Morre, aos 78 anos, a jornalista e professora Angela do Rego Monteiro


Em meados da década de 90, uma multidão lota o Country Club de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, para ouvir dicas de etiqueta e estilo. À frente da iniciativa, ao lado de duas amigas, está Angela do Rego Monteiro, uma das jornalistas de moda mais respeitadas do país. Em um projeto ousado, o trio havia decidido falar sobre esses temas a públicos normalmente não tão habituados a eles. O sucesso foi tanto que, nos meses seguintes, as três viajaram por várias cidades, repetindo as palestras.

— Era uma coisa de sair da sociedade do Rio, da Zona Sul, para ir ensinar a arrumar mesa, a se vestir, a receber pessoas… Foi um momento inesquecível — lembra a idealizadora Léa Penteado, também jornalista. O terceiro elemento da ação foi Celina de Freitas, hoje integrante do Instituto Zuzu Angel de Moda:

— Na época, foi algo muito à frente do tempo. E a Angela sempre foi assim, visionária. E tinha um humor sarcástico delicioso, além de uma integridade de caráter ímpar.

Formada em jornalismo pela PUC do Rio, Angela começou a carreira no “Jornal do Brasil”, a convite de Alberto Dines, de quem foi aluna. Pouco depois, transferiu-se para o jornal “O GLOBO”, onde trabalhou no suplemento feminino e, em 1964, aos 21 anos, ajudou a fundar o caderno “Ela”, do qual chegou a ser editora. Também chefiou toda a parte de moda da editora Bloch por oito anos.

— Ela foi minha professora de Comunicação e Moda, e a responsável por uma geração de estilistas e figurinistas comprometidos com as tensões da vida contemporânea. Hoje, dou aulas justamente na disciplina à qual a Angela me apresentou. É uma lacuna enorme que se abre em nossas vidas — diz Samuel Abrantes, figurinista teatral e professor da Escola de Belas Artes da UFRJ.

— Angela foi incentivadora de grupos de moda nacionais, especialmente no Rio. Tinha uma grande rede de contatos entre os maiores estilistas cariocas. Ela iluminou a minha carreira, assim como inspirou a outros inúmeros jornalistas. Além disso, é a madrinha do meu filho, uma querida amiga. Fez e fará uma falta imensa — conta a jornalista de moda Ruth Joffily, que também foi aluna de Angela.

Angela do Rego Monteiro trabalhou com Ricardo Boechat por duas décadas
Angela do Rego Monteiro trabalhou com Ricardo Boechat por duas décadas Foto: Reprodução / Facebook

Após uma curta pausa no jornalismo, em que atuou numa empresa de publicidade, Angela retornou ao “GLOBO” para trabalhar com o colunista Ricardo Boechat, de quem se tornou grande amiga. Mais tarde, a estudantes da PUC, onde deu aula por mais de uma década ao deixar o jornalismo diário, explicou assim a opção por, à época do convite feito por Boechat, retornar à profissão anterior:

“Trabalhar com propaganda é lindo, mas nada substitui, para quem gosta, a adrenalina do trabalho em uma redação”.

A parceria com Boechat durou duas décadas, e fez com que Angela virasse referência também no chamado colunismo social. Após a morte do amigo, vítima de um acidente de helicóptero em 2019, assinou, com outros jornalistas, o livro “Boechat, toca o barco”.

— Foi a grande indicação que eu fiz — brinca a jornalista Anna Ramalho, responsável por apresentar, na ocasião, Boechat à amiga de décadas.

Angela do Rego Monteiro era apaixonada pelo Fluminense
Angela do Rego Monteiro era apaixonada pelo Fluminense Foto: Reprodução / Facebook

Angela era integrante do Conselho de Cultura da Arquidiocese do Rio de Janeiro, nomeada por Dom Eugênio Sales. Aos 78 anos, ela morava sozinha no apartamento onde criou a família, em Laranjeiras, ao lado da sede do Fluminense, clube pelo qual era apaixonada. Também adorava o Angu do Gomes, tradição da gastronomia carioca.

Há pouco mais de duas semanas, Angela passou mal ao descer de um táxi, na porta de casa, e foi levada para a Clínica São Vicente, na Gávea. Após 17 dias internada, morreu na tarde desta terça-feira, em decorrência de uma embolia pulmonar. A jornalista deixa dois filhos, três netos e um belo legado.

O velório acontecerá nesta quarta-feira, a partir das 13h, na capela 09 do Crematório da Penitência, no Cemitério do Caju, na Zona Portuária do Rio. Às 18h30, o corpo será cremado.





Fonte: G1