Moradores de diferentes municípios da Baixada Fluminense se alimentam diariamente no restaurante popular de Caxias


A fila para o almoço no restaurante popular de Duque de Caxias começa a se formar por volta das 10h, pouco depois de terminado o café da manhã. Muitos que já fizeram a primeira refeição do dia ficam pelas imediações à espera da abertura para o prato principal do dia. Ao todo, cerca de duas mil pessoas passam pelo local, todos os dias, para aproveitar a chance de comer por R$ 1.

Na fila, adultos, crianças, grávidas e idosos, a grande maioria em situação de vulnerabilidade social, aguardam por aquelas, que muitas vezes, serão as únicas refeições do dia. Morador de São João de Meriti, Samuel Cunha, de 64 anos, sobrevive como catador de materiais recicláveis. Desde a abertura do restaurante, em março deste ano, ele alterou o caminho que costumava fazer para recolher os objetos e agora anda até Caxias, onde faz seu primeiro descanso e almoça. A comida é paga com que ele junta no trajeto.

— Recolho uma dúzia de garrafas plásticas ou cinco pedaços de papelão pelo caminho e o almoço já está pago. É o que eu faço todos os dias e farei enquanto puder. Saio bem alimentado e continuo o trabalho — conta Seu Samuel.

Boa parte dos frequentadores do restaurante é da Favela do Lixão, que fica atrás do prédio. O movimento pelas vielas que ligam a comunidade à entrada do restaurante se assemelham a uma romaria a partir das 11h da manhã. Grávidas de 6 e 7 meses, respectivamente, as primas Lorena Malaquias, de 21 anos, e Indayara Silva, de 19, estão se alimentando no local desde sua abertura.

— Foi importante ter esse restaurante aqui, porque conseguimos uma comida de qualidade. É complicado arrumar uma forma de sustento nesse período de pandemia, e a alimentação em casa acaba ficando comprometida. Venho aqui com meus irmãos e primos. Na verdade, quase toda a comunidade vem almoçar aqui. Sou muito grata a esse restaurante — diz Lorena.

Frequentador assíduo, o aposentado Jorge Martins, de 64 anos, vai ao restaurante desde a inauguração. Viúvo, ele aproveita o café da manhã e o almoço para espantar um pouco a solidão desses tempos de pandemia e conversar e interagir com outras pessoas, mesmo que apenas durante o tempo das refeições:

— A comida é muito boa, e quando é assim o cliente sempre volta. O pessoal é atencioso e os pratos são fartos. Espero que fique assim por muito tempo. É bom também porque a gente aproveita esse tempo do almoço para conversar com outras pessoas. É uma terapia, né? A gente ouve histórias, conta as nossas… Já fiz algumas amizades na fila e, quando dá, a gente combina horário para almoçarmos juntos.

Segundo a nutricionista Priscila Carvalho, que trabalha no restaurante, a cozinha tem capacidade para fazer duas mil refeições por dia, mas há planos para aumentar para três mil até o meio do ano e cinco mil até o fim de 2021.

Agradecimentos emocionam a equipe

A gratidão aos funcionários costuma emocionar quem trabalha no restaurante. Responsável pelo cardápio, a nutricionista Priscila Carvalho mostrou uma carta, recebida de um senhor que almoça todos os dias na unidade, e que serve de estímulo para a equipe.

— A gente vê muita gente pobre, que precisa mesmo disso aqui. As pessoas felizes felizes por comerem um ovo, uma linguiça, coisas que para nós parecem tão comuns e normais, e para eles é algo inacessível. Mexe com o coração — relata Priscila:

— Teve um senhor que passou a frequentar o restaurante e nos deu uma cartinha agradecendo pela oportunidade de poder almoçar. Eu chorei muito, isso emociona demais. Nós guardamos aqui como um troféu e para nos estimular a sempre a fazermos o melhor.

A nutricionista Priscila Carvalho mostra a carta que recebeu de um senhor que frequenta o restaurante.
A nutricionista Priscila Carvalho mostra a carta que recebeu de um senhor que frequenta o restaurante. Foto: Maria Isabel Oliveira

O cardápio costuma ser definido sempre com um mês de antecedência. O café da manhã, geralmente, é pão com manteiga, café, leite e uma fruta. Já o almoço conta sempre com as opções de arroz ou macarrão, feijão, salada e duas opções de proteína, além de refresco. No dia da visita do EXTRA, os clientes podiam escolher frango ou linguiça.

A dona de casa Angela Cabral, de 49 anos, sai do Parque São José acompanhada pela filha, Raquel Monteiro, de 16, para almoçar no local. Ela é só elogios ao cardápio:

— A comida é sempre muito boa, melhor do que muitos restaurantes por aí. Além de tudo, o lugar é limpo e bem decorado. Gosto muito de almoçar aqui. Venho duas vezes por semana, mas planejo vir mais.





Fonte: G1