Em duas semanas, Rio registra o dobro de casos de pessoas com sintomas gripais


Enfrentando um surto de gripe, a cidade do Rio registrou, em um intervalo de duas semanas, mais que o dobro de pessoas com sintomas respiratórios leves. Dados do Painel Covid da prefeitura do Rio apontam que na semana 45, entre os dias 07 e 13 de novembro, foram quase 12 mil casos. Já na semana epidemiológica 47, entre 21 e 27 de novembro, 25,7 mil cariocas começaram a ter sintomas de gripe, um aumento de 115%.

Réveillon 2022 no Rio: comitê científico do estado analisa alternativas para a festa de Copacabana

O Ministério da Saúde define como casos de Síndrome Gripal aqueles que o paciente relata ao menos dois dos seguintes sintomas: febre, calafrios, dor de garganta, dor de cabeça, tosse, coriza, distúrbios olfativos ou distúrbios gustativos.

O recorde semanal de pessoas apresentando um quadro respiratório leve foi no final de agosto, ainda no inverno carioca, quando quase 57 mil pessoas foram diagnosticadas com Síndrome Gripa. O índice estava abaixo de 25 mil casos há sete semana seguidas e agora volta a ficar no mesmo patamar que no final de sembro.

‘Passaporte da vacina’: veja onde ele será exigido no Rio

Com o aumento de pessoas que buscam as unidades de saúde por atendimento com medo de estarem infectadas com a Covid-19, o número de testes para coronavírus também cresceu na cidade no mesmo intervalo. Na última semana foram 18.438 testes para diagnosticar a Covid-19, mas apenas apenas 1% deram positivo para a doença.

De acordo com a secretaria municipal de Saúde, o mapeamento viral aponta que, entre os casos de Síndrome Gripal não-covid, 95,5% são causados pela Influenza A (H3N2).

Segundo a prefeitura