Especialistas avaliam ser precipitada a flexibilização no Rio


RIO — A prefeitura do Rio flexibilizou algumas medidas restritivas para conter o avanço da Covid-19 e liberou as praias cariocas, entre segunda e sexta-feira. Além de bares e restaurantes, também foram liberadas atividades não-essenciais até 22h. As novas medidas entram em vigor neste sábado e vão até o dia 3 de maio. Entretanto, especialistas ouvidos pelo GLOBO dizem ser ainda precipitada a flexibilização.

Para Gulnar Azevedo, professora de epidemiologia da Uerj e presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), é preciso uma queda por mais tempo para flexibilizar restrições. Ela avalia que a decisão de restringir o banho de sol nas praias durante o fim de semana e feriados, no entanto, é positiva para evitar as cenas de aglomerações que o Rio viveu durante o verão:

— A queda nas emergências é bom ,mas por quanto tempo teremos isso? A pandemia não está controlada então qualquer pequeno surto pode virar uma explosão, já que vivemos em um lugar de muita densidade — avalia.

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Segundo a análise dos técnicos da secretaria estadual de Saúde do Rio, a região Metropolitana 1 — que contempla a capital e Baixada Fluminense — deixou de ser classificada como área de risco muito alto (bandeira roxa). É a primeira vez desde o mês de o meio de março que nenhuma região de saúde está no nível mais crítico.

No relatório, os técnicos apontam que da semana epidemiológica 13 (entre 28/03 e 03/04) para a semana 14 (entre 04/04 a 10/04) houve uma redução de 21% no número de internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) no Rio

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Os indicadores da taxa de ocupação de leitos de UTI e do tempo estimada para o esgotamento das vagas de terapia intensiva, no entanto, continuam sendo um fator de grande preocupação. Somente as regiões Norte e do Médio Paraíba não possuem um desses indicadores classificados com risco “muito alto”.

Na região Metropolitana 1 a estimativa é do esgotamento dos leitos de UTI em sete dias. Em todo o estado o cálculo aponta para uma possibilidade de esgotamento em oito dias.

Com números ainda altos, a infectologista da Fiocruz Marilia Santini critica que nas últimas semanas, apesar das medidas de restrição em vigor, cenas de aglomerações foram vistas em toda a cidade, principalmente em transportes públicas:

— Se o objetivo das medidas era diminuir o número de infecções e deixar os hospitais com possibilidades de atender, não era o momento. O transporte público não diminui nada, sem adiantar muito. É um local que a pessoa fica muito tempo exposta e muito aglomerada . E quanto mais coisas são abertas, mais gente no mesmo horário pegando o transporte teremos— explica.

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Tânia Vergara, presidente da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro ressalta o trabalho do grupo de especialistas que assessora a prefeitura do Rio, mas acredita que falta uma ação mais coordenada entre cidades para evitar a grande circulação de pessoas. Para a infectologista, a fiscalização das medidas restritivas também precisa ser reforçada.

— A Fiocruz foi uma das instituições que recomendou um fechamento nacional e também defendo que não vamos resolver a situação sem um ação coordenada em todo o país. No Rio, acho que as regras ficam pouco esclarecidas. A população consegue entender o motivo de um boate estar fechada, mas não compreende a liberação do shopping enquanto a área de lazer da orla fica fechada — ressalta a infectologista, que acrescenta: — Não tenho visto mudanças reais de atitudes. Quem é vai monitorar isso tudo? É aquela mesma autoridade que fica na rua com a máscara no queixo?





Fonte: G1