Jornalista da Editora Globo vence Prêmio Kurt Schork por reportagens sobre violência policial na revista Época


O Prêmio Kurt Schork 2021 de Jornalismo Internacional anunciou nesta quarta-feira o jornalista Rafael Soares, da Editora Globo, como o vencedor na categoria Repórter Local. Ele foi premiado por três reportagens publicadas na revista ÉPOCA, entre julho de 2020 e fevereiro deste ano, sobre violência policial. É o primeiro brasileiro a ser laureado na premiação, organizada desde 2002 pelo Fundo Memorial Kurt Schork em homenagem ao jornalista americano morto em Serra Leoa, em 2000, enquanto trabalhava para a agência Reuters.

Soares concorreu com repórteres de diversos países, cujas reportagens foram avaliadas pelo editor-chefe da Reuters, Angus MacSwan, pela diretora do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo, Meera Selva, e pelo repórter da revista The New Yorker Jon Lee Anderson.

— Sua pesquisa, fontes e jornalismo são incontestáveis — afirmou Jon Lee Anderson, sobre o trabalho do brasileiro.

O repórter submeteu à mesa julgadora três reportagens publicadas na revista ÉPOCA. A primeira delas, datada de agosto de 2020, abordou a trajetória de Ronnie Lessa na Polícia Militar antes de ser preso pelo assassinato da vereadora Marielle Franco. O trabalho jornalístico revelou que o sargento foi acusado de envolvimento em sessões de tortura, mortes em operações e um desaparecimento forçado, mas nada disso apareceu em sua ficha disciplinar.

Reportagem sobre trajetória de Ronnie Lessa
Reportagem sobre trajetória de Ronnie Lessa Foto: Reprodução

A segunda reportagem, publicada em outubro de 2020, debruçou-se sobre a reabertura do inquérito das duas chacinas da favela Nova Brasília, no Complexo do Alemão, ocorridas nos anos 1990. O texto trouxe um levantamento da carreira de policiais identificados como autores de estupros e homicídios cometidos na chacina de 1994, quando 13 homens foram mortos, um deles com um tiro em cada olho.

Publicada em fevereiro deste ano, a terceira reportagem tratou da chacina do Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, em novembro de 2017. A reportagem trouxe à tona documentos inéditos que reforçam a participação de militares nas oito mortes e indicam que a operação pode ter tido a participação de agentes “ocultos”, que passaram ao largo das investigações.

Para Rafael Soares, mais importante do que ter as reportagens premiadas é receber o reconhecimento do Fundo Memorial Kurt Schork.

— É uma honra receber esse prêmio porque o Kurt Schork dedicou sua carreira a cobrir os horrores da guerra e problemas relacionados a direitos humanos, que é também a minha área de cobertura. Há dez anos eu atuo nessa área e é isso que me move no jornalismo. Fico muito feliz por ser premiado, mas mais ainda por ser reconhecido ao fazer aquilo que acredito, e por uma premiação que valoriza isso — afirma.

Rafael Soares, repórter da Editora Globo
Rafael Soares, repórter da Editora Globo Foto: Domingos Peixoto/24-04-2018

Outros premiados desta edição

Jason Motlagh, um jornalista iraniano-americano, ganhou o prêmio Kurt Schork Freelance por suas reportagens sobre o Afeganistão. As histórias de Motlagh fornecem informações valiosas sobre as realidades no terreno antes da retirada das forças dos EUA e da coalizão em agosto, enquanto suas reportagens investigativas sobre vítimas civis e destaque de ameaças aos trabalhadores da mídia afegã revelam claramente o custo humano da guerra. Os juízes elogiaram seu jornalismo corajoso em ambientes de alto risco, resultando em um corpo de trabalho que é “preciso, marcante e de enorme significado”.

O prêmio News Fixer deste ano vai para Khabat Abbas, da Síria. Essa categoria homenageia os jornalistas locais que são contratados para ajudar o trabalho de correspondentes internacionais em zonas de conflito – esses profissionais são chamados “fixers”, em tradução livre, consertadores, no sentido de que resolvem as coisas. Por meio de seu conhecimento local, ampla rede de contatos e habilidades de jornalismo, Abbas garantiu várias exclusividades para a mídia internacional que chegaram às manchetes, incluindo uma entrevista com três mulheres britânicas que ingressaram no Estado Islâmico. Como uma das poucas fixers no nordeste da Síria, os juízes destacaram como ela mostrou “determinação e uma ética de trabalho muito forte”, enquanto a creditava como “uma novidade brilhante, com um recorde impressionante de histórias de última hora”. Os juízes também reconheceram Abbas por “demonstrar dois talentos que distinguem os melhores fixers: eficiência suprema e empatia natural”.

Cada um dos três vencedores receberá um prêmio em dinheiro de cinco mil dólares. Devido à pandemia COVID-19, em vez de uma cerimônia de premiação física, a Thomson Reuters Foundation anunciará os vencedores em seus canais de mídia social (Twitter, Facebook, LinkedIn). Eles também realizarão um evento online em 20 de outubro, que contará com uma conversa com os vencedores dos prêmios 2020 e 2021.





Fonte: G1