Moradora de Nova Iguaçu que se alimenta por sonda há nove meses faz vaquinha por cirurgia


É nos dias quentes que a analista de sistemas Gabriella Lopes, de 31 anos, mais sente falta de beber água. Há nove meses, ela não pode comer nem beber nada, desde que surgiu uma fístula traqueoesofágica, durante uma internação de mais de dois meses. Após quase um ano, ela tem a chance de reverter a situação. Mas a cirurgia custa caro, e a moradora de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, lançou uma vaquinha na internet para arrecadar o valor.

O drama de Gabriella começou no dia 31 de março de 2020. Duas semanas antes, ela havia dado à luz a pequena Júlia num hospital particular, em Nova Iguaçu. Dias depois, a menina foi internada com Covid-19. Também com sintomas da doença, Gabriella teve um AVC e foi parar no CTI.

— Tive parada cardíaca, fui entubada e fiquei em coma por 46 dias. Ao todo, foram sete paradas cardíacas. A fístula surgiu durante a traqueostomia que foi feita numa tentativa de me salvar. Só tive alta no dia 12 de junho. Já voltei para casa no home care — conta Gabriella, que perdeu parte do movimento do lado esquerdo, em decorrência do AVC.

Em casa, Gabriella faz tratamento com fisioterapeuta, fonoaudióloga e psicóloga. Ela voltou a andar há dois meses, mas ainda com auxílio. A alimentação ocorre por meio de uma sonda que leva a comida diretamente para o estômago. A impossibilidade de sentir o sabor só não causa mais sofrimento do que não poder assumir os cuidados da filha, Júlia, que completa dez meses nesta segunda-feira.

— A gravidez da Júlia foi surpresa, mas sempre sonhei com a maternidade. Minha maior vontade é operar e cuidar da minha filha. Sempre fui muito ativa, não ficava um fim de semana em casa — lembra.

Grávida, Gabriella posando para foto em praia
Grávida, Gabriella posando para foto em praia Foto: Arquivo pessoal

Desde que voltou para casa, Gabriella e sua mãe, Fátima Regina Almeida, de 56 anos, começaram a procurar cirurgiões que pudessem fazer a cirurgia para fechar a fístula. Tentaram cinco profissionais, mas nenhum deles quis fazer o procedimento. Mas, há um mês, surgiu uma esperança.

Em dezembro, conseguimos um médico que quis fazer a cirurgia. Foi o único que pegou meu caso e deu uma solução, mas ele não atende o meu plano — lamentou Gabriella.

A cirurgia custa R$ 30 mil. Desempregada, Gabriella foi orientada por uma amiga a criar uma vaquinha on-line para conseguir o valor. O link para ajudar é https://www.vakinha.com.br/vaquinha/vivagabi/contribua.

Gabriella com a mãe, Fátima, e Júlia, sua filha
Gabriella com a mãe, Fátima, e Júlia, sua filha Foto: Arquivo pessoal

Procedimento será feito após pandemia

Além do valor para custear a cirurgia, outro obstáculo para realizar o procedimento é a pandemia da Covid-19.

— O ideal é operar no hospital que tenha cobertura do meu plano, mas vamos ter que esperar a onda da Covid-19 passar. Tenho medo de me internar e pegar de novo. Outra parada eu não aguento — contou a técnica em enfermagem.

Enquanto isso, ela segue sua rotina de consultas e cuidados médicos. Em novembro do ano passado, chegou a entrar no centro cirúrgico para tentar fechar a fístula, mas o procedimento acabou não acontecendo:

— Quando o cirurgião viu o real tamanho da fístula, me tirou do centro cirúrgico na intenção de buscar auxílio com outros profissionais. Antes, já tinha feito duas tentativas de grampeamento para fechar a fístula, mas foi sem êxito.

Sua mãe, Fátima Regina, foi quem assumiu todos os cuidados com a netinha, Júlia. Ansiosa para que o drama da filha chegue logo ao fim, ela narrou a tristeza de ver Gabriella em comemorações de família.

— No Natal, fizemos a ceia, mas não foi na frente dela. A gente tinha que comer escondido. É triste ver um filho querendo comer e beber, e a gente não poder fazer nada — lamentou Fátima.

Desde que voltou para casa, Gabriella tem atendimento home care
Desde que voltou para casa, Gabriella tem atendimento home care Foto: Cléber Júnior / Agência O Globo





Fonte: G1