Moradores de rua que viralizaram nas redes recebem documentos na Fundação Leão XIII


Após o EXTRA mostrar a delicadeza com que os moradores em situação de rua Guilherme Lúcio de Oliveira, de 30 anos, e Rodrigo Lysias de Oliveira Lima, de 32, cuidam dos objetos pessoais no espaço onde vivem, no Centro do Rio, uma equipe do Projeto de Atenção Socioassistencial às Pessoas em Situação de Rua da Fundação Leão XIII esteve no local para que os amigos dessem entrada na emissão da segunda via das certidões de nascimento.

Os dois moram há três meses embaixo da marquise do Clube Militar e dizem buscar apenas uma oportunidade de recomeçarem a vida.

Nesta segunda-feira (8), a certidão de Guilherme já estava pronta. Com isso, ele deu entrada para emitir a carteira de identidade no Posto de Identificação Civil das Pessoas em Situação de Rua, na própria sede da Fundação Leão XIII, em parceria com o DetranRJ, no Centro, preparado para atender pessoas em extrema vulnerabilidade.

No último sábado (6), uma equipe da Secretaria municipal de Assistência Social do Rio também esteve com os dois. Foi ofertado acolhimento institucional, não aceito por eles, entre outros serviços, como hidratação, alimentação, máscaras e álcool em gel. “A pasta continuará conversando com eles, pois o objetivo é que, a partir da assistência em espaço da prefeitura, sejam vistas as necessidades de reinserção social encaminhamento para o mercado de trabalho”.

Os dois amigos cuidam dos objetos e roupas de cama como forma de terapia
Os dois amigos cuidam dos objetos e roupas de cama como forma de terapia Foto: Marcia Foletto / Agência O Globo

Eles montaram uma espécie de “casa na rua” que chamou a atenção de quem passa pela região devido ao cuidado com que organizam as roupas de cama, itens pessoais, brinquedos e materiais de limpeza.

— Tudo que tenho, encontrei no lixo. Menos o material de limpeza, que ganho ou compro. Eu tinha vergonha de que os outros me vissem jogado na rua, por isso resolvi arrumar tudo. A limpeza, quase que diária dos objetos, é uma forma de terapia para mim. Aqui é tudo bem cuidado — conta Gulherme, que vive na rua há quase três anos.

O projeto da Fundação Leão XIII conta com educadores e assistentes sociais que realizam o trabalho técnico de abordagem, promovendo uma série de ações, como acesso à documentação e referenciamento para atendimento em unidades de saúde e assistência do município, e até mesmo acolhimento institucional. Lançado há cerca de um ano, quase 14 mil pessoas já foram assistidas. Já o Posto de Identificação Civil já realizou mais de 220 atendimentos em quase quatro meses.

Vidas nas ruas após cumprirem pena por tráfico

Após cumprir pena por tráfico, Gulherme foi liberado em 2018 e não encontrou nas ruas a oportunidade que precisava para recomeçar a vida. Ex-morador de uma comunidade na Zona Norte do Rio, tentou ser ajudante de pedreiro e trocador de van, mas não conseguiu se estabelecer e foi para a rua. Por conta do tráfico, não pode voltar para o bairro onde morou. Quem compartilha a rotina com Guilherme é o “irmão de rua” Rodrigo, que também foi condenado e preso por tráfico.

Diariamente os dois varrem a calçada e trocam as roupas de cama. Eles deixam claro: não gostam de sujeira e organização é essencial.

— Somos chatos com as nossas coisas. Lavamos as roupas e colchas lá no MAM (Museu de Arte de Moderna, no Aterro do Flamengo), onde tomamos banho. Aqui é só uma fase, vai passar — acredita Rodrigo.

Guilherme e Rodrigo varrem a calçada onde moram há três meses
Guilherme e Rodrigo varrem a calçada onde moram há três meses Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo

A comida, quando não distribuem quentinhas, pedem em restaurante.

— Nós não temos vergonha de pedir se for preciso — diz Guilherme.

A vida nas ruas não foi capaz nem de tirar o bom humor dos dois.

— Uma mulher que passou aqui na rua falou “nem lá em casa é arrumado assim” e ficou zoando o marido dela — conta Guilherme, que ri e lembra de outra história: — Já ouvi pessoas na farra da noite, bêbadas, dizendo que dariam tudo para dormir nas nossas camas.

‘Reparem o cuidado, o capricho’: foto repercute nas redes

A história dos dois chegou a viralizar também nas redes sociais. Uma foto tirada pelo artista visual Marcos Chaves foi parar no Instagram da atriz Drica Moraes: “Foto tocante. Muito desemprego, muito morador de rua. Percebam o capricho e o cuidado com essa ‘casa de rua'”. O vereador Chico Alencar (Psol) tambem publicou uma foto nas redes sociais, tirada por Fabio Pereira. “Reparem o cuidado, o capricho, a limpeza. Ninguém gosta de morar na rua. Ninguém deseja isso”.

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Fonte: G1