Garçom mais antigo da Prefeitura do Rio torce para vacina chegar e voltar a trabalhar


Recolhido em Araruama desde o começo da pandemia do novo coronavírus, em março do ano passado, Gyleno dos Santos, de 83 anos, não vê a hora de chegar logo a vacina contra a Covid-19 para voltar a trabalhar. Afinal, em 39 anos de serviço, o mais antigo — e mais querido — garçom da Prefeitura do Rio nunca ficou tanto tempo afastado da bandeja e do gabinete, onde já serviu diversos prefeitos, de Jamil Haddad, em 1982, a Eduardo Paes, que agora está na sua terceira passagem pelo cargo, além de autoridades e personalidades nacionais e estrangeiras.

— É um serviço que parece simples: colocar uma água, um café e servir um almoço, mas que eu faço com a maior satisfação. Agora nessa pandemia estou guardado aqui e louco para voltar — disse o funcionário, cujo último expediente na Prefeitura foi no dia 17 de março passado.

Numa das raras vezes em que abandonou a quarentena, ele esteve no gabinete na semana passada para desejar boas-vindas ao prefeito Eduardo Paes, a quem já havia servido nos dois mandatos anteriores (entre 2009 e 2017). Na ocasião, Paes fez questão de postar o encontro dos dois numa rede social.

Gyleno e Paes na semana passada: boas-vindas
Gyleno e Paes na semana passada: boas-vindas Foto: Reprodução da internet

“Que visita surpresa especial (devidamente enviado de novo ao lar)! Grande seu Gyleno. Passou por todos os prefeitos. Provisoriamente em casa esperando a vacina chegar! Já já estará conosco aqui” escreveu o prefeito na legenda.

Equilibrando uma bandeja na qual serve água, café, chá e refeições aos chefes do executivo, secretários e visitas ilustres ou não há quase quatro décadas, o garçom não pensa parar. Mesmo já estando aposentado desde 2007. Desde então, a cada troca de governo espera pela protocolar renomeação, como aconteceu recentemente, num cargo de DAS-6, como foi noticiado pela jornalista Berenice Seara, do Extra.

— Tenho muita saudade. Quero voltar logo. No dia em que disserem: pode vir, estarei lá cedinho.

Os anos de dedicação renderam ao velho garçom, além do reconhecimento, diversas homenagens, como a Medalha Pedro Ernesto, principal comenda da Câmara do Rio, em 1999, e o título de cidadão benemérito, em 2005. Também recebeu a medalha dos 450 anos da cidade, em 2015. Mas, a maior emoção que guarda foi a condução da tocha olímpica, em 2016.

Além dos prefeitos e secretários, ele já serviu também visitas ilustres como o príncipe Charles, a princesa Diana, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (que na gestão ex-prefeito Luiz Paulo Conde, entre 1997 e 2000 ocupou a residência oficial da Gávea Pequena em suas vindas ao Rio), além de artistas como Caetano Veloso, Angela Maria e Xuxa, entre outros.

O garçom que já acompanhou de perto dez mandatos de prefeito e está indo para o décimo-primeiro, ensina a receita do sucesso de se manter por tanto tempo numa função, principalmente frequentando os bastidores do poder, onde são tomadas importantes decições:

— Discrição é a chave do sucesso, além de manter a postura, a limpeza, estar sempre arrumado, ser gentil e educado com todos — ensina.

Pé-de-valsa: aula de dança para funcionários
Pé-de-valsa: aula de dança para funcionários Foto: Acervo pessoal

Pé-de-valsa, Gyleno é também professor de dança de salão. Por sua iniciativa e com apoio da Prefeitura foi criado um grupo chamado Nó da Dança, que promovia aulões às terças e quintas-feiras para os funcionários, após o expediente, no Clube dos Servidores, ao lado do Centro Administrativo, na Cidade Nova. Ele contou que chegou a ter 200 alunos.

Mas, por falta de incentivo do governo passado, as aulas foram suspensas. Depois veio a pandemia, tornando um retorno inviável. Agora, com a nova gestão, ele espera a vacina chegar para também retomar com o projeto, uma de suas paixões, que incluía um baile para o funcionalismo, às sextas-feiras.

— É uma terapia. É muito bom para o funcionário, depois de cinco a seis horas trabalhando passar mais uma hora dançando — defende.

Gyleno dos Santos forma com o jornalista Idalício Manoel de Oliveira Filho, de 91 anos, também afastado do trabalho desde o começo da pandemia por conta da idade, a dupla de funcionários mais antigos da Prefeitura do Rio.





Fonte: G1