“O Censo brasileiro é uma das maiores operações censitárias do mundo, no sentido de visita domiciliar, de você bater de porta em porta e colocar 180 mil recenseadores na rua. O Censo não é do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É uma instituição que pertence ao Brasil. O IBGE coordena o Censo, mas é o Censo do Brasil.” A afirmação é do diretor de Pesquisas do IBGE, Cimar Azeredo, que, em entrevista à Agência Brasil, destacou a importância do 13º Censo Demográfico, que será iniciado amanhã (1º), com lançamento oficial no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, acompanhado por agências da Organização das Nações Unidas (ONU).
Para Azeredo, responder o Censo é um ato de cidadania. “É como votar, como tirar um documento. É fundamental que todo cidadão procure ser recenseado e receba o recenseador do IBGE.”
O Censo é uma operação importante para o país porque permite conhecer os detalhes de como a população vive, quantas são as pessoas e onde elas estão. “É importante para a sociedade, para o governo, para as empresas públicas e privadas, para os gestores públicos e da iniciativa privada. Se você vai abrir uma empresa em determinado município, precisa conhecer detalhes daquele município”.
Vacinas
Como exemplo, o diretor de Pesquisas chamou a atenção para a importância do Censo durante a distribuição de vacinas contra a covid-19. Sem o Censo atualizado, muitos prefeitos não sabiam exatamente qual era a população de suas cidades. Com isso, alguns municípios receberam vacina a mais e outros, a menos.
A pandemia foi ainda a responsável pelo adiamento do Censo, que deveria ter ocorrido em 2020. Para Azeredo, é fundamental atualizar o quantitativo da população em cada município. “Até porque toda distribuição do número de vereadores, do número de deputados, tudo isso corre em função dos números do Censo da estimativa de população”.
O 13º Censo Demográfico do Brasil será realizado durante dois meses e meio. A perspectiva é atingir 50% do país no primeiro mês (agosto) e 90% no segundo. O Censo deverá ser encerrado em outubro.
Os primeiros resultados preliminares relacionados ao tamanho da população por município devem ser publicados no dia 30 de dezembro deste ano. Os dados serão enviados ao Tribunal de Contas da União (TCU) para produção do Fundo de Participação dos Municípios e do Fundo de Participação dos Estados.
Geolocalização
Azeredo informou que o processo do Censo 2022 será feito 100% de forma digitalizada. “A gente está com um orgulho muito grande de ter conseguido fazer, desta vez, não só a coleta eletrônica, mas cada smartphone ou dispositivo móvel de coleta (DMC), utilizado para fazer o Censo, vai estar com um chip que vai permitir a transmissão direta dos dados coletados. Isso dá maior segurança”. Caso esses equipamentos venham a ser extraviados ou sofram algum acidente, a informação já foi transferida.
Outro ponto importante é que, para a entrevista, o cidadão precisa estar domiciliado. A expectativa é identificar 76 milhões de domicílios particulares, de acordo com o diretor de Pesquisas do IBGE.
Além disso, todas as casas serão geolocalizadas. Com isso, é possível saber com exatidão a quantidade de domicílios em determinado local. A ferramenta pode ser útil, inclusive, em situações de desastres como as ocorridas em Brumadinho, em janeiro de 2019, e em Petrópolis, em março deste ano.
“Se a gente tivesse captado, em 2010, as marcas de GPS, teria ali a marcação de todas as casas que foram afetadas pelas chuvas e ajudaria, inclusive, a Defesa Civil, a identificar onde poderia ter uma residência ou não. Essa é uma grande novidade do Censo brasileiro para maior segurança e cobertura da operação. Eu acho que é um dos pontos fundamentais do Censo essa captura das coordenadas de GPS”, afirmou.
Recenseadores
Todos os recenseadores do IBGE estarão identificados com boné, colete e crachá. Dentro do crachá há um QR Code que pode ser lido pelo celular. Com isso, o cidadão pode confirmar o nome e a foto do recenseador e verificar se ele pertence ao quadro de servidores do Instituto. Em caso de dúvida, basta ligar para o IBGE no número 0800 721 8181.
