‘Essa é pra você vó’, diz autor de foto que inaugura projeto de paisagens do Rio

Ondas de um mar azul em primeiro plano, coqueiros em segundo e, ao fundo, a Pedra da Gávea e o morro Dois Irmãos magicamente posicionados um ao lado do outro. É assim a primeira imagem selecionada para compor o livro-mosaico com imagens que enaltecem as belezas do Rio, do projeto Urbegrafia. A foto, tirada de dentro do mar da praia do Diabo, ao lado do Arpoador, pelo fotógrafo Bruno Dulcetti, de 41 anos, é uma dentre duas mil que foram avaliadas pela curadoria do projeto.

Depois de um fim de semana de tristeza pela perda da avó Maria Antonieta, mais conhecida como Tuniquinha, o autor do clique que inaugurou os trabalhos, recebeu a notícia com a certeza do aconchego da avó.

— Para mim foi mega importante. Eu perdi minha avó no sábado, o enterro era no domingo. Eu testei positivo no dia do velório e não pude me despedir. Na segunda-feira, eu estava meio baixo com essa situação e tive essa notícia. Foi uma alegria muito grande — conta Bruno, que relembra seu último encontro com a avó no hospital. — Ela perguntou das minhas fotos e eu já estava fazendo essas imagens. Acho que tem um pouco de um dedo dela. É muita coincidência ser escolhido um dia depois do falecimento, é uma energia muito forte, de arrepiar. Essa foi para você, vó — dedicou o fotógrafo carioca.

A câmera de Bruno dentro da caixa estanque. Foram mais de dois mil cliques até a foto perfeita
A câmera de Bruno dentro da caixa estanque. Foram mais de dois mil cliques até a foto perfeita Foto: Bruno Dulcetti

A primeira missão dentre as 20 que serão lançadas ao longo de cinco meses do projeto Urbegrafia ganhou o nome de “Rio-Mar” e vai selecionar dez fotos que explicitem a relação entre o mar e a cidade. Para fazer a foto pioneira, Bruno, que também surfa, foi com uma prancha, pé de pato e a câmera estanque 200 milímetros para além da arrebentação, bem distante da areia.

— É uma foto difícil porque você fica muito longe da arrebentação e especialmente com essa lente que dá a sensação de aproximar os morros dos coqueiros e os monumentos. Para eu conseguir esse ângulo e efeito, eu tive que ficar bem no fundo, no meio do mar. E, apesar de pegar onda, dá um certo medo — revela o fotógrafo, que só conseguiu fazer a foto depois da terceira ida ao mar.

Distância entre Morro Dois Irmãos e Pedra da Gávea foi encurtada pelo fotógrafo carioca
Distância entre Morro Dois Irmãos e Pedra da Gávea foi encurtada pelo fotógrafo carioca Foto: Bruno Dulcetti

O porteiro do prédio onde ele mora estava de plantão no dia que a foto finalmente saiu. Sabendo da aventura, o porteiro passou no Arpoador no fim do expediente só para ver se encontrava Bruno no mar e registrou uma foto da foto.

— Foram mais de dois mil cliques entre três dias de tentativas. É uma foto que eu buscava muito. Eu voltei feliz da vida do mar. Quando eu dei um zoom e vi o foco, percebi que foto tinha ficado muito boa. Eu sabia que a foto tinha ficado muito sinistra pela textura que a água imprimiu. Parece um veludo — relata o fotógrafo.

A foto da foto. Porteiro de Bruno registra momentos dele no mar
A foto da foto. Porteiro de Bruno registra momentos dele no mar Foto: Jorge Belmiro

E é assim, com imagens que enaltecem as belezas da capital carioca, que o projeto Urbegrafia pretende construir um mosaico visual da cidade, a partir do olhar de quem mora. A ação colaborativa vai acontecer através do Instagram, como uma espécie de game fotográfico com 20 missões inspiradas no cotidiano do Rio. Ao final, 200 fotos escolhidas serão editadas em um livro exclusivo.

Para participar e ter uma foto no feed ou mesmo no livro, não precisa fazer dancinha, nem ter milhares de seguidores.

— É só postar usando as hashtags e ter sua foto selecionada pelos curadores para ser coautor do livro — destaca Tiago Petrik, idealizador e curador geral do projeto.

Os participantes devem acompanhar o perfil do projeto para ficar por dentro de cada missão, postar suas fotos com a hashtag correspondente a cada uma. É importante manter o perfil aberto, caso seja uma conta privada. Depois, é só acompanhar o trabalho dos curadores.

As sete primeiras fotos selecionadas serão postadas no perfil da rede social na semana seguinte à missão. As três últimas serão selecionadas algumas semanas depois, dando a oportunidade de mais gente participar. No fim do processo, serão 20 missões, com 200 fotos escolhidas reunidas em um livro. A ideia é que as imagens resultantes tracem um panorama múltiplo e diverso da cidade do Rio.

Os curadores convidados para selecionar as imagens do projeto são Rafael Bolor (@riocasaseprediosantigos), Patrícia Pamplona, Raphael Vidal (oraphaelvidal), Ana Paula Amorim (@apamorimmendes), Márcia Foletto, Anna Fisher (@annafisher), Marina Lage (@marinalagelima), Celso Rayol (@celsorayol) e Rocinha Sob Lentes (@rocinhasoblentes_oficial).

Há dez anos, o projeto Urbegrafia é uma iniciativa do Núcleo da Ideia e da RIOetc e segue um formato semelhante ao de outros projetos como a “Rio365”, “Rio450” e “Nossa Língua”, documentários visuais produzidos pelo Núcleo a partir de missões temáticas no Instagram. A RIOetc segue o lema de buscar a alma encantadora das ruas. Com ele, já fotografou mais de 15 mil personagens do Rio e na hashtag #rioetc reúne mais de 400 mil fotos de seus seguidores.

O Urbegrafia conta com o patrocínio da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, da Secretaria Municipal de Cultura e com o apoio da Ancar, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura – Lei do ISS.



Fonte: G1