fila (por leitos) está se concretizando. Estamos entrando em uma fase em que estamos em uma situação mais crítica. Não é exagero da mídia, do prefeito ou das autoridades sanitárias. Adoraria não ter restrição e a vida continuar. Mas não dá — disse o prefeito, alegando que há duas semanas, fechar as praias seria achismo.

Ele informou que medidas mais restritivas deverão ser tomadas talvez já na segunda-feira, após reunião com o comitê científico. E que busca acordo com estado e municípios para terem mais efetividade:

— Se olhar a fila de leitos, verá muita gente de outros municípios. Mas é importante que sejam integrantes, para que a medida seja tomada de forma integrada na Região Metropolitana. Espero que sejam válidas para todo o estado. Estou conversando com o governador Cláudio Castro.

‘Momento de solidariedade’

Segundo Paes, a capacidade de incentivos para alguns setores — como IPTU e ISS — é muito reduzida em relação à capacidade da União em conceder incentivos.

— Esse é um momento de solidariedade nacional do Executivo e do Congresso Nacional — disse.

O prefeito afirmou não ser negacionista e que, desde janeiro, vem recebendo apelos para decretar um lockdown, que ainda não é necessário, de acordo com ele:

— Mas nesse momento precisamos da ajuda da população. Apelo para que se possível, fiquem em casa. A situação é grave.

Sem citar nomes, Paes comentou que as pessoas têm perdido mais tempo brigando e discutindo, quando deveriam se preocupar em ser solidárias.

— São importantes medidas como as adotadas no início da epidemia. Como o patrão que deixa a secretária em casa e paga salário. A mobilização do início da epidemia. Ficar em casa na medida do possível. São tempos difíceis, tempos estranhos. As pessoas estão morrendo. É preciso por o freio de mão. É um apelo que fazemos à população — destacou.

O prefeito disse que negociou, mas não ainda conseguiu que o Congresso aprove a derrubada de um veto presidencial a uma lei federal que abriria caminho para adiar o pagamento de RS 500 milhoes em dívidas ao longo deste ano.

Maior número de pacientes na UTI

O superintendente de Vigilância em Saúde do município do Rio, Márcio Garcia, observou que a mortalidade em relação a 2020 da Covid-19 diminuiu. Mas ressaltou que nas últimas semanas tem havido um aumento no número de casos e de óbitos:

— Isso caracteriza uma inversão de tendência.

Ele destacou que a reversão da tendência tinha sido observada a partir de fevereiro, com o aumento da procura das UPAs. E chamou a atenção para o aumento de internações nas UTis.

— No momento temos o maior número de pacientes internados em UTIs — disse Garcia.

De acordo com o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, a rede federal tem 800 leitos reformados e estruturados estão fechados. Ele negocia a abertura de 300 deses leitos. A curto prazo, disse, estão garantidos 80.

Decreto com restrições

Nesta sexta-feira, foi publicado um decreto do prefeito do Rio, Eduardo Paes, criando novas restrições válidas no fim de semana (sábado e domingo) para tentar conter o avanço da Covid -19 proíbe não apenas o banho de sol nas praias como também esportes (como altinho e partidas de futevôlei, entre outras), o banho de mar e atividades econômicas por ambulantes e barraqueiros. Além disso, o estacionamento na orla foi proibido — exceto para os moradores —, idosos, portadores de necessidades especiais, hóspedes de hotéis e táxis.

Nesta quinta-feira, durante a inauguração do BioParque, Paes já deixara aberta a possibilidade de endurecer as medidas contra a pandemia, mas disse que a situação vai depender das informações que serão repassadas pela Secretaria municipal de Saúde e da reunião com o Comitê Científico, marcada para segunda-feira, dia 22. No entanto, em dois momentos, Paes deu a entender que as restrições serão mais fortes: o prefeito disse que vai discutir “a possibilidade de fechamento completo das coisas” e, quando indagado sobre a instalação de barreiras sanitárias e a proibição do turismo, destacou que essas medidas poderão ser tomadas “a partir das decisões do Comitê Científico”.