Questionário específico
Outras novidades introduzidas pelo Censo 2022 incluem a maior identificação de pessoas que vivem em comunidades quilombolas e em comunidades indígenas, que terão questionários específicos.
O Censo inclui também perguntas específicas para pessoas com deficiência e para pessoas diagnosticadas por profissional de saúde com transtorno de espectro autista (TEA).
O Censo é constituído de dois questionários: um menor, que demora cinco minutos para ser preenchido; e outro maior, que demora em torno de 16 minutos. Cerca de 10% da população vai precisar responder ao questionário mais completo.
Imigrantes
O diretor do IBGE afirmou que os imigrantes estarão dentro da população estimada de 215 milhões de pessoas no Censo 2022. Segundo ele, o número pode ser menor em razão do aumento da mortalidade e da queda da fecundidade no país.
Tendo em vista o elevado fluxo de venezuelanos que entram no país via Roraima, o IBGE está realizando um trabalho especial naquele estado por conta da Operação Acolhida e das pessoas abrigadas. Nessa tarefa, o IBGE conta com o apoio da Organização Internacional para as Migrações (OIM) e do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), ambas agências da Organização das Nações Unidas (ONU), para realizar o Censo em Roraima, com suporte do governo estadual.
A Operação Acolhida é uma operação deflagrada pelo Exército brasileiro desde fevereiro de 2018 que visa proteger os venezuelanos que atravessam a fronteira, prestando auxílio humanitário aos imigrantes venezuelanos em situação de vulnerabilidade, refugiados da crise política, institucional e socioeconômica que acomete a República Bolivariana da Venezuela.
Como há imigrantes em outros locais do Brasil, Cimar Azeredo informou que o IBGE segue o conceito de morador da ONU, referente à pessoa que tem um domicílio e não está afastada da residência por um período superior a 12 meses. “Com certeza, esse Censo vai ser muito importante para que a gente possa ter a identificação dessa população migrante no país”.
Tecnologia
O IBGE conta este ano com um data center para auxiliar no processamento das informações do Censo Demográfico 2022.
O arcabouço tecnológico desenhado para o Censo permitirá que os resultados sejam divulgados de forma mais célere, ao contrário do que ocorreu em edições anteriores.
A meta é publicar, no início de 2023, as primeiras informações. Em dezembro de 2022, serão divulgados resultados preliminares do Censo referentes à população. Os resultados sobre domicílio, pirâmide etária, escolaridade e mercado de trabalho serão disponibilizados ao longo do ano de 2023.
Ainda na estrutura tecnológica, há uma parte relativa à proteção e segurança dos dados. Toda a equipe do IBGE, que alcança cerca de 220 mil pessoas, foi treinada para mostrar os códigos de ética e boas práticas em relação a sigilo e confidencialidade.
Os dados dentro dos equipamentos estão criptografados e contarão com um sistema de proteção. Mesmo depois da realização do Censo, o IBGE tem uma política de sigilo e confiabilidade, além de comitês de ética, responsáveis por essa questão internamente.
“A população pode ficar tranquila que as informações não serão disponibilizadas nunca. A confidencialidade e o sigilo das informações fazem parte da criação de um instituto de estatística como o IBGE”, afirmou Azeredo
Recado
Azeredo, que foi recenseador em 1980 e, agora, está na Diretoria de Pesquisas, diz que tem orgulho da história que construiu dentro do IBGE e pede que a população receba o entrevistador do instituto.
“O Censo é fundamental para você, para o país, para todo mundo. É importante que um país se conheça. E é fundamental receber o recenseador do IBGE, tratar o recenseador com cordialidade, responder corretamente ao Censo. Se, por acaso, o seu domicílio não for recenseado, procure o IBGE, não fique de fora. Não é legal ficar de fora do Censo. O legal é dizer que foi recenseado.”
Fonte: O São Gonçalo