Homem que arremessou botijão, matando ambulante, falou frases sem sentido à polícia


Na manhã de ontem, ainda eram visíveis as marcas da tragédia ocorrida um dia antes na esquina das ruas Aires de Saldanha e Djalma Ulrich, em Copacabana. Lá, o pedreiro Venilson da Silva Souza, de 33 anos, arremessou objetos pela janela do apartamento, no 11º andar, onde mora com a irmã. Um botijão de gás jogado acertou a cabeça de um vendedor de frutas, matando-o na hora. A Polícia Civil trabalha com a hipótese de que o pedreiro sofreu um surto psicótico. Em depoimento, Venilson disse frases sem sentido.

O agressor, segundo a irmã, estava em tratamento psicológico e vinha fazendo obras no edifício. No momento do surto, ambos estavam em casa. Venilson começou arremessando roupas, sapatos, um fogão de mesa — cooktop — e, em seguida, o botijão.

A vítima é vendedor ambulante conhecido como Tronco. Paraibano, ele morava no Cantagalo e às vezes dormia na rua. Querido na região, ele vendia frutas e legumes pelo bairro. Até ontem de manhã nenhum familiar havia ido ao IML para reconhecer e liberar o corpo.

Sem gás encanado

No imóvel dos irmãos, uma espécie de apart-hotel, o fogão é de mesa, como mostram imagens de um panfleto, e não há gás encanado, como em todos os apartamentos do edifício Cannes. Todos usam botijão.

Não há legislação nacional sobre o uso de botijões de gás, mas sim, normas técnicas para regular as instalações, válvulas e mecanismos de segurança.

O Decreto nº 897, de 21 de setembro de 1976, que dispõe sobre segurança contra incêndio e pânico no estado do Rio, proíbe a utilização de botijões de gás em prédios residenciais com mais de cinco apartamentos e comerciais em geral, a não ser no térreo ou do lado de fora da edificação. Nos prédios em que há gás canalizado, botijões ou cilindros são vetados.

Procurado, o Corpo de Bombeiros afirmou que, “a utilização de GLP em prédios não é proibida, mesmo em ruas servidas por gás canalizado. Ou seja, o usuário pode optar pelo gás canalizado ou por GLP, cabendo ao responsável pela edificação o cumprimento dos requisitos de segurança”. Os bombeiros não informaram se o edifício passou por vistoria recente. Já a prefeitura, ressaltou que a fiscalização cabe às concessionárias e às empresas distribuidoras.

Objeto ‘quicou’ no telhado

A vítima era conhecida e querida no bairro, contou o aposentado Edmilson Pedrosa, que viu quando o botijão de gás “quicou” no telhado de zinco de uma loja antes de atingir o vendedor de frutas. Câmera de segurança de um prédio vizinho mostra o momento em que a tragédia ocorreu. Tronco caminhava quando foi atingido. Outro homem fez o mesmo trajeto, logo atrás, mas escapou ileso.

Marcas do incidente no dia seguinte à tragédia
Marcas do incidente no dia seguinte à tragédia Foto: Rafael Nascimento de Souza / Extra

Guardador de carros na Rua Aires de Saldanha, Samuel dos Santos conhecia a vítima há mais de 20 anos.

— Quando os moradores precisavam, ele fazia pequenos trabalhos, como buscar alguma coisa. Às vezes, eu dava comida para ele, porque Tronco não tinha moradia fixa.





Fonte: G1