Com a situação da pandemia de covid-19 mais controlada desde o surgimento da doença no mundo, em 2019, e a chegada dela ao Brasil no ano seguinte, as aulas presenciais puderam ser retomadas efetivamente neste ano de 2022. Mas as dificuldades do ensino remoto e as consequências das constantes interrupções das aulas nas escolas refletiram no desempenho dos estudantes no primeiro semestre letivo deste ano, o primeiro sem interrupções longas desde o surgimento do coronavírus.
Como estratégia para uma retomada eficiente das aulas pós período pandêmico, alguns professores têm adotado métodos alternativos e criativos para engajar alunos de todas as idades. Entre esses métodos, estão os já conhecidos jogos tanto lúdicos quanto digitais. Desde seu surgimento, os jogos têm atraído a atenção de crianças e adolescentes que veem nos games uma alternativa de diversão e descanso. Antes vistos como vilões do aprendizado, hoje podem ser aliados da educação.
Período de matrícula para os aprovados no Sisu encerra no dia 18 de julho
Primeiramente, é preciso esclarecer que o formato de gamificação nas aulas tem diferentes abordagens. Há as atividades lúdicas que, apesar de não serem os jogos em si, trazem elementos dos games, como sistemas de recompensa, ranqueamento de alunos e outros pontos. Existe também a aprendizagem baseada em jogos propriamente, com games que desenvolvem aprendizados ou habilidades específicas dos estudantes.
Gamificação como ferramenta estratégica
No bairro Trindade, em São Gonçalo, a professora e terapeuta Kennia Moreira Rangel Ferreira aplica seus métodos de gamificação em sua turma de alunos especiais no Colégio de Aplicação Dom Hélder Câmara. Kennia utiliza o método mais voltado para as atividades lúdicas que possam auxiliar seus alunos a fixarem os conteúdos dados em sala de aula e também ajudá-los no desenvolvimento de habilidades motoras.
Colégio Dom Hélder Câmara, na Trindade | Foto: Divulgação
“Como se trata de alunos especiais, precisamos ter sempre em mãos materiais concretos que tragam a eles um auxílio na fixação desses conteúdos.”, iniciou a professora. “Temos jogos mais elaborados que são comprados e solicitados na lista de material dos alunos e temos alguns que foram confeccionados por eles em atividades com a família, quando trabalhamos a importância de reutilizar e reciclar o lixo. Esse jogos ficam disponíveis na sala e, sempre que possível, utilizamos no fim do dia. Às vezes é livre e em muitos momentos é direcionado de acordo com o conteúdo trabalhado em sala de aula.”, completou Kennia, que também usa a imaginação para converter qualquer oportunidade e objeto em ferramenta de aprendizagem. “Além de jogos, utilizo muitos brinquedos cantados e instrumentos até de cozinha para trabalharmos: colheres, conchas, escorredor de macarrão, tudo vira brinquedo.”
Matheus Ceará se apresenta no Teatro Municipal de São Gonçalo neste sábado (16)
A importância dos brinquedos educativos
Para Kennia, as atividades lúdicas são ainda mais importantes agora, depois de um longo tempo de aulas online por conta da pandemia, já que a falta de interação e falta de movimento prejudicaram a aprendizagem e a evolução que os alunos vinham tendo.
“Os alunos passaram muito tempo em suas casas e sem muito movimento. O início desse ano foi bem difícil, muito comprometimento motor e cognitivo, além do social, questões como compartilhar e esperar a vez.”, acrescentou.
“Jogos vão além somente da cognição. Para alunos especiais, o jogo precisa envolver coordenação motora fina, coordenação motora grossa, cognitivo, social entre muitos outros fatores. A pandemia e as aulas online nos possibilitou ver que podemos ir muito mais além do que já íamos.”, completou Kennia.
Aulas de desenho e Math Game
Com o propósito de melhorar o rendimento dos alunos, o Instituto Jorqueira, de Niterói, também desenvolveu uma série de atividades complementares envolvendo gamificação.
Professora de Química com doutorado na disciplina, a educadora Alessandra Jorqueira explica que notou como os efeitos do isolamento foram prejudiciais ao ensino. Por isso, ela desenvolveu juntamente com a equipe da unidade, localizada em São Francisco, métodos práticos para aumentar o interesse dos alunos, como o Math Game e a aula de desenho.
“Desde a volta presencial das aulas, no segundo semestre do ano passado, que a gente percebeu a dificuldade que muitos alunos tiveram com o retorno físico à sala de aula. E isso aumentou muito no primeiro semestre deste ano, pois praticamente todos os estudantes retornaram fisicamente às escolas para valer. Então a gente desenvolveu o Math Game, que é para o aluno desenvolver o raciocínio e a concentração, além de aumentar o conhecimento através de jogos. São aulas dinâmicas e jogos projetados para estimular a investigação, despertar a curiosidade e revelar as maravilhas da matemática”, explica.
Em relação às aulas de desenho, Alessandra garante que a ideia não é fazer do método um mero hobby, mas usá-lo de forma séria como recurso para ajudar o estudante no desenvolvimento intelectual.
“Já a aula de desenho é para o aluno expandir seu raciocínio com o intuito de fazê-lo pensar. Não se trata de um mero hobby, mas tem a função de desmitificar a arte, tornando-a uma ferramenta básica para o crescimento psicológico, social e profissional do ser humano. E a aula não é só para criança, não. Todos os estudantes, sem exceção, participam. Incluindo os de ensino médio e os vestibulandos”, destacou Alessandra, acrescentando que ambos os métodos são válidos para “pessoas de todas as idades todas as idades, de 1 a 100”.
Ainda segundo Alessandra, tais métodos são importantes princípios para o ramo da Educação Multidisciplinar, pois eles ajudam no acolhimento e na capacidade de identificar e entender as necessidades individuais de cada aluno e com o intuito de ajudá-los a conquistar o almejado sucesso escolar.
Jogos criativos também no ensino superior
Os jogos como ferramenta lúdica de aprendizagem também podem ser vistos no ensino superior, em cursos livres, de extensão e de especialização. Um exemplo é o curso de extensão ‘Jogos de Escrita: exercícios práticos para a criação textual’, oferecido pela Puc-Rio, voltado para profissionais da educação, da escrita e áreas afins.
O curso online, que está com inscrições abertas até 29 de setembro, tem como metodologia a análise da obra de escritores e artistas; exercícios lúdicos de escrita, sob a forma de jogos; debates sobre as obras e os textos dos participantes, além de desenvolvimento de projetos pessoais.
Fonte: O São Gonçalo