Falta de rede de esgoto leva moradora de Duque de Caxias a fazer serviço do poder público


A cada 15 dias, a faxineira Dilcinete da Silva Henrique, de 53 anos, pega sua enxada e faz aquilo que deveria ser obrigação do poder público: a limpeza de uma vala na Rua Alcedino Paulino Quaresma, no bairro Pilar, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Há anos, moradores desta e de outras ruas transversais vivem uma rotina sem pavimentação e rede de esgoto e com buracos na rua.

— Vou abrindo a vala para a água escoar. Faço isso desde que vim morar aqui, há oito anos. Se eu não limpar, volta tudo pelo cano da minha casa e invade o banheiro e a cozinha — contou Dilcinete, ontem, enquanto fazia a limpeza do local, após uma noite de muita chuva.

A experiência de ver o esgoto voltando para dentro de casa foi vivida durante o Natal de 2018 pela dona de casa Sandra Félix, de 61 anos, que mora na mesma rua. Naquele dia, a chuva fez com que a vala transbordasse. Foi então que Sandra precisou colocar a mão no bolso para fazer uma obra dentro da sua casa.

— Foi horrível. Tive que aumentar o nível do terreno para o esgoto não subir de novo. Mas, até hoje, para sair de casa, a gente tem que colocar sacos nos pés — lamentou Sandra que vive há 20 anos no local.

Segundo os moradores, o bairro sempre foi esquecido, mas, nos últimos anos, passou a ser alvo de uma disputa política. Na região, mora a vereadora de oposição Deisi do Seu Dino, filha de Alcedino Paulino Quaresma, que deu nome à rua.

— Há três anos, o prefeito esteve aqui e disse que iria asfaltar. Mas como é a área da vereadora, eles não fazem nada aqui. Quem paga é a população, com tanta lama — reclamou Sandra.

Sandra Félix mostra rua buracos e muita lama no bairro Pilar
Sandra Félix mostra rua buracos e muita lama no bairro Pilar Foto: Cléber Júnior / Agência O Globo

Se no Pilar o esgoto e a falta de asfalto tiram o sono dos moradores, no Parque Boa Esperança o que preocupa é a possibilidade de enchente sempre que chove. O canal que fica entre a Rua Alexandrino Pinto e a Avenida Governador Leonel de Moura Brizola não é limpo há meses.

Sócio numa oficina metalúrgica no bairro, André Machado, de 41 anos, conta que o lixo entupiu a manilha, causando enchentes.

— Quando a prefeitura vem, não faz a limpeza correta. Só tira o mato. A manilha entope, e a água acaba subindo. O correto era manilhar tudo — avaliou André.

A Prefeitura de Duque de Caxias, através da Secretaria Municipal de Obras, informou que já foram iniciadas as obras de drenagem e pavimentação de ruas do bairro Pilar, no segundo distrito, e que a Rua Alcedino Paulino Quaresma está incluída. A administração municipal não comentou a reclamação dos moradores sobre a disputa política envolvendo o prefeito Washington Reis a e a vereadora Deisi do Seu Dino.

André Machado mostra lixo em canal
André Machado mostra lixo em canal Foto: Cléber Júnior / Agência O Globo

A Cedae disse que possui uma parceria com o município de Duque de Caxias para o esgotamento sanitário. Afirmou também que, no caso do bairro Pilar, a companhia oferece apoio à prefeitura na manutenção da rede unitária existente.

Com relação ao canal do Parque Esperança, a Prefeitura de Caxias informou que a limpeza das margens e o desassoreamento dos canais são feitos regularmente durante todo o ano e em todos os distritos. Afirmou que a coleta de lixo domiciliar é feita três vezes por semana em todos os bairros, mas que, mesmo assim, em algumas regiões, moradores insistem em jogar lixo e entulho na beira dos canais e em terrenos baldios próximos aos cursos d’água.

Já o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) afirmou que, recentemente, atuou no rio citado na reportagem com os serviços de limpeza e desassoreamento. Disse ainda que essas ações também incluíram a remoção de plantas aquáticas, o que contribuiu para a melhoria das condições de escoamento do rio em questão. O Inea ressaltou que a coleta de resíduos é atribuição dos municípios.





Fonte: G1