Mãe é tudo igual? Antigas frases usadas por elas viram meme, e outras marcam os novos tempos na educação dos filhos


Virou meme na última semana: um professor faz a chamada e pede que os alunos, em vez de responderem “presente”, falem uma frase repetida em casa pela mãe. “Você não é todo mundo”, “leva um casaquinho”, “juízo, hein”, “come uma saladinha”… A cada resposta, a turma toda gargalha, porque reconhece a sua própria mãe nas dos colegas. Afinal, elas só mudam de endereço, já diz o ditado. A brincadeira passou a ser repetida por docentes nas salas de aula, uma homenagem àquelas que, com essas recomendações que atravessam gerações, demonstram o cuidado e o amor incondicional celebrado hoje, Dia das Mães.

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Se algumas das famosas “frases de mãe” caíram em desuso com a mudança na forma de educar os filhos, dando-lhes mais voz e autonomia e tornando-se mais gentil do que em tempos passados, é fácil reconhecer que, por trás de uma bronca está a intenção de guiar para uma vida saudável e independente. A chefe comercial Elaine Brustolin, de 45 anos, não perde a oportunidade de falar uma frase de efeito aos filhos Piettro, de 22, Giullia, de 19, e Manuella, de 17. Sempre que procuram algo e não encontram, recorrem a Elaine, que lança: “Se eu for aí e achar, eu vou jogar no lixo”. Na mesma hora, o trio cai na gargalhada.

— Mãe tem manias porque quer passar valores para os filhos. Às vezes, entra por um ouvido e sai pelo outro, mas sempre que digo a frase eles procuram mais e acabam achando o que queriam — conta a mãezona do trio.

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Para a educadora parental Claudia Alaminos, algumas expressões já se tornaram tão cômicas que não têm o poder de dar sermão. Outras como “em casa a gente conversa”, caso realmente haja um diálogo posteriormente, são importantes para levar o filho a repensar suas atitudes. Contudo, aquelas que podem soar agressivas, devem ser evitadas para cultivar uma boa convivência familiar.

— Mesmo que o adolescente ache chata a repetição, a frase do casaco é importante ser dita, porque ele sente que é amado. Mas outras frases vão perdendo o efeito conforme o filho cresce. É importante educar com base nos limites, sem ameçar ou punir — explica.

Elaine (à direita) tem um trio: Piettro, Manuella e Giullia
Elaine (à direita) tem um trio: Piettro, Manuella e Giullia Foto: Arquivo pessoal

Adepta da educação não-violenta, uma tendência da maternidade, a influenciadora e ex-masterchef Margarida Arcebispo, de 72 anos, aprendeu com a mãe a artimanha de inventar falas de efeito. Conhecida nas redes sociais por recordar as histórias de sua infância em Minas Gerais, Margarida diz que agora que os filhos já são adultos, os “ditados de mãe” viraram divertidas recordações:

— A mãe tem quase o dom de prever a chuva e o frio de tanto que ama o filho. Meus filhos falavam: “Você já falou isso”. E eu respondia: “Mas eu tenho que falar agora porque depois que eu morrer não vou mais falar”. Eu achava até graça, mas sem rir para não dar asas.

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Entre as recordações que marcaram a assistente social Adriana Arcebispo, de 43 anos, filha de Margarida, está a cobrança para escovar os dentes. Hoje, ela acredita que o método não tem efeito com a nova geração, mas agradece pela educação que teve, baseada no afeto:

— Ela dizia que, se não escovássemos os dentes, iam cair todos, ficaríamos banguelas e sem conseguir comer carne. Eu tinha medo e corria para o banheiro. Hoje, ensino meus filhos com diálogos mais realistas. Mas tudo o que sou hoje se deve aos cuidados da minha mãe.

Novos tempos, novas expressões

Se o pedido de beijo de boa noite e as ordens para participar das tarefas domésticas não caem nunca em desuso, os novos tempos têm trazido ao repertório da maternidade novas frases que adolescentes já reconhecem como “de mãe”. “Manda foto da festa para eu ver como está aí” ou “manda mensagem quando chegar” e ainda “não mexe no celular quando estiver na rua”, são o novo “não esquece o guarda-chuva”. E outras coisas vêm mudando no universo da maternidade.

Segundo Claudia Alaminos, especializada em adolescentes, o cuidado às vezes exacerbado da mãe faz parte da cultura na qual as mulheres são as principais responsáveis pelos filhos. Quando não há a figura paterna, elas se cobram para manter a segurança e a educação até de jovens que já entendem o certo e o errado.

— Desde o homem primitivo, são as mulheres que cuidam das crianças. Ao compartilhar experiências entre elas, foram aprendendo a reproduzir cuidados que se configuram no chamado instinto maternal. Quanto mais os homens começarem a participar da vida dos filhos, mais vamos ter as “frases de pai” — pontuou.

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Já com uma nova mentalidade sobre criação de filhos, Adriana Arcebispo conta que sua relação com Dandara e Akins, de 3 e 10 anos, se baseia em permitir que eles experimentem o desconforto de uma “rebeldia”, mas os acolhendo em seguida.

— Recentemente, a Dandara não quis colocar uma blusa de frio para não estragar o look. Expliquei por que era necessário e, após alguns minutos sentindo frio, ela quis colocar. Levo uma maternidade baseada no diálogo, porque sei o custo da terapia — brinca.

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De acordo com a neuropsicóloga Francilene Torraca, apesar das boas memórias que as “expressões de mãe” podem trazer, repensar o modo de falar com os filhos forma adultos mais saudáveis.

— Mães e pais têm se esforçado para apresentar uma melhor maneira de se comunicar com seus filhos, questionando o próprio comportamento e pensando duas vezes no que vão dizer a eles.





Fonte: G1