Idosa que precisava de CTI com aporte de hemodiálise foi mandada para ala de Covid-19, diz filha


O que parecia ser o fim de uma drama que já durava quase uma semana virou um novo problema para a família de Ieda Araújo de Campos, de 89 anos. A filha da idosa, que estava internada na UPA do Engenho de Dentro, desde terça-feira (6), disse que a mãe foi transferida neste domingo para uma CTI de Covid-19, no Hospital Pedro Ernesto, em Vila Isabel, apesar de não ter nenhum laudo indicando que a idosa tivesse contraído a doença.

Pelo contrário. Os dois laudos que ela tem em mãos, e que foram emitidos pelos médicos da UPA, apontam que a paciente deu entrada na unidade do município com quadro de insuficiência cardíaca, edema agudo pulmonar e insuficiência renal aguda. Os profissionais que a atenderam também atestaram a necessidade de transferência urgente para uma unidade hospitalar com suporte dialítico (hemodiálise), o que só aconteceu depois de duas interferências da Justiça, ambas no Plantão Judiciário deste fim de semana.

— Não é porque entrei com uma ação que vão colocar minha mãe em qualquer lugar. Não entendo isso. O Judiciário não tem poder? O juiz manda uma coisa e eles fazem outra e acham que está tudo bem? Não está tudo bem. Para mim aumentou o erro. Minha mãe hoje está num CTI, num hospital bom, mas não é o correto. O que vou fazer para resolver iss não sei — lamentou Maria Inês, que teme pela saúde da mãe.

Idosa foi internada após passar mal em casa
Idosa foi internada após passar mal em casa Foto: Arquivo pessoal

Ao passar mal na tarde de terça-feira, a moradora do Cachambi foi levada pela filha para a Clínica da Família, no Méier. De lá foi transportada com urgência por uma ambulância até a UPA do Engenho de Dentro. De acordo com o laudo médico emitido no mesmo dia, a paciente apresentava insuficiência cardíaca descompensada e edema agudo de pulmão, além de piora gradual da função renal. Pelo quadro da idosa ser considerado de risco, o laudo solicitava urgência na transferência de Ieda para uma unidade hospitalar com suporte dialítico, já que a UPA havia esgotado seus recursos no tratamento da aposentada.

— De acordo com o que a UPA me passou, o pedido de transferência foi feito na terça mesmo, no dia da entrada da minha mãe. Me falaram para eu ir para casa descansar, pois ela estava monitorada e era preciso esperar sair a transferência — disse no sábado a filha da paciente.

Porém, ao retornar à UPA do Engenho de Dentro pelo terceiro dia consecutivo, na última quinta (8), foi informada que o pedido de transferência de sua mãe havia sido negado pela Central Reguladora, sob a justificativa de falta de vagas nas unidades da rede pública. A partir da negativa, Maria Inês procurou o Plantão Judiciário, que determinou que a transferência fosse feita até a tarde de sábado (10), para unidade hospitalar com suporte dialítico da rede municipal, estadual ou particular, caso as duas primeiras se encontrem lotadas.

Apesar do documento exigir que a realocação fosse feita em até 12 horas, isso não aconteceu, o que levou Maria Inês a recorrer novamente ao Judiciário. Ela contou que chegou a ser informada na noite de sábado da existência de uma vaga no Pedro Ernesto, o que não se confirmou.

A professora disse que na mesma noite sua mãe foi levada numa ambulância para o Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, onde foi submetida a uma tomografia, que teria dado não conclusivo para Covid, segundo informação de um médico. No Pedro Ernesto, o médico da unidade teria dito que a paciente ficaria em isolamento para novo teste de Covid, cujo resultado seria informado posteriormente à família.

Depois de a paciente ter sido internada no Pedro Ernesto, a filha dela retornou à UPA, na tarde deste domingo, em busca do prontuário para ter acesso ao laudo e saber porque sua mãe foi transferida para uma CTI de Covid. Porém, saiu de lá com a informação de que o documento só será entregue em 15 dias.

Procurada, no sábado, antes da transferência da idosa, a Secretaria Municipal de Saúde havia informado, por meio de nota, que as centrais de regulação do município e do estado estavam na busca pela vaga e, assim que estivesse disponível, a paciente seria transferida. Ainda segundo a resposta, a paciente seguia sob cuidados na UPA Engenho de Dentro, com quadro estável, tendo apresentado melhora clínica na tarde de sábado (10). Procurada novamente neste domingo, a secretaria ainda não respondeu, assim como o Hospital Pedro Ernesto.





Fonte: G1