Orquestra da Maré se apresenta na orla da Zona Sul no fim de semana


No próximo domingo, dia 9, quem estiver de passagem pela Rua Ataulfo de Paiva, em Ipanema, poderá acompanhar a “Caravana da Esperança”. Projeto da Orquestra Maré do Amanhã, o trio elétrico com 16 instrumentistas — de cordas, flautas, cajon e guitarra — vai animar as ruas da Zona Sul com repertório eclético, desde clássicos a ícones da MPB, como Chico Buarque. Com partida marcada para às 9h, o trio também vai passar por Copacabana e no Leme. Nesta apresentação, uma sinfonia de 18 minutos com músicas do Michael Jackson é a novidade.

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Segundo o regente e coordenador artístico, Filipe Kochi, à frente da orquestra desde 2012, a apresentação sairá após muito ensaio para se acostumar ao movimento do carro. A adaptação ao novo palco, ele conta, só foi possível depois que um patrocinador ofereceu tablets para substituir os papéis das partituras, o que resolveu o problema da ventania e da iluminação. Como único músico do trio em pé, Kochi ainda precisa se equilibrar enquanto rege a orquestra. Porém, ele afirma, o retorno do público vale todo esforço diante do desafio.

— Na última apresentação, por exemplo, fiz surf rodoviário. E as pessoas gostaram muito. Assistiam à orquestra pela janela, filmaram. Via que estavam emocionadas, principalmente quando tocamos Roberto Carlos e outros artistas brasileiros. É um momento em que a gente está tentando levar alegria, mas de forma respeitosa, pois sabemos que muitos perderam parentes e amigos para a Covid-19 — disse ele, lembrando que os músicos estarão a uma distância de um metro e meio entre si, como preveem as medidas restritivas da cidade.

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Formado como músico violonista, Kochi conta que a escolha do repertório privilegiou a música popular e as canções tocadas no show do Rock In Rio, de 2019, quando os artistas subiram ao Palco Favela. A setlist de domingo inclui: Pixinguinha, Beatles, Paralamas do Sucesso e um medley de Tom Jobim, entre outros. Segundo o fundador da orquestra, Carlos Eduardo Prazeres, o grupo ainda pretende percorrer uma vez por mês outras localidades do Rio, como ruas dos subúrbios da Leopoldina e da Zona Oeste.

Caravana da Esperança no último dia das mães, em Copacabana
Caravana da Esperança no último dia das mães, em Copacabana Foto: Reprodução

— Nossa intenção foi intercalar músicas atuais com músicas clássicas para agradar todos os gostos. No dia, uma van leva os músicos da sede na Maré, às 7h30. A grande maioria dos participantes estão na orquestra desde 2012 e estão sempre em evolução: chegam como alunos, e aqueles que demonstram mais talento são convidados a integrar a orquestra. Alguns chegam a virar monitor pela qualidade que apresentam. O projeto auxilia esses talentos financiando cursos para o seu desenvolvimento.

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Acompanhado de seu violino, Caio Fiama, de 17 anos, chegou aos 10 à Orquestra Maré do Amanhã. Morador de Xerém, Fiama entrou no projeto através da mãe, que, segundo ele, sempre o incentivou a perseguir a carreira artística. Quando criança, ele conta, fez aulas de violão e piano, mas foi pelo violino no violino que encontrou sua vocação. No entanto, ainda mais novo, foi recusado em uma escola de música, onde os professores disseram que ele não tinha habilidades musicais. Mas isso apenas o motivou mais:

— Estudei muito depois disso. Até que fiz uma prova para a orquestra, quando fiz escalas musicais e toquei uma música do filme Piratas do Caribe para o Filipe. Fui aprovado e a minha família sempre me incentivou a continuar. Há uns três anos, consegui me apresentar ao público pela primeira vez com a orquestra e o sentimento foi muito gratificante: de me empenhar e conseguir tocar para aquelas pessoas — lembrou Fiama.

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O jovem talento é um dos cerca de seis mil alunos que já passaram pela Orquestra Maré do Amanhã. Segundo Prazeres, o projeto faz um trabalho de base nas escolas municipais, onde são lecionadas aulas de músicas para crianças nas creches e é feito um acompanhamento com aquelas que apresentam aptidão para música. Conforme eles vão crescendo e evoluindo musicalmente, Prazeres e a Secretaria de Educação convidam os jovens a participar das aulas teóricas, práticas e os ensaios na Maré:

— Tem vários meninos que tocam lá, mas estudam Comunicação, Psicologia, Direito e outros. Fundei a escola em homenagem ao meu pai, que era compositor. Ele me convidou para fazer parte de uma orquestra social, com a missão de levar a música para as favelas e aquilo me tocou. Durante anos fizemos o trabalho, mas em 1999 ele foi sequestrado e assassinado. O corpo foi jogado em São Cristóvão e o carro deixado na Vila do João. A gente nunca ficou sabendo nada sobre a morte dele. Mas se quem matou ele foi teimoso de deixar o carro na Maré, eu fui mais teimoso ainda e fiz a orquestra em memória ao legado dele.





Fonte: G1