Fábrica de pregos para bondes no século XIX pode explicar garimpo ilegal no Parque da Tijuca


O garimpo ilegal que se instalou em uma área do Parque Nacional da Tijuca na Usina, na Zona Norte do Rio, pode ter história interessante por trás. A Subprefeitura da Grande Tijuca apura se no local existiu uma fábrica para ferrar bois e cavalos que puxavam os bondes com tração animal na cidade, no século XIX, e até mesmo se ali foi uma estação do transporte datada da época do Império. Por isso, a quantidade expressiva de pregos de chumbo no terreno. O chumbo é comprado a R$ 6 o quilo. Por causa disso, a movimentação é intensa noite e dia.

— (Atualmente) Aquele terreno está em nome da Fábrica Maracanã. Estamos apurando se ali foi uma fábrica que ferrava animais que puxavam os bondes no Rio, em 1890 — contou Wagner Coe, subprefeito da Grande Tijuca, que completou: — A partir de 1914, duas fábricas funcionaram no local, a da Brahma e da Souza Cruz.

Os primeiros bondes começaram a circular na cidade em 1859. A inauguração oficial deste veículo contou com a presença de D. Pedro II e a sua esposa. A linha inaugural ligava o Largo do Rocio (atual Praça de Tiradentes) a um local perto da atual Usina, na Tijuca, em num trajeto de 7 km. Acredita-se que o atual garimpo esteja na antiga estação.

Milhares de pregos encontrados no solo vêm sendo recolhidos diariamente para serem vendidos em ferros-velhos. O grande ponto de interrogação é a origem das peças.

Muitas pessoas que garimpam o terreno são moradores das comunidades do Borel, Formiga e Indiana.

— Eu fiquei a noite toda aqui à espera de o dia raiar — disse uma mulher, mãe de três filhos, que passou a madrugada desta terça-feira no local.

A grande maioria dos que garimpam no local é composta por jovens. Muitos deles entre 18 e 30 anos. Também é possível observar idosos, mulheres e até crianças.

Segundo a subprefeitura da Grande Tijuca, a descoberta do ‘tesouro” teria acontecido há cerca de 20 dias.

— Ali tem muita bananeira. Acredito que alguém foi ali para pegar banana, pisou em um prego e a partir daí, espalhou a notícia — afirmou Coe.

No Borel o que circula, quase como uma lenda urbana, é que um menino foi até a mata para pegar frutas e acabou descobrindo a “mina”de pregos, espalhando a informação pela comunidade. Antigos moradores garantem que ali nunca se soube da presença dos objetos no terreno. Nas rodas de conversa na comunidade todos só falam no assunto.

Pregos encontrados no Parque da Tijuca que provocaram corrida ao
Pregos encontrados no Parque da Tijuca que provocaram corrida ao ‘tesouro’ na região Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

— Nós temos família, filhos, sustentamos pessoas. Estamos aqui porque precisando. Não tem onde tirar dinheiro. Estou aqui porque preciso — disse um rapaz de 22 anos, que desafia as autoridades: — Eles não ficarão aqui para sempre, vamos voltar.

‘Serra Pelada’ tijucana: garimpo ilegal é interditado novamente

Mesmo interditado, parte do terreno atrás de um antigo hipermercado na Rua Conde de Bonfim, que se transformou um garimpo clandestino, uma espécie de “Serra Pelada Tijucana”, teve movimentação intensa de pessoas em busca de pregos de chumbo que são encontrados com facilidade do local, durante toda a noite de segunda-feira. Na madrugada desta terça-feira, a Polícia Militar foi para o local e retirou cerca de 30 caçadores de pregos. Mesmo com o frio intenso, uma família com quatro pessoas dormia na entrada do local, que está dentro do Parque Nacional da Tijuca, à espera do dia raiar para começar a busca pelo metal.

Investigação da 19ª DP (Tijuca) apura se os garimpeiros agem de forma independente ou se há uma organização por trás da atividade. As informações preliminares, de acordo com o delegado Gabriel Ferrando, são de que não há uma coordenação do grupo:

— As pessoas, muitas miseráveis, estão ali buscando material para revenda. Até o momento não foi identificada uma coordenação, mas estamos prosseguindo com as investigações.

Na madrugada desta terça, mais de 30 pessoas vararam a noite trabalhando no “garimpo”. Durante as primeiras horas da manhã, homens escavavam o morro.

Na manhã desta terça, o GLOBO esteve no local e flagrou restos de uma fogueira, que segundo os garimpeiros, foi usada para aquecê-los durante todo o trabalho que varou a noite.

— Estamos lutando pelas mesmas coisas. Eles pela sobrevivência e nós para que nada aconteça com eles. Eles estão escavando e se cair uma chuva vai desabar isso tudo — afirma Coe.





Fonte: G1