O sonho com o pódio começou nas ruas para um jovem da Zona Oeste e para um menino da Baixada Fluminense. O meio fundista Ezequiel Ambrósio Correia, de 22 anos, que disputa provas de 5km de distância, precisou pendurar um banner no pescoço e ir para os sinais do bairro de Santa Cruz pedir ajuda necessária para dar prosseguimento aos treinamentos. Já o pequeno lutador de jiu-jitsu Diogo Albuquerque Ferreira, de 10, teve de vender balas nas ruas de Nova Iguaçu, para tentar juntar os R$ 10 mil que precisava para bancar uma viagem em novembro até Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, para disputar um campeonato mundial. Os caminhos de ambos até a vitória ficaram mais curtos graças a exposição de suas histórias na internet, que atraiu interessados em ajudar.
Em pouco mais de um mês tentando chamar atenção de patrocinadores nos sinais de Santa Cruz e depois de ter uma foto viralizada na internet, Ezequiel começou a colher os frutos do seu esforço. Na emana passada, uma academia do bairro garantiu a ele uma bolsa de treinamento e um instituto do Recreio ofereceu ajuda para o transporte do jovem que mora em Sepetiba. Ele também ganhou do mesmo instituto um par de tênis novo e apropriado para treinar. Já o menino da Baixada abandonou a venda de balas nas ruas depois de ser procurado por um empresário da região que prometeu bancar todas as despesas da viagem para o campeonato, após se sensibilizar com a luta do garoto fora do tatame, propagada numa postagem nas redes sociais.
— A gente estava correndo atrás de patrocínio quando ele teve a ideia de vender balas para juntar o dinheiro para a viagem. Achei meio absurdo conseguir R$ 10 mil vendendo bala na rua, mas não podia jogar um balde de água fria e frustrar o sonho do meu filho. Então comprei as balas e uma caixa, coloquei a foto dele com o quimono e fomos para as ruas, onde ficávamos de três a quatro horas em pé no Centro do Rancho Novo, em Nova Iguaçu. Um amigo fotografou, postou nas redes sociais e marcou esse empresário que ofereceu ajuda — contou o pai do menino, o porteiro José Everton Leandro, de 33.
Depois da oferta, o menino abandonou as ruas para se dedicar exclusivamente aos estudos e aos treinos. Antes disse chegou a juntar apenas R$ 700. O empresário já fez o depósito do valor necessário para bancar as passagens de avião do pequeno atleta e de seu pai até Abu Dhabi. Também se comprometeu a custear hospedagem e alimentação. Antes disso, José Everton já havia recebido a oferta de hospedagem de um amigo que trocou a Baixada Fluminense, por Dubai, onde abriu uma academia.
Diogo treina desde os cinco anos e já acumula mais de 30 medalhas em competições pelo Brasil. O menino, que é faixa cinza e luta na modalidade médio para garotos entre 10 e 11 anos já é campeão brasileiro na sua categoria. Seu último título, de campeão sul americano, foi conquistado no último fim de semana, durante uma disputa no Parque Olímpico de Deodoro, na Zona Oeste. Em novembro, ele pretende embarcar para os Emirados Árabes, para sua primeira disputa em território estrangeiro.
— A importância desse campeonato para mim é que vou melhorar meu currículo. Se eu conquistar um título mundial vai abrir caminho para o Pan Kids, nos Estados Unidos, no ano que vem, e também para uma conquista ainda maior, que é a de me tornar campeão mundial absoluto na minha categoria, futuramente — prevê o garoto.
Sem qualquer tipo de apoio, o pai do menino, que ganha um salário mínimo como porteiro na Zona Sul, banca do próprio bolso academia, alimentação especial, nutricionista e transporte para o filho treinar, num custo total que beira os R$ 1 mil mensais. Com mais dois filhos de 8 e 7 anos, ele se desdobra fazendo bicos como lavador de carros e segurança, para investir no sonho do mais velho.
— Como pai tenho que investir. Não posso frustrar o sonho dele, por conta de dificuldades financeiras — diz, acrescentando que a mulher Daiana Lima Albuquerque, de 35, não pode trabalhar fora para cuidar dos filhos, mas sempre que dá também ajuda fazendo bicos cuidando de outras crianças.
Dos sinais de trânsito para as pistas
No caso de Ezequiel Ambrósio Correia, de 22, a falta de apoio para os treinamentos o levou a pendurar o banner no pescoço que espera ajudar a mudar seu destino. Antes era uma faixa. Uma foto postada nas redes sociais chamou a atenção da academia e de um instituto do Recreio. O rapaz acha que agora já dá para sonhar com o pódio. Mas, cauteloso, quer dar um passo de cada vez:
— No momento estou mais focado nas competições de rua, que dão mais visibilidade. Participei em abril de uma em Nova Iguaçu e, no mês passado, de outra no Aterro do Flamengo. Meu objetivo maior é um dia defender o Brasil num mundial ou numa olimpíada.
Fonte: Portal G1