Na Baixada, famílias vão às ruas e mantêm tradição de São Cosme e Damião


Nem a pandemia impediu a tradição de pegar doces de São Cosme e Damião, neste domingo, na Baixada Fluminense. Desde as 8h, dezenas de famílias foram para as margens da Rodovia Washington Luís, em Duque de Caxias, garantir seu saquinho de guloseimas.

Para a cuidadora de idosos Tânia Rodrigues, de 59 anos, sair com as crianças no dia 27 de setembro é sagrado. Hoje, ela repete a tradição com as netas Sabrina, de 12, e Bruna, de 8.

— Faço isso há 36 anos, idade do meu filho mais velho. Sempre levei meus seis filhos para pegar doce. Agora venho com minhas netinhas — contou Tânia, enquanto aguardava por mais doces na altura do Parque Duque.

Para a auxiliar de serviços gerais Deise Lúcia Oliveira, de 43 anos, a data é tão importante que ela faz de tudo para que os filhos Diovana, de 11 anos, e Alexsandro, de 2, não fiquem sem seus doces:

— Sempre que dá, levo meus filhos. Quando estou trabalhando, eles vão com minhas irmãs. O importante é não perder a tradição.

Ao contrário de muitas mães, a dona de casa Carla Cristina da Silva, de 32 anos, começou a pegar doces depois de adulta. É que ela só aderiu à tradição quando o segundo filho, Enzo, de 5 anos, nasceu:

— Quando ele nasceu, parei de trabalhar e comecei a levar os dois. Não tinha costume de pegar doces quando criança. Para eles é uma diversão. Ficam contando os dias e naquela expectativa.

Tânia pega doces há mais de 30 anos. Na foto, com as netas Bruna e Sabrina, e a vizinha Diovana
Tânia pega doces há mais de 30 anos. Na foto, com as netas Bruna e Sabrina, e a vizinha Diovana Foto: Cíntia Cruz

Se o sorriso é garantido no rosto de quem ganha, a felicidade é ainda maior para quem distribui os doces. A explicadora Leda Café, de 52 anos, percorre as ruas com seus saquinhos há 30 anos. A ação que começou como uma promessa para os santos acabou virando compromisso:

— No início foi para pagar uma promessa pela saúda da minha sobrinha, que teve meningite. Depois, tomei gosto. Hoje em dia é mais difícil dar doces. Muitas crianças não pegam porque os pais não deixam ou não gostam.

Acompanhada pelo marido, Wanderlei Café, de 56, e a filha, Rosa Maria, de 15, ela faz questão da presença da família. Mesmo com a pandemia, Leda disse que estava determinada a distribuir os saquinhos:

— Em nenhum momento pensei em não distribuir. Mesmo que fosse em um lugar mais afastado, eu daria os doces.

Leda começou a dar doces por promessa, mas depois gostou da tradição
Leda começou a dar doces por promessa, mas depois gostou da tradição

Já o autônomo Laudemir Almeida, de 40 anos, cogitou quebrar a tradição que segue há 15 anos. Mas decidiu arriscar e levar 200 saquinhos de doces à criançada do Parque Beira-Mar:

— Não fiz promessa. Só dou doces para ver a alegria no rosto das crianças. Pensei em não vir esse ano por causa da Covid, mas eu não tinha os números aqui em Caxias. Decidi distribuir.

Casa Porto distribuiu saquinhos por delivery
Casa Porto distribuiu saquinhos por delivery Foto: Divulgação

Casa Porto distribui doces por delivery

Na Casa Porto, a distribuição este ano foi por delivery. O bar que fica na Saúde, Zona Portuária do Rio, optou pelo serviço para respeitar as normas de distanciamento social. Quem optou pelo serviço pagou a taxa de entrega mais R$ 0,01 para garantir seu saquinho. Ao todo, foram 150.

— Nós fazemos a distribuição gratuitamente de doces há sete anos. Em 2020, por conta da pandemia resolvemos usar o Ubereats, já que por lá não há pedido mínimo e podemos cadastrar os saquinhos por um centavo. Até temos nosso delivery independente, mas são poucos entregadores pela demanda — explicou Raphael Vidal, proprietário da Casa Porto.

Num altar dentro do bar, há uma imagem de São Sebastião, padroeiro da cidade do Rio de Janeiro. Hoje, fora colocados doces e guaraná, uma tradição da Umbanda.

Raphael disse ainda que quem decidir levar sua criança para almoçar na Casa Porto também vai ter um saquinho garantido:

— Nós preparamos um bobó de camarão e um PF infantil de bife com fritas e a sobremesa é um saquinho de São Cosme e Damião também. O saquinho não será cobrado.

Docinhos e guaraná no altar da Casa Porto
Docinhos e guaraná no altar da Casa Porto Foto: Divulgação





Fonte: G1