No Centro, reviravolta para atrair moradores; veja como foi debate


Duas semanas após o Reviver Centro ter sido sancionado pelo prefeito Eduardo Paes, o plano de revitalização urbana e incentivo à construção de moradias começa a dar frutos para o Rio. Ontem, foi anunciado o primeiro licenciamento na região de um empreendimento residencial no âmbito do projeto. A novidade foi antecipada pelo secretário municipal de Planejamento Urbano, Washington Fajardo, durante o debate do “Reage, Rio!”, realizado pelos jornais O GLOBO e Extra, com o apoio de Rio de Mãos Dadas e Fecomércio RJ.

Transmitido nos sites e redes sociais de ambos os jornais, o encontro abordou expectativas para o futuro do Centro, com desafios superlativos pela frente, mas também repleto de oportunidades. A live foi mediada pela repórter especial Maiá Menezes, e teve justamente o Reviver como um dos temas principais, apontado como saída para reestruturar uma área fortemente afetada pela pandemia. Reformas de prédios antigos, requalificação urbana e uma nova dinâmica que substitua a atual, majoritariamente comercial, foram apostas discutidas por autoridades, especialistas e empresários para atrair moradores à região.

Enquanto tratava do assunto que Fajardo recebeu a confirmação do novo residencial. Segundo a secretaria municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação, ficará na Rua Irineu Marinho 52. Será um edifício misto de sete pavimentos, com 121 apartamentos do tipo estúdio, além de uma loja no térreo.

— Essa é uma boa notícia que acabei de receber: o primeiro licenciamento que pediu enquadramento nas condições do Reviver Centro. Hoje, a região funciona oito horas por dia e fica vazia nos fins de semana. Mas queremos que funcione 24 horas. Vamos trabalhar muito para que não apenas o Centro, mas toda a cidade volte a ser próspera e com alegria — disse Fajardo.

O secretário Washington Fajardo no debate do Reage,Rio!
O secretário Washington Fajardo no debate do Reage,Rio! Foto: Reprodução

Ele explicou que, durante décadas, foram proibidas obras para construção de moradias no Centro, afastando esse ramo do mercado imobiliário. A virada prevista, porém, tem o objetivo de aproveitar a infraestrutura que o coração do Rio fornece, principalmente, no que tange aos modais de transporte público, com uma rede de ônibus, metrô, trens, VLT e barcas.

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Segundo os debatedores, o sucesso do primeiro empreendimento residencial no vizinho Porto Maravilha se configura como um dos termômetros positivos para a esperada mudança de ares do Centro do Rio. Em duas semanas, os primeiros apartamentos do novo condomínio foram totalmente vendidos. Segundo Leonardo Mesquita da Cruz, vice-presidente Comercial da Cury Construtora, responsável pelo negócio, o perfil dos clientes foi, sobretudo, de casais com ou sem filhos, atuais moradores de todas as regiões da cidade, da Baixada Fluminense, de Niterói e de São Gonçalo. Ele conta que se surpreendeu com a renda familiar média dos compradores, de cerca de R$ 8 mil, valor acima do previsto inicialmente.

— Existe hoje um modelo de habitação mais moderno, com área de lazer, que a região não oferecia. No dia 6 de agosto, abriremos a segunda fase (de vendas), com mais 370 unidades. E já temos a aprovação de mais 800 unidades no Porto — contou Mesquita.

Além de novos edifícios, no entanto, lembrou-se que o Reviver se sustenta na criação de moradias por meio de projetos de retrofit, ou seja, com a recuperação das construções antigas e clássicas da região. E a área do Castelo foi indicada como uma das mais favoráveis ao modelo, segundo explicou Fajardo, devido à estrutura de prédios comerciais que se assemelham à de residenciais. Nesse cenário, Pedro Wähmann, presidente do Secovi Rio, destacou que alguns marcos históricos e arquitetônicos desse trecho do Centro já estão no rumo da revitalização, como o antigo Clube Ginástico Português e a Casa Villarino, onde Tom Jobim e Vinicius de Moraes selaram parceria.

— A recuperação do Centro é emblemática porque é uma região por onde passou a História do país, de onde a cultura foi irradiada — disse Wähmann.

Agência de desenvolvimento

Uma preocupação, no entanto, foi levantada. Em paralelo ao crescimento da demanda por moradia, foi ressaltada a necessidade de oferta de serviços e estabelecimentos comerciais do cotidiano dos bairros, como supermercados e padarias. Em resposta, para desburocratizar o ponto de partida de novos empreendimentos, o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Vinicius Farah, anunciou a criação de 13 agências de desenvolvimento em todo o Rio, a partir de setembro. Uma delas ficará no Centro e terá em um só lugar 11 órgãos onde será possível dar entrada em licenças comerciais, abrangendo pequenos e grandes negócios.

— Queremos criar um ambiente favorável de negócios no Centro, agilizando todo o rito processual. Quando você traz novos moradores, aumenta a movimentação do comércio local, e é necessário que o Estado se faça presente— explicou Farah.

O VLT passa pela rua Sete de Setembro
O VLT passa pela rua Sete de Setembro Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

Os participantes da live lembraram ainda que a região já é o endereço de vários estabelecimentos comerciais tradicionais, considerados atrativos locais. Para os sebos, por exemplo, a prefeitura tem ideias: após a retomada da cidade, com a imunização contra a Covid-19, vai agregá-los às feiras que ocorrem no bairro. Na visão de Rui Campos, diretor da Livraria da Travessa, a revitalização passa essencialmente pelo apoio a esse comércio de rua:

—É o que viabiliza os centros das cidades. E o Rio tem uma variedade que não se encontra em todos os lugares. É difícil ver algo tão potente como a Saara.

Participantes do debate sobre os desafios e as oportunidades do Centro
Participantes do debate sobre os desafios e as oportunidades do Centro

Outros aspectos que, segundo os debatedores, precisam ser enfrentados são os sociais e de ordenamento urbano. A grande presença de ambulantes foi um dos alvos das discussões. Atualmente, a prefeitura do Rio realiza um projeto piloto em Bonsucesso, na Zona Norte, para a organização dos camelôs. Em caso de êxito, disse Fajardo, a medida pode ser replicada no Centro.

Já Wähmann ressaltou que a área tem espaço para atacar um dos maiores desafios da cidade, o déficit habitacional. Ele levantou a possibilidade de construção de moradias sociais na região. Quanto ao flagelo das pessoas em situação de rua, tão dramático no Centro, Fajardo contou que, entre as ações do Reviver, é discutida uma nova forma de acolhimento. Em vez de abrigos em que elas só podem passar a noite, é avaliada a criação de vagas de moradia assistida a longo prazo:

— Quando a pessoa tem uma oportunidade de se estabelecer por mais tempo, ela consegue uma reinserção mais plena.





Fonte: G1