Jardineiro se emociona ao ‘reviver’ seis dias de sufoco em ilha deserta; veja vídeo

Arrastado por uma onda no último dia 8, uma segunda-feira, quando passeava pelo Mirante do Roncador, na Praia de Grumari, o jardineiro Nelson Nedy Ribeiro, de 51 anos, voltou uma semana depois, acompanhado da equipe do EXTRA e em plena segurança, à Ilha das Palmas, onde relembrou os seis dias de angústia e medo que vivenciou no local. Ao lado dos bombeiros que o resgataram, ele contou detalhes do sufoco que passou até “renascer”. Agora, Nelson sonha terminar a casa onde mora e passar mais tempo com a neta.

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— Esses dias foram de muito terror. Na quarta-feira, eu já estava desesperado. Tentei sair de lá sozinho, porque eu pensei que fosse morrer lá — lembra o jardineiro, agora com um colete salva-vidas e dentro de um bote do Corpo de Bombeiros.

Caso usada por pescadores na Ilha das Palmas, onde o jardineiro Nelson Ribeiro ficou abrigado
Caso usada por pescadores na Ilha das Palmas, onde o jardineiro Nelson Ribeiro ficou abrigado Foto: Gabriel de Paula / Agência O Globo

A ilha fica a cerca de cinco quilômetros do mirante do Roncador, onde estava sentado quando uma onda forte o levou para dentro do mar, e a dois quilômetros e meio em linha reta da Praia da Reserva, onde avistava os banhistas sem, no entanto, ser visto. Foram surfistas que andavam de jet-skis que viram Nelson acenando com uma bandeira improvisada. Em seguida, chamaram por socorro.

No período de quase uma semana em que ficou isolado, Nelson virou-se com a água da chuva. Em todo esse tempo, mastigou apenas dois limões e um pedaço de carvão, tudo o que encontrou. Esses e outros detalhes ele relembrou, emocionado, ao chegar novamente à ilha.

— Só pensava em sair de lá, poder beber água à vontade — lembra.

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Parentes do jardineiro peregrinaram por hospitais e delegacias e foram até ao Instituto Médico-Legal (IML) atrás de seu corpo. O primeiro-sargento Alexandre Soares Bento, que participou do resgate, contou que o jardineiro caiu no mar num dia de ressaca e que a ilha onde foi parar é um lugar inóspito: — A gente vê só em filme. Na vida real, foi surpreendente ver que ele bebeu água do mar, água da chuva e está vivo hoje.

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O major Fabio Contreiras, porta-voz do Corpo de Bombeiros, diz que Nelson teve “sorte e habilidade”. — A corrente o levou até a ilha. Ele foi habilidoso e calmo, atletas profissionais muitas vezes morrem nessa situação.

Ainda sem acreditar que foi salvo, Nelson desabafa: — Voltando aqui eu lembro de tudo que aconteceu. É uma sensação ruim. Foram dias de desespero, passei os piores dias da minha vida aqui.

Pai de uma jovem de 23 anos e avô de uma menina, o jardineiro lembra que pensava na família e que falou com Deus. Ao ser resgatado, estava muito fraco e pouco respondia, conta o primeiro-sargento Bento: — Observamos ele, acompanhando os sinais vitais, a aeronave chegou e o levamos. A primeira frase dele foi se a filha sabia que ele estava lá.

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Nelson Ribeiro mostra as marcas da luta pela sobrevivência
Nelson Ribeiro mostra as marcas da luta pela sobrevivência Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

Alerta contra acidentes

O major Fabio Contreiras fez uma série de recomendações para quem quer apreciar o mar. Ele pede que as pessoas informem suas famílias quando forem à praia. No dia do acidente, o jardineiro não disse para a filha que pretendia ir à praia de bicicleta.

— A gente sempre recomenda que as pessoas fiquem nos mirantes, porque são locais seguros. Não desçam para as pedras e costões. As pedras e costões têm duas situações muito perigosas: ondas que surpreendem e acabam arrastando as pessoas para dentro do mar e as quedas. A recomendação é que não fiquei nas pedras em dias de ressacas e à noite. Nossos guarda-vidas sempre estão pedindo atenção das pessoas — explica o porta-voz dos bombeiros.

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Fabio Contreiras conta ainda sobre as particularidades do Mirante do Roncador, de onde Nelson foi levado pelas ondas.

— Em dias normais, temos as correntes de retorno. Essas valas estão perto das pedras e levam para o fundo do mar. Por mais que o mar esteja calmo, as pessoas podem ser vítimas. O limo é um facilitador para que as pessoas não consigam voltar à pedra.

Sobre o resgate de Nelson na ilha, o major reforça, ressaltando a sorte da vítima:— Esse fato é incomum. A corrente levou ele até lá.



Fonte: Portal G1