Os seis prêmios conquistados no Festival de Teatro Universitário (Festu) encheram de orgulho e de esperança a galera da Escola Fábrica dos Atores & Materiais Artísticos, grupo que há 20 anos desenvolve um trabalho de buscar novos talentos em Nova Iguaçu. A ONG, mais conhecida pelas iniciais F.A.M.A., surgiu em janeiro 2001 como uma resistência cultural na Baixada Fluminense e conta hoje com 65 alunos. O excelente desempenho na mostra, realizada no início deste mês, chegou como um incentivo para o grupo superar as dificuldades e continuar acreditando na arte como motor de transformações.
— Entendemos que a arte é imprescindível para as relações humanas. A escola já influenciou muitos jovens que hoje estão no mercado de trabalho e começaram com a gente. Em 20 anos, são mais de 10 mil pessoas que conheceram a arte na escola. São atores e atrizes que hoje têm uma visão melhor do mundo graças à arte — conta o diretor da escola, Alexandre Gomes, que mantém uma parceria com a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) — Não cobramos mensalidade, cada aluno colabora com o que pode. A crise nos tirou duas salas de aula. São muitas adversidades enfrentadas.
No Festu, a cena “A Jornada do Herói” competiu com outros 400 grupos e levou para a Baixada o grande título de melhor esquete segundo o júri técnico.
A história apresenta José (Mateus Amorim), homem humilde que trabalha numa fábrica de pregos e, de repente, é demitido sem justa causa. Com cinco filhos para criar, ele trava uma jornada épica para receber Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), a única forma de sobrevivência no momento. No entanto, os descontos e taxas são tantos, que ele recebe uma quantia mínima e consegue comprar apenas um punhado de farinha para alimentar a família. É durante a noite que, após pensar sobre sua jornada diária, José sonha ser um grande cozinheiro. Ao amanhecer, ele sai para mais uma jornada em busca de trabalho.
— A cena tem 12 minutos de duração e se apropria de um termo moldado pelo escritor Joseph Campbell, em que ele afirma que todas as histórias se enquadram em uma única história, com o mesmo padrão onde o herói sofre e no final sai vencedor. Nós demos outros significado para esse termo, por meio de outro tipo de herói: o preto pobre e favelado. O objetivo é homenagear os trabalhadores que saem, todos os dias, em busca da sobrevivência.
Com o prêmio de melhor esquete, que rendeu R$ 30 mil para o grupo, o festival patrocina a cena para que ela se torne um espetáculo de circulação no circuito artístico profissional. A obra também será transformada num documentário com a ajuda do edital da Lei Aldir Blanc da Secretaria municipal de Cultura.
— Sou estudante de Cinema na Escola Darcy Ribeiro. Com a minha experiência no audiovisual, vamos transformar na jornada do herói iguaçuano. Além disso, com a chegada da vacina contra a Covid-19, já temos planos de estrear o espetáculo em Curitiba/PR e circular o mercado teatral por meio do patrocínio do festival.
Idealizado em 2010 pelo produtor Miguel Colker e pelo ator Felipe Cabral, o festival precisou se reinventar por conta da pandemia de Covid-19. Em vez dos grandes palcos, a maratona teatral com produções criadas por jovens universitários aconteceu de forma virtual e gratuita. Mais de cem esquetes foram selecionadas. Os atores Patricia Pillar, José de Abreu, Raphael Logam, Shirley Cruz e Renata Carvalho tiveram a missão de escolher os vencedores.
— A cena traz um rapsodo (artista popular que, na Grécia antiga, contava histórias e recitava poemas), essa coisa de contar uma história na primeira pessoa, representando todos os personagens que esse narrador vai encontrando. O Matheus Amorim além de representar e cantar, toca muito bem percussão. Ele tem uma presença cênica incrível — disse José de Abreu, durante o anúncio virtual da premiação, em relação à cena premiada e ao ator vencedor.
O conteúdo do festival alcançou mais de 50 mil visualizações no YouTube. As apresentações dos finalistas ainda podem ser vistas no site www.festu.com.br.
Fonte: G1