— Vamos discutir a possibilidade, sim, de fechamento completo das coisas. A primeira medida foi dura demais com bares e restaurantes. Mas, provavelmente, as próximas medidas que vão ser tomadas, depende do comitê científico, vão valer para todos os setores e atividades econômicas. Obviamente, menos para ros essenciais — disse Paes.

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Em seu perfil no Twitter, Paes afirmou que vai estabelecer mais restrições. O prefeito anunciou que uma delas será a antecipação dos feriados de abril, mas sem informar quais serão as datas. No próximo mês, além da Semana Santa de 2 a 4, a capital ainda terá os feriados de 21 (Tiradentes – feriado nacional) e 23 (São Jorge – feriado estadual).

— Como vínhamos prevendo, há o aumento efetivo dos casos. Continuo atento. O atual decreto da prefeitura vale até segunda-feira, mas eventualmente a gente deve trazer novas restrições amanhã. Na segunda-feira, eu me reúno com o Comitê Científico. Já pedi ao secretário (de Saúde) Daniel Soranz que monitore os dados, para que tenhamos todas as informações necessárias para orientar a decisão do prefeito na eventualidade de aumentarmos as restrições. Não tem decisão tomada, mas vamos trabalhar para preservar vidas. Esse é o propósito — disse o prefeito na coletiva, antes de publicar outras informações no seu Twitter.

O decreto anterior, que passou a valer no dia 5 de março e foi ampliado até a meia-noite de segunda-feira, dia 22. Nele, o horário de funcionamento de bares e restaurantes foi estendido até as 21h. A decisão da Paes ocorreu dias após a prefeitura brigar e conseguir na Justiça uma liminar que obrigasse os estabelecimentos a respeitarem o horário de fechamento às 17h. No primeiro dia do decreto em vigor, os estabelecimentos conseguiram uma decisão judicial que permitia o funcionamento até as 20h. Outra liberação foi de serviços nas praias, incluindo ambulantes fixos e itinerantes, até as 17h, o que estava proibido no último decreto.

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Paes conversou com o governador do Rio, Cláudio Castro, na quarta-feira, após o estado anunciar que manterá medidas de restrições por mais uma semana. Paes informou ainda que os hospitais da capital fluminense vão continuar recebendo pacientes de outros lugares, sem distinção.

— Ontem (na quarta-feira), eu conversei com o governador Claudio Castro e disse a ele que, para que uma cidade como o Rio tome medidas, deve-se ter um apoio federal e estadual. A cidade do Rio vai tomar suas decisões, mas sempre debatendo com o estado, no que aqui eu vou chamar de “solidariedade metropolitana”. Ontem, vi que boa parte da espera por leitos vem de outras cidades, como Nova Iguaçu e Seropédica. A prefeitura do Rio vai continuar com seus hospitais abertos para receber qualquer paciente, dentro da política do SUS, sem fazer distinção entre eles — afirma.

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Apelo a Bolsonaro

Uma das preocupações do prefeito está no feriado da Semana Santa, de 2 e 4 de abril, época em que muitos turistas aproveitam para visitar a cidade e os próprios moradores relaxam com os dias de folga. No entanto, Eduardo Paes pediu que todos tenham responsabilidade, mas alertou que, para quem não tem consciência, “que na data da Semana Santa tenha noção de celebração à vida e olhe para seus valores cristãos”.

O prefeito ainda aproveitou para fazer um apelo ao presidente Jair Bolsonaro para que tome medidas mais concretas para ajudar a população com transferência de renda e empresários e comerciantes, como ocorreu em outros países. Segundo ele, medidas mais duras impõem uma série de sacrifícios pessoais e econômicos à população, onde pessoas “podem ficar sem ter como levar comida para casa”. Paes pediu ainda um pouco mais de “sensibilidade”.

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Fonte: G1