Menino com doença rara realiza o sonho de estar na cozinha com Claude Troisgros


O adolescente Isaac Nogueira Castelo Branco observava o pai e a avó cozinhando desde criança, quando começou a se interessar pela culinária. Aos 14 anos, poucas semanas antes de fazer um transplante de rins, o menino realizou um grande sonho: conhecer um chef renomado e visitar a cozinha de um restaurante profissional. O encontro, há cerca de dois meses, foi possível com a ajuda do Instituto Rope, uma ONG que se dedica a realizar sonhos de pacientes acometidos por graves doenças, em parceria com o Prontobaby – Hospital da Criança, na Tijuca, Zona Norte.

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Isaac foi diagnosticado com uma síndrome nefrótica quando tinha um ano e seis meses de idade, resultado de uma complicação de catapora. Aos 12, precisou ir para a hemodiálise em decorrência da evolução do quadro. Segundo a mãe, Heleniza Nogueira Castelo Branco, o menino sofreu com infecções generalizadas em duas ocasiões antes de conseguir realizar o transplante dos órgãos.

Instituto Rope realiza sonho de menino de 14 anos, com rins transplantados, de conhecer o chef Claude Troisgros
Instituto Rope realiza sonho de menino de 14 anos, com rins transplantados, de conhecer o chef Claude Troisgros Foto: Divulgação / Instituto Rope

O encontro com o chef Claude Troisgros, realizado no restaurante Chez Claude, no Leblon, Zona Sul, ocorreu pouco depois da cirurgia de transplante de rins. Heleniza conta que, inicialmente, a data marcada era outra, mas Isaac teve uma complicação e precisou ser internado novamente na ocasião. No fim, o encontro aconteceu em abril, quando Isaac pôde visitar o estabelecimento e conversar com o chef e toda a equipe do restaurante.

— Ele sempre teve um amor muito grande pela cozinha. Via todos os programas de TV — relata a mãe. — Eu fiquei apaixonada por esse trabalho em que ajudam pessoas que não têm mais esperanças. Foi uma coisa muito bonita. O sonho dele era conhecer um grande chef de cozinha.

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A paixão pela culinária, que começou desde criança, ajudou o garoto morador de Anchieta, na Zona Norte, a passar por todas as dificuldades. Antes da última internação, quando passou 51 dias no hospital, Isaac criou um canal no YouTube dedicado à gastronomia. O garoto conta, em um dos vídeos publicados, que o assunto sempre rendia boas conversas com a equipe médica e que essa era uma maneira de vencer o tédio de ficar internado.

— Eu falava das minhas receitas com as enfermeiras e os médicos quando eu estava internado. Era um jeito de passar meu tempo também, porque era bem chato ficar no hospital — relata o menino no canal com 468 inscritos.

O encontro com a equipe de Troisgros encorajou ainda mais o menino, que garante que quer seguir a carreira de chef quando crescer.

— Eu pretendo seguir carreira como chef de cozinha, sim. O encontro foi um grande aprendizado pra mim.

Instituto Rope realiza sonho de menino de 14 anos, com rins transplantados, de conhecer o chef Claude Troisgros
Instituto Rope realiza sonho de menino de 14 anos, com rins transplantados, de conhecer o chef Claude Troisgros Foto: Divulgação / Instituto Rope

Sonho de ir para casa

As dificuldades decorrentes da Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), doença que acomete o sistema neurológico dos pacientes, não impediram a psicóloga Sheila Cristina Gomes Beites, de 53 anos, de realizar o sonho de dar um passeio de moto – mais especificamente, em uma Harley Davidson, famosa marca de motocicletas e admirada por aficionados e colecionadores. O passeio, realizado de forma virtual, já que Sheila está internada desde o início do março no Hospital Gaffrée e Guinle, também foi possível com a ajuda da ONG Rope, e ocorreu em maio.

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Como Sheila não pode se mover, a equipe da ONG, em conjunto com o hospital e com o grupo de motoqueiros H.O.G. Rio Charpter, preparou uma experiência única para a paciente. Com a utilização de óculos de realidade virtual, Sheila pôde assistir, direto do hospital, às imagens registradas de um passeio de moto pelas praias da cidade, pelo Alto da Boa Vista e da Floresta da Tijuca.

Instituto Rope realiza sonho de mulher com esclerose lateral amiotrófica a passear, virtualmente, de motocicleta
Instituto Rope realiza sonho de mulher com esclerose lateral amiotrófica a passear, virtualmente, de motocicleta Foto: Divulgação / Instituto Rope

Para se comunicar, Sheila usa um ábaco com letras, montado pelo marido, o professor Roberto dos Santos Beites, de 52 anos. Ao GLOBO, Roberto transmitiu a mensagem da psicóloga sobre a experiência vivida, ainda que virtualmente.

— Ela chorou muito no momento, ficou muito emocionada e curtiu a beça. Ela resumiu a experiência a duas palavras: fantástico e fabuloso. Algo que ela jamais vai esquecer.

O diagnóstico da doença de Sheila veio no final de 2020. Segundo Roberto, o quadro de Sheila evoluiu muito rapidamente, com a perda dos movimentos das pernas poucos meses após a descoberta da doença.

— Foi por volta de outubro do ano passado que nós nos deparamos com esse problema. A doença acelerou de uma forma muito rápida — conta o professor do estado. — No início de março, ela já não andava mais e teve de ser internada no hospital. Desde então, estamos aqui.

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Apesar de o sonho de Sheila de andar de moto ter sido realizado, o professor garante que há ainda outros que a esposa deseja realizar um dia:

— Ela vem enfrentando muitas dificuldades por conta da progressão da doença. Mas ela tem sonhos, ainda hoje. O principal é ir para casa.

A ONG Rope atua no Brasil há cinco anos, inspirada em uma iniciativa holandesa. O Instituto se propõe a realizar os desejos de pessoas com doenças graves e tem investido em ações semelhantes em outros estados, além do Rio de Janeiro e São Paulo. No Rio, já foram mais de 60 sonhos realizados, com a ajuda de voluntários e de doações.

— Cada um desses sonhos deixa o que eu chamo de tatuagem emocional. É uma marca que deixa na gente e que é inesquecível. Cada um te ensina alguma coisa e te dá um olhar diferente, de forma de que você consiga ver o mundo de forma mais colorida — diz o idealizador do Instituto Rope, Roberto Palmeira. — É uma grande bobagem agradecer a gente. No final das contas, nós somos os grandes ganhadores, nós quem ganhamos uma emoção que vicia, que é única para cada um de nós.





Fonte: G1