Encalhada há 27 dias, carcaça de baleia é desenterrada por ressaca em Ilha Grande


RIO – A carcaça de uma baleia-jubarte que apareceu morta há 27 dias na praia de Parnaioca, na Ilha Grande, na costa fluminense de Angra dos Reis, foi desenterrada por uma ressaca na última terça-feira. Desde então, o animal de oito toneladas segue exposto no local, isolado apenas por pedaços de madeira e bambus.

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A baleia chegou à praia em 29 de junho já em decomposição avançada, motivo pelo qual não foi possível determinar a causa de sua morte. Após 11 dias na areia, o animal foi enterrado por equipes do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), da Defesa Civil de Angra dos Reis e da prefeitura. Na ocasião, argumentou-se que a opção de puxá-lo pelo rebocador foi descartada por risco de que ele desintegrasse. Durante o período, moradores e turistas reclamaram do mau cheiro exalado pela carcaça, que estava em frente a um camping.

Com as fortes ondas que atingiram a região, a carcaça acabou desenterrada no último dia 20. Moradores acionaram as autoridades, mas até o momento a baleia não foi retirada. Quem vive e trabalha na localidade teme riscos à saúde.

— Não condiz com a preservação que a gente tem aqui na Parnaioca, mas a gente acatou achando que talvez tivesse uma solução. Até porque eles falaram que se isso acontecesse viriam rapidamente para tirar a baleia do local. Estamos vivendo um drama. Tem poucos moradores aqui, sim, mas por isso a praia é preservada. Os poucos que vivem aqui cuidam — disse Janete Farias, que mora há 30 anos no local.

Baleia de oito toneladas apareceu morta em 29 de junho
Baleia de oito toneladas apareceu morta em 29 de junho

Farias entrou em contato com a Defesa Civil de Angra dos Reis para solicitar a remoção do animal. Em resposta, o órgão disse que acionaria o Inea, responsável pelo serviço, e justificou que a operação precisa de equipamentos, embarcação e mão de obra.

— Vai fazer 30 dias que temos uma baleia aqui encalhada. Causa transtorno para quem mora e para quem visita. Sem contar que a decomposição dura meses. A gente não quer isso na nossa praia – afirma a moradora, dona de um camping na praia.

Segundo o gestor do Parque Estadual da Ilha Grande, Claudio Barcellos, o Inea e a prefeitura já estudam uma maneira de retirar o animal. Ele argumenta que a logística para a operação é bem complicada pelo fato de o local ser de difícil acesso.

— Por ser um local de parque não tem muita estrutura, não tem estrada que chega lá, não tem pier para atracação de barco. É difícil de chegar. Um carro não chega nunca lá, o maquinário não chega e nem barco consegue chegar na beira por causa das ondas.

Baleia foi desenterrada por ressaca em Ilha Grande
Baleia foi desenterrada por ressaca em Ilha Grande Foto: Arquivo pessoal

De acordo com ele, o intuito inicial era a remoção por meio de barcos, o que foi inviabilizado pelo mar agitado. Como as embarcações não conseguiram se aproximar, a prefeitura decidiu enterrar a baleia.

— A gente está estudando uma forma, junto com a presidêndia do Inea. Estamos trabalhando um jeito de tirar aquela carcaça de lá. Não tem como a gente fazer uma mágica para tirar. A gente está falando de um animal muito pesado e voltado para mar aberto. Se as pessoas não chegarem perto, não tem por que causar qualquer tipo de transtorno. A gente vai tirar, vai dar um jeito — afirmou.

A prefeitura de Angra dos Reis explicou em nota que a praia é um “local remoto que só tem acesso pelo mar” e que “devido às dificuldades de logística decidiu-se por enterrar o que sobrou dela”. Disse ainda que foi montada uma força-tarefa com mais de dez agentes da Defesa Civil de Angra e que “o buraco cavado não pode ser tão fundo porque logo encontrou-se água”.

“Para tentar solucionar de vez o problema, agentes da Defesa Civil irão novamente ao local nesta semana. A ideia é conseguir um barco grande que possa rebocar a carcaça para o mar. Se isso não for possível a única solução será enterrá-la novamente”, disse a nota.

Procurado, o Inea não respondeu até a publicação desta reportagem.

Carcaça de baleia tem atraído vários urubus em praia de Ilha Grande
Carcaça de baleia tem atraído vários urubus em praia de Ilha Grande Foto: Arquivo pessoal

Recorde de encalhes

Ao menos 48 baleias jubartes encalharam no litoral brasileiro no primeiro semestre de 2021, segundo balanço do Projeto Baleia Jubarte. Os registros, que começaram em abril, dobraram em maio e dispararam em junho – apontado como o terceiro pior mês dos últimos tempos no Brasil. O total de mortes é inédito para esta período do ano.

Apesar dos números elevados, o biólogo Rafael Carvalho, do Laboratório de Mamíferos Aquáticos e Bioindicadores da UERJ, explica que as mortes de baleia jubarte na costa brasileira são comuns nessa época do ano, temporada de migração da espécie.

— É comum a partir de maio uma passagem grande dessas baleias, inclusive perto da nossa costa. É o momento em que estão saindo de águas do Atlântico Sul, que é sua área de alimentação, e migram para as áreas de reprodução — disse Carvalho.

De acordo com o biólogo, as baleias se dirigem sobretudo para as águas ao norte do Espírito Santo e ao sul da Bahia, na proximidade do banco de Abrolhos. A região é considerada a principal área de reprodução e concentração da espécie no país.

— No momento em que estão indo para essa região, acabam passando por perto da nossa costa e, inevitavelmente, algumas morrem no caminho, por diferentes motivos, muitas vezes indeterminados.





Fonte: G1