No primeiro dia de reabertura, com horários estipulados, de lojas de shopping e comércio, bem como de restaurantes, bares e quiosques, o que pôde ser visto nesta sexta-feira, nas primeiras horas após o anúncio do relaxamento pela Prefeitura do Rio, foram espaços vazios, funcionários limpando os locais e estabelecimentos com poucos clientes na hora do almoço. Pelas novas regras, o comércio pode operar das 10h às 17h. Já os bares e restaurantes estão liberados para abrir entre 12h e 21h — quiosques fecham no mesmo horário, mas podem iniciar a operação duas horas mais cedo.
Na Saara, o mais popular centro comercial do Rio, as ruas — normalmente abarrotadas — estavam quase desertas na tarde desta sexta-feira. Dono de uma loja de roupas e no local há mais de 20 anos, Carlos Henrique de Oliveira Freitas arrumava as araras e manequins para retomar as vendas. Ele diz que “terá que calcular nos próximos dias o prejuízo” causado pelo período mais restritivo:
— Foram quase 15 dias fechados. Estamos reabrindo na esperança de conseguir manter a loja. E é importante essa reabertura, mesmo que parcial.
Segundo Carlos, nos últimos meses ele tem feito entre 20 e 30 atendimentos por dia. Antes da pandemia, esse número era o dobro.
— Espero que essa abertura possa reanimar a economia — afirma o comerciante, esperançoso.
A poucos passos da loja de Carlos Henrique, fica o estabelecimento onde trabalha a vendedora Andréia Morais, de 38 anos. A mulher conta que, só nos últimos dias, a loja de calçados teve um prejuízo de aproximadamente R$ 7 mil. Ainda assim, nas palavras dela, “é melhor pingar do que secar”.
— Ficamos acompanhando e torcendo para a reabertura. Éramos quatro pessoas aqui na loja e, por conta da pandemia, hoje somos apenas duas. Espero que, com essa reabertura, possamos conseguir recuperar parte do que não conseguimos vender — conta Andréia após limpar toda a loja, que estava fechada desde 26 de março. Até as 12h, o estabelecimento ainda não havia feito uma única venda.
Moradora de Petrópolis, a costureira Janaína Tavares, de 45 anos, se surpreendeu com o vazio da Saara. Ele esteve no local para comprar roupas para a loja de costura que tem na cidade imperial.
— Estou assustada com a quantidade de lojas fechadas e outras vazias. Cheguei aqui às 8h, mas todos os estabelecimentos ainda estavam fechados. Agora que abriram, vejo como estão sem movimento — diz ela.
Restaurantes vazios
No Bairro de Fátima, o restaurante Cantina da Mama registrou baixa procura para o almoço nesta sexta. O estabelecimento, que antes da pandemia chegava a receber até 300 pessoas durante um dia, entre almoço e jantar, viu a procura despencar. Hoje, cerca de 40 clientes foram ao local após a permissão para que as refeições fossem servidas presencialmente.
— Nesse primeiro momento a procura está baixa. Nos últimos dias atendemos por aplicativos de pedido de comidas, entregamos na redondeza e as pessoas podiam retirar aqui — lembra o empresário Domingos Mozzi, um dos donos do local.
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Segundo Domingos, nos dias em que o espaço ficou fechado houve “uma queda de 80%” no faturamento. Ele comemora a permissão para receber clientes, ainda que com menos da metade da capacidade, mas critica a determinação do fechamento às 21h.
— Penso que eles deveriam deixar funcionar até um pouco mais tarde. É à noite que conseguimos um pouco mais de clientes — argumenta.
Já para Antônio Aloísio Rodrigues, dono do restaurante Energia do Catete, no bairro homônimo, “a reabertura é uma glória’. Pouco antes das 11h, tudo já estava preparado para receber os clientes. Ele conta que está “cheio de contas” e precisou renegociar o aluguel da loja, que fica na Rua Ministro Tavares de Lima.
