Governo estadual do RJ avalia flexibilização do uso de máscaras


A Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES) está avaliando uma maior flexibilização do uso de máscaras no estado. Atualmente, a legislação atual prevê a obrigatoriedade da proteção facial em locais fechados. Na capital, a dispensa das máscaras em todos os ambientes será discutida numa reunião do comitê científico municipal em março.

Em nota, a SES não detalhou se estuda derrubar as máscaras totalmente ou se fará uma revisão parcial do protocolo, com a liberação das máscaras em determinados locais fechados, por exemplo.

Por outro lado, a pasta também pontuou que, neste momento, é prematuro falar que a pandemia atingiu o estágio de endemia no estado do Rio de Janeiro. “A dinâmica do vírus, com as possibilidades do surgimento de novas variantes, e a ausência de um histórico da doença não permitem à SVAPS (Subsecretaria de Vigilância e Atenção Primária à Saúde) fazer esse tipo de afirmação”, escreveu a SES. Nesta terça-feira, o secretário municipal de Saúde do Rio, Daniel Soranz, disse ao EXTRA que a cidade pode já ter entrado numa fase de transição entre epidemia e endemia da Covid-19.

Os indicadores da pandemia no estado caíram significativamente nas últimas semanas, mas especialistas ouvidos pela reportagem dizem que ainda são necessárias mais evidências científicas para que se possa afirmar que a Covid-19 já chegou a um estágio de endemia no Rio de Janeiro.

Entre as semanas epidemiológicas 2 (9 a 15 de janeiro) e 5 (30 de janeiro a 2 de fevereiro), houve uma queda de 92% no número de casos confirmados no estado. Foram 185.212 ocorrências no período mais antigo, contra 15.098 no mais recente.

No entanto, as mortes causadas pela variante Ômicron atingiram o auge na semana 4 (23 a 29 de janeiro): foram 566 registros. A contagem semanal de óbitos é um indicador que demora mais a flagrar mudanças de tendência no cenário epidemiológico, em razão do tempo natural que a doença leva para apresentar desfecho clínico, bem como do atraso no preenchimento das notificações.

Divulgada na última sexta-feira, a mais recente atualização do mapa de risco do governo estadual para a Covid-19 apresentou todo o estado em nível baixo (bandeira amarela). Das nove regiões de saúde, sete ficaram com a mesma classificação. Apenas as regiões Centro-Sul e Serrana se mantêm em patamar moderado, e a Noroeste, ainda com risco alto.

De acordo com o painel Covid-19 da prefeitura do Rio, entre as semanas epidemiológicas 2 (9 e 15 de janeiro) e 5 (30 de janeiro a 5 de fevereiro) deste ano, o número total de casos confirmados de Covid-19 caiu de 164.106 para 13.607, uma redução de 91%. Por outro lado, a quantidade de óbitos acabou de alcançar um pico no município: foram 328 registros na semana epidemiológica 4 (23 a 29 de janeiro). As semanas posteriores apresentaram queda, o que pode decorrer, contudo, do represamento de dados.

Para a epidemiologista Gulnar Azevedo, professora do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), ainda não é possível dizer que o Rio adentrou a fase pós-pandêmica.

— Eu esperaria um pouco para dizer que estamos numa transição entre epidemia e endemia. Precisamos ver se essa queda se sustenta. Temos que chegar a uma equação de grande diminuição dos indicadores e grandes taxas de vacinação. No caso das crianças, por exemplo, a cobertura vacinal ainda é insuficiente — pontua a especialista.

O epidemiologista Diego Xavier, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), também acredita que seria prudente aguardamos os próximos desdobramentos da pandemia para dizermos que ela foi superada.

— A gente pensou que tinha chegado ao fim em 2020, e daí veio a variante P.1 e jogou água no chope. Pensamos o mesmo no ano passado, mas então veio a Ômicron. A única diferença é que, com a Ômicron, o vírus está atacando de maneira diferente. Não é uma cepa tão agressiva, temos vacinação… Mas ainda não podemos ser tão taxativos — diz.

Ele lembra ainda que o estágio endêmico se define por uma quantidade de casos esperada anualmente para determinada doença, como acontece com a dengue. Se as notificações extrapolarem essa medida, configura-se uma epidemia. Como a Covid-19 é uma doença recente, a ciência ainda não sabe ao certo qual o limiar entre epidemia e endemia nesse caso.

— A gente ainda não sabe o que vai acontecer todo ano com a Covid. Por isso continuamos dentro de uma epidemia — acrescenta o especialista.





Fonte: G1