Casos de racismo em partidas de futebol têm se tornado frequentes em estádios pelo Brasil afora. O caso mais recente aconteceu no último domingo (17) com o torcedor do Fluminense, Gabriel Brandão, de 26 anos, que é morador de São Gonçalo e foi para São Paulo assistir o jogo do time de coração e acabou sendo vítima de racismo por um torcedor do São Paulo, que fez gestos imitando um macaco e apontou para o gonçalense.
Morador do bairro Marambaia, Gabriel saiu de casa às 7h da manhã do domingo para assistir ao jogo no Morumbi. A viagem, que normalmente tem seis horas de duração, foi prolongada devido a um imprevisto que aconteceu no meio do caminho. Com isso, Gabriel e os amigos chegaram no local após a partida já ter começado.
“Eu e mais três amigos nos juntamos para ver o jogo do Fluminense, que é meu time do coração, que eu amo, e separamos um domingo para isso, para ver o jogo em São Paulo. Saímos daqui de São Gonçalo 7h30 da manhã em direção a São Paulo. Fomos devagar, tranquilo, no meio do caminho tivemos um imprevisto e acabamos chegando no Morumbi, para entrar no estádio, atrasados, por volta dos 35 minutos do primeiro tempo. Mas conseguimos ver o jogo”, iniciou o torcedor.
Após o fim do primeiro tempo, Gabriel e os amigos procuraram outro lugar no estádio para ficar e assistir o resto do jogo. Perto deles, estava a torcida do São Paulo, que tem uma rivalidade histórica com o Tricolor carioca, o que deu início a uma série de provocações entre as duas torcidas.
“Achamos um espaço bem tranquilo, bem perto dos policiais, bem perto da torcida do São Paulo. Ali, na torcida do São Paulo, tava tendo uma brincadeira, uma zoação, uma rivalidade que existe entre os times, um zoando o outro, brincando com o outro, mas com aquela barreira de vidro ali, barreira dos policiais”, continuou Brandão. Ainda segundo Gabriel, um dos torcedores começou então a imitar gestos de macaco e apontar para ele.
“Num certo momento, esse homem, esse torcedor – digo nem torcedor porque isso não é torcedor – começou a fazer esses gestos de macaco, gritar e apontar para mim. Ele estava fazendo várias vezes, a gente começou a falar, gritar e chamar os policiais. Nisso, eu puxei o celular do meu bolso e falei: “Vou filmar, não é possível que ele não vá parar de fazer, vou filmar”, contou.
“Nisso que eu puxei o celular e comecei a filmar, ele ainda fez, como saiu no vídeo, e os policiais chegaram nele para falar com ele, aí nisso eu parei de filmar, mas no vídeo ainda dá pra ver ele fazendo o ato e apontando pra mim. Na hora, não pensei em levar para frente, fazer boletim, apenas pensei em ver o jogo […] mesmo que a gente voltasse com a derrota, mas queria voltar ‘de boas’, sem acontecer nada, sem prestigiar nada disso, mas aconteceu. Então o que fica pra mim: Eu nunca tinha visto isso, a gente vê na televisão, mas eu nunca tinha visto real assim de frente, vi que realmente era pra mim, me assustei um pouco.”, disse o torcedor, que agradeceu também todo o apoio que tem recebido de outras torcidas, inclusive a torcida do São Paulo.
“Agradeço a torcida do São Paulo, que me mandou muitas mensagens, a torcida do Fluminense, a torcida do Flamengo, Vasco, Botafogo, torcidas rivais que mandaram várias mensagens. Eu agradeço, estou bem. Mas meu intuito é que esse torcedor seja punido e não vá mais ao estádio, para os outras pessoas não sofrerem outro ato racista dele e também para outros torcedores que estarem com o pensamento de fazerem isso não fazerem mais porque é bem complicado e porque racismo é crime”, concluiu.
Gabriel ainda não realizou uma denúncia formal sobre o caso à polícia. A Polícia Civil de São Paulo está tentando identificar o torcedor do São Paulo acusado de racismo contra Gabriel. O delegado da Delegacia de Polícia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (DRADE) afirmou que um boletim de ocorrência foi registrado, e a polícia tenta identificar o acusado via reconhecimento facial.
Fonte: O São Gonçalo