— Essa reabertura é importante porque eu consigo pagar fornecedores, funcionários, o aluguel da loja, etc. Se a gente não conseguisse abrir, eu não iria conseguir pagar nada. Hoje mesmo eu pedi ao proprietário para pagar o aluguel no final do mês — revela Antônio, que completa:
— Eu vou ter que pagar um funcionário por semana. Essa reabertura é uma glória. As contas de água, luz, gás… estão todas se cumulando. Infelizmente, estamos revezando na vinda de funcionários, porque não temos dinheiro para pagá-los.
Até as 16h, o restaurante — que já chegou a servir 400 refeições diárias de self-service — tinha recebido cerca de 80 clientes.
Quiosques funcionando e banhistas no mar
Numa manhã de sol forte e dia limpo, com poucas nuvens no céu e termômetros marcando quase 30 graus, muitos cariocas aproveitaram para entrar no mar nas praias da Zona Sul, desrespeitando a ordem da Prefeitura do Rio. Pelo decreto municipal, que já vigora há mais de 10 dias, está proibida a permanência nas areias e a entrada no mar de banhistas (exceto para prática de esportes individuais).
Às 10h, a equipe do GLOBO percorreu a orla do Leblon até o Leme e flagrou uma série de irregularidades. Não se viu a presença da fiscalização. Famílias inteiras, inclusive com crianças, aproveitavam o dia normalmente na areia. Foi possível ver até a presença de cachorros e de vendedores de todos os tipos de mercadorias.
Pela nova determinação da prefeitura, válida a partir desta sexta, quiosques só podem funcionar a partir das 10h. Assim que os ponteiros marcaram a hora cerca, os donos de alguns estabelecimentos já abriram os locais. Foi o caso de um espaço no Mirante do Leblon, que recebia clientes nesta manhã, e diversos outros que ficam espalhados por Ipanema, Copacabana e Leme.
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Edvando Gomes, um dos donos de um quiosque do Leme, diz que estava ansioso para reabrir o local. Contudo, ele frisa que por, conta das outras restrições — entre elas a proibição de pessoas na praia e do estacionamento na orla —, não vai haver muito movimento no estabelecimento.
— A gente abre, mas acabamos vendendo só para os moradores daqui. As outras proibições impedem que as pessoas venham à praia. O Leme só tem uma linha de ônibus, é de difícil acesso, aí acabamos ficando prejudicados — diz.
O empresário lembra que, “em um dia normal”, atendia até 80 pessoas em dias úteis, e 200 no final de semana. Hoje esse número não chega nem à metade. Além disso, Gomes afirma que o horário estabelecido pela prefeitura para fechar as portas “é bem ruim”:
— O auge do movimento é entre 18h e 0h. Deveriam ter pensando em uma forma de uma flexibilização. Abrimos às 10h e, quando começa a ter um movimento mais ou menos, temos que fechar.
Na orla, muitas pessoas também praticavam esportes, como corrida e pedalada, o que está permitido. Enquanto isso, na Pedra do Arpoador muitos surfistas aproveitavam as ondas, outra atividade liberada. Já os outros banhistas que curtiam o sol quente desrepeitando as normas não eram importunados.
No mesmo local, dois carros da Guarda Municipal não impediam as infrações. As pessoas não se intimidaram com a presença dos agentes, e alguns aproveitaram até para praticar altinha perto das ondas.
Nesta sexta-feira, a Prefeitura do Rio decidiu flexibilizar as medidas restritivas que vinha adotando. O relaxamento fez parte da divulgação do novo boletim epidemiológico sobre a Covid-19 no município, apresentado esta manhã.
Com a mudança, está previsto o funcionamento presencial de bares e restaurantes, mas só até as 21h. Já as praias continuam proibidas, não podendo haver ambulantes (fixo ou itinerante), aula e prática de esportes coletivos, permanecer na areia e estacionamento na orla (com exceção de moradores, idosos, pessoas com deficiência e hóspedes de hotéis). Essas restrições também valem para parques e cachoeiras.
De acordo com o município, as restrições tiveram impacto no número de atendimentos na rede básica, que teve indicativo de queda. Mas o número de óbitos por Covid-19 continua a subir no município. O prefeito Eduardo Paes destacou que “não é momento de relaxar”.
Fonte: G1