Livro infantil conta história do Quilombo de Bongaba, em Magé


“A história do Quilombo Quilombá de Bongava começa em 1696 com a construção da Igreja de Nossa Senhora da Piedade do Inhomirim, na cidade de Magé. Nessa época, muitas famílias escravizadas sobreviviam nessa terra, sendo obrigadas a trabalharem em atividades rurais e na construção da Igreja”, assim explica o livro infantil “Quilombo Quilombá: uma história de resistência do Ilé Àse Ògún Àlákòró”, escrito pelo babalorixá Pai Paulo José de Ògún.

Com ilustrações do quilombola Felipe Carvalho Mateus, o livro, que é um produto da Lei Aldir Blanc, conta de forma resumida a história dos mais de 300 anos de resistência dos descendentes de africanos escravizados que vivem em Bongaba. O Quilombo é reconhecido e certificado pela Fundação Palmares desde 2017. Segundo pai Paulo José, a ideia surgiu da necessidade de fazer com que as crianças da comunidade sintam orgulho de sua própria história:

— É para que as crianças desde já possam se sentir pertencentes e empoderadas, para que elas não tenham vergonha de dizer “eu sou quilombola”. Se as nossas crianças não entenderem quem elas são, o que elas fazem aqui, para que elas estão aqui, a gente perde tudo isso que se adquiriu. Elas precisam ter orgulho de quem são. Porque toda essa nossa história precisa ser contada desde pequeno e elas trazem esse compromisso de manter essa cultura.

BX Magé (RJ) 22/11/2021 Bábálórísá Paulo josé de ògún autor do livro Quilombo Quilombá Foto: Roberto Moreyra / Agência O Globo
BX Magé (RJ) 22/11/2021 Bábálórísá Paulo josé de ògún autor do livro Quilombo Quilombá Foto: Roberto Moreyra / Agência O Globo Foto: ROBERTO MOREYRA / Agência O Globo

No Quilombo Quilombá vivem cerca de 250 famílias com 800 crianças. Os livros foram distribuídos para escolas e bibliotecas, e pai Paulo José tem sido convidado para falar com estudantes sobre a importância da memória e história quilombola.

— Nesse mês de consciência negra poder ter lançado esse livro e ter essa repercussão nos trouxe muita alegria. A gente está caminhando para ocupar os espaços que a gente quer, onde a gente deve estar — afirma.

Para ele, reconhecer os quilombos como espaço de resistência é uma forma de reverenciar o legado dos povos africanos que foram trazidos à força para o Brasil.

— O Brasil deve muito à ancestralidade, ao povo preto em tudo aquilo que somos. Então é importante que os quilombos, de uma forma geral, sejam vistos como este lugar de resistência, de reparação, mas acima de tudo, do empoderamento que nós temos através de toda a colaboração que a gente traz, do legado deixado pelos nossos ancestrais, dos povos escravizados — explica.

O livro cita a liderança quilombola conhecida como Vovó Alzira, que fabricava esteiras que os quilombolas usavam para dormir. E lembra o entrave que a comunidade viveu com a criação do lixão de Bongaba, e o trabalho que desenvolvem com a reciclagem.

— O Quilombo de Bongaba foi invadido pelo processo do lixão que aqui tinha. Uma pessoa que está no livro, a Bia Nunes, fez um trabalho árduo em relação a isso criando estratégias para que isso acabasse — conta pai Paulo.

Rodas de capoeira, jongo e aulas de atabaque são tradições do quilombo que são passadas para as crianças no livro. A proposta é poder ensinar também para crianças não quilombolas que há outras formas de brincar além dos celulares, tablets e videogames:

— Além de estimular a leitura, nós não temos aqui o acesso tão fácil à tecnologia, então as nossas crianças não estão tão presas ainda a esses aparelhos eletrônicos. O fato de levarem isso para outras crianças é exatamente para tirá-las desse processo e elas verem que tem outros tipos de brincadeiras que podem fazer — explica o babalorixá.

Magé tem ainda outros dois quilombos certificados pela Fundação Palmares, o Maria Conga, e o Quilombo do Feital.





Fonte: G1