Museu Nacional celebra doações de quase 500 peças expositivas


A direção do Museu Nacional lançou nesta quinta-feira, dia que marca o terceiro aniversário do incêndio que devastou a instituição, a campanha nacional e internacional para recomposição do acervo do museu. Espera-se que o museu seja reaberto para visitação em 2026. Durante o evento on-line, foram apresentados alguns dos cerca de 500 novos itens expositivos recentemente doados para as futuras mostras, segundo a direção, como, por exemplo, coleções etnográficas indígena e africana e a coleção de moluscos que pertencia ao cantor Nando Reis.

— Talvez o projeto “#MuseuNacionalVive” seja o mais complexo já realizado na cultura do nosso país. Um trabalho incrível está sendo realizado para a reabertura do museu — destacou Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional, que apresentou um vídeo que pede a ajuda de colecionadores e instituições nacionais e internacionais com a doação de peças. — Nós temos recebido o aporte direto e indireto de, pelo menos, 30 países, principalmente da Alemanha.

Coleção etnográfica africana que vai compor novo acervo do museu
Coleção etnográfica africana que vai compor novo acervo do museu Foto: Divulgação

Entre os novos itens estão 27 peças greco-romanas, doadas pelo diplomata aposentado do Itamaraty Fernando Cacciatore, uma coleção etonográfica africana, do pesquisador Wilson Savino; coleção etnográfica indígena, de Tonico Benites, uma coleção de moluscos do músico Nando Reis; e uma doação do professor do Museu Nacional João Pacheco com a Coleção Luckesh, do Universal Museum Janneum de Graz (Áustria). A ideia é recompor os quatro circuitos expositivos: histórico (mil peças), universo e vida (4.500 peças), diversidade cultural (2.500 peças) e ambientes brasileiros (2.000 peças). A estimativa é que as novas exposições ocupem um área de cerca de 5,5 mil metros quadrados.

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Kellner afirma que a reconstrução avança com a conclusão de serviços essenciais à preservação deste patrimônio. Segundo ele, laboratórios serão responsáveis pela recuperação do acervo egípcio, por exemplo. Do material retirado, ainda de acordo com o diretor, foram mais de 5 mil lotes, que podem ter um ou centenas de exemplares contidos.

— A campanha é uma estratégia para reafirmar a importância da democratização do conhecimento. Afinal, o Museu Nacional, desde a fundação, é um centro de pesquisas dedicado às ciências naturais e antropológicas. E, mais do que nunca, queremos ser um museu de História Natural e Antropologia inovador, sustentável e acessível, que promova a valorização do patrimônio científico e cultural e que, pelo olhar da ciência, convide à reflexão sobre o mundo — declarou o diretor.

Fóssil do acervo no Museu Nacional
Fóssil do acervo no Museu Nacional Foto: Divulgação

A assistente social Marlova Jovchelovitch Noleto, diretora e representante da Unesco no Brasil, destacou a finalização da reforma do Jardim das Princesas e do Paço de São Cristóvão e a importância educacional do Museu Nacional. Além disso, lembrou que a Unesco tem contribuído com o desenvolvimento de pesquisas bibliográficas, iconográficas e textos para exposições futuras, assim como identificando acervos de interesse para cada circuito expositivo.

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— Esse trabalho dos últimos três anos não foi banal. As contribuições representam muito. São esforços tocados por muitas mãos amigas estendidas na mesma direção. Quando se perde parte de um museu, se perde parte da história da humanidade. Ainda mais num museu escola, como é o caso do Museu Nacional. E não é fácil resgatar isso.

A professora Denise Pires de Carvalho, reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), classificou a reconstrução do Museu Nacional como “um sonho coletivo que virou realidade” e mostra otimismo:

— Precisamos aprender com os erros do passado para que eles não voltem a acontecer no futuro. Nós temos trabalhado com resiliência e capacidade de adaptação que trarão uma instituição ainda mais forte, moderna e interativa. Que o nosso museu perdure durante toda a nossa existência. A comunidade acadêmica é apaixonada e resiliente.

Peças históricas estão no acervo do museu
Peças históricas estão no acervo do museu Foto: Divulgação

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Três anos após o incêndio, a direção e a UFRJ — responsável pelo espaço — ainda lutam para alcançar a verba necessária para a restauração do palácio. Até aqui, já foram arrecadados 65% do custo (R$ 380 milhões).

Desde 2018, o Museu Nacional recebeu R$ 244,8 milhões em doações do Bradesco, do BNDES e da Vale — os três principais doadores privados, via Lei Rouanet —, além do MEC, que aportou R$ 18 milhões para intervenções emergenciais logo após o incêndio, da Alerj e de emendas parlamentares. Segundo Kellner, há conversas para que a bancada dos deputados federais do Rio faça uma nova emenda de R$ 56 milhões.

Ainda este ano, fachadas e telhado do bloco 1 — o maior e mais importante do palácio — começam a ser restaurados, um trabalho previsto para ficar pronto no fim do ano que vem. Apesar das dificuldades orçamentárias, agravadas também pela inflação dos preços dos metais usados em obras, a expectativa é que o centenário do museu, em 2022, tenha comemorações já em espaços externos com a presença do público. Sobre as ações especiais, está sendo discutida a possibilidade de um show de luzes na fachada.

Jardim das Princesas previsto para setembro de 2022

Outra ideia é a abertura do Jardim das Princesas, espaço a que o público não tinha acesso antes do incêndio e que passa por intervenções custeadas pela Unesco. Foram seis meses de trabalho especializado, envolvendo cerca de 50 profissionais, incluindo consultores, arquitetos e restauradores dedicados à conservação de ornatos de salas históricas do Paço de São Cristóvão; da escadaria monumental de mármore; e de pisos e pinturas murais.

Fontes, guirlandas, bancos e tronos também receberam os serviços. O trabalho executado pela Construtora Biapó, vencedora de licitação coordenada pela Unesco, resultou ainda na feitura de 45 moldes de ornamentos escultóricos e 75 perfis/modelos para reprodução de frisos, sancas, cimalhas e molduras de 29 ambientes.

Divisão em quatro blocos

O projeto de reforma dividiu o palácio em quatro blocos. O primeiro, da frente, teve seu restauro contratado, e começa este ano. As obras nos outros três setores ainda estão em fase de projetos, elaborados pelo escritório técnico da UFRJ, e só devem ser entregues no ano que vem. Já foi construído um prédio para o setor administrativo do novo campus de ensino e pesquisa, onde foram instalados contêineres para receber as peças recuperadas do incêndio. Uma obra em curso é a da nova biblioteca central, prevista para terminar em fevereiro do ano que vem.





Fonte: G1