Na pandemia, iniciativas sociais tornam menos difícil a situação de quem está precisando de ajuda e transforam vidas


“O que eu faço é uma gota no meio de um oceano. Mas sem ela, o oceano será menor”. A frase atribuída à Madre Teresa de Calcutá é o que move o advogado Israel Oliveira, de 55 anos, e várias outras pessoas ou grupos de amigos que, com o seu trabalho de formiguinha, têm feito a diferença na vida de muitas pessoas necessitadas desde que a pandemia se instalou.

Todos os sábados pela manhã, o morador do Grajaú e a mulher dele, a também advogada Virgínia Cortez, de 36 anos, colocam na calçada de sua casa, na Rua Canavieiras, uma mesa com sanduíches, café e leite, com a mensagem: “Amigo catador e irmão de rua, bom dia! Tome um café, coma um lanche que preparamos especialmente para você. Mas não esqueça: outros irmãos irão comer também”.

— Moro no bairro há 16 anos e, observando essas pessoas da minha varanda, fiquei sensibilizado e me deu vontade de fazer algo por elas. Se todo mundo juntar suas gotas teremos um oceano de solidariedade — diz Israel.

Israel em suas preparações em casa
Israel em suas preparações em casa Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo

Israel monta uma mesa de café da manhã na porta de sua casa, no Grajaú
Israel monta uma mesa de café da manhã na porta de sua casa, no Grajaú Foto: Hermes de Paula

A iniciativa começou há pouco mais de um mês. Na semana seguinte, os vizinhos passaram a contribuir. Hoje, são distribuídos semanalmente 80 kits. Os sanduíches são embalados para quem quiser comer depois poder levar. O público inicial eram os catadores, mas a iniciativa atraiu também garis, outros trabalhadores e moradores de rua.

Sempre que sai para pedalar pelo Jardim Botânico, onde mora, ou pela Lagoa, a jornalista Chris Martins, de 56, coloca numa mochila roupas, meias, agasalhos e cobertores que já não usa mais ou que recebe de doação. Pelo caminho vai distribuindo a quem precisa.

— Muitas vezes o que a gente faz pode parecer pouco. Mas, se mais pessoas fizerem o mesmo, se torna uma coisa grande —afirma.

Projeto Liga du Bem doa alimentos a quem mais precisa
Projeto Liga du Bem doa alimentos a quem mais precisa Foto: Hermes de Paula

Projeto Liga du Bem doa alimentos a quem mais precisa
Projeto Liga du Bem doa alimentos a quem mais precisa Foto: Hermes de Paula

No começo da pandemia, Chris liderou uma mobilização para doar quentinhas aos moradores da comunidade do Horto. A ideia era que vizinhos e amigos doassem pelo menos uma, que devia ser comprada num restaurante do bairro. Foi também a forma de ajudar o comércio local, num momento em que estavam com as portas fechadas, por conta das medidas de restrição. A campanha solidária chegou a distribuir mais de 600 quentinhas.

No começo da pandemia o advogado Thales Boechat, de 31, ficou preocupado com a situação dos moradores de rua. Com a ajuda da namorada, resolveu fazer 20 sanduíches de queijo e presunto para distribuir, junto com guaraná natural e chocolate. A iniciativa chamou a atenção de alguns amigos, que se ofereceram para ajudar. Eles formaram a Liga du Bem, que hoje inclui Thamires Freitas, Jéssica Vallim, Augusto José, Caio Campos e Maria Carolina Fonseca.

Apoiar o próximo dá liga

A Liga du Bem se reúne a cada 15 dias e distribui nas ruas do Centro 120 kits com quentinha, sanduíches, guaraná, frutas e material de higiene.

—No começo via reportagens na TV mostrando pessoas passando necessidades e me perguntava por que ninguém fazia nada. Ao mudar a pergunta para “por que eu não fazia nada?” resolvi ir para a rua. O pouco que a gente faz já é alguma coisa —acredita o advogado Thales, morador do Flamengo.

Aline faz doação de roupas
Aline faz doação de roupas Foto: Arquivo pessoal

Em Campo Grande, o aposentado Gabriel Teixeira, de 66, faz a entrega de quentinhas a quem precisa
Em Campo Grande, o aposentado Gabriel Teixeira, de 66, faz a entrega de quentinhas a quem precisa Foto: Arquivo pessoal

Em Campo Grande, a família de Aline Pacheco, de 38, é que faz diferença. Uma vez por semana, ela e a mãe Rosângela, de 59, assumem o fogão para preparar de 15 a 20 quentinhas. A entrega cabe ao pai, o aposentado Gabriel Teixeira, de 66. Além disso, Aline reúne roupas e agasalhos e, uma vez por mês, monta um varal solidário ao lado de sua lojinha em Inhoaíba, onde um cartaz avisa “Pegue o que precisar”.

— São ações muito domésticas e simples, mas feitas com muito amor. É a forma que a gente encontra para fazer o bem — resume Aline.





Fonte: G1