ONG Escola de Gente ganha prêmios da ONU por ações voltadas para pessoas com deficiência


Escolher uma peça ou um filme para assistir em família pode parecer algo trivial, mas se torna desafiador quando se procura um espetáculo com acessibilidade. Durante anos, a profissional de marketing Verônica Almeida, de 44 anos, teve dificuldades para encontrar opções de entretenimento para a filha, Isabela, de 11 anos, que perdeu a visão aos 3. A solução veio na forma de um aplicativo: o Vem Cá, desenvolvido pela ONG Escola de Gente. Com ele, a agenda cultural de cidades por todo o Brasil é acompanhada de informações sobre que tipo de acessibilidade é oferecido em cada programação. Iniciativa que pode fazer diferença para milhões de pessoas e que acabou premiada pela ONU.

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No mês passado, o Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas (Undesa) selecionou boas práticas consideradas fundamentais para apoiar os esforços de recuperação da pandemia da Covid-19 e acelerar o progresso em direção ao cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Dos 400 projetos recomendados pela ONU no mundo, 12 são da América Latina, sendo quatro do Brasil. Desses, dois são da Escola de Gente, incluindo o Vem Cá.

— O aplicativo foi um divisor de águas para minha família. Antes, a gente procurava um evento e nunca sabia se teria audiodescrição ou alguma acessibilidade. Quando descobri o Vem Cá, resolvi muitos problemas em casa — conta Verônica.

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A jornalista Claudia Werneck, fundadora da ONG, conta que o aplicativo foi lançado em setembro de 2019, justamente com esse objetivo de levar as informações sobre espetáculos acessíveis ao público.

— Percebemos que o Brasil começava a praticar acessibilidade, mas as pessoas com deficiência não sabiam e nunca estavam no espetáculo. Os produtores faziam um dia de espetáculo com Libras, por exemplo, e não ia ninguém. A gente via que eles queriam avançar nesse terreno, mas, como as pessoas com deficiência não iam, começaram a ver a acessibilidade como um problema — explica ela.

Claudia Werneck pensa soluções para ampliar a acessibilidade
Claudia Werneck pensa soluções para ampliar a acessibilidade Foto: Divulgação

Transmissões on-line

Para reverter esse quadro e estimular a presença das pessoas com deficiência, o aplicativo passou a reunir o serviço detalhado sobre a acessibilidade em cada espetáculo. A outra boa prática que levou a ONG a ser premiada propõe respostas nesse mesmo âmbito. É o projeto “Hiperconexão Inclusiva — Informação acessível também é linha de frente”, que possibilita que as transmissões de lives sejam completamente acessíveis.

— Quando começou a pandemia, vimos uma inundação de lives . Logo percebemos que elas não eram acessíveis e que não havia plataforma que permitisse canais para as três acessibilidades mínimas: audiodescrição, libras e legenda. Começamos, então, a trabalhar em uma solução para isso — diz Claudia.

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Resultado: a primeira live plenamente acessível da internet brasileira foi transmitida no dia 2 de abril de 2020 pela Escola de Gente, chamando a atenção de empresas e de produtores.

Executivo da IBM e fundador do canal Cuida Digital, no YouTube, Luiz Farah se viu impactado pela inovação da Escola de Gente. E, ao convidar Claudia para participar de uma live, foi desafiado a promover uma transmissão completamente acessível.

— Achávamos que fazíamos live para todos. Mas não oferecíamos a audiodescrição, por exemplo. Claudia me acendeu essa luz de que realmente não estávamos dando oportunidades a todos — conta Farah, cujo canal passou a realizar as lives de forma 100% inclusiva.

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Para Claudia, o reconhecimento da ONU em relação aos dois projetos da Escola de Gente mostra que a ONG segue os rumos certos.

— Ficamos felizes, porque essa é a prova de que estamos em um caminho inovador em relação ao mundo, não só ao Brasil — diz ela.





Fonte: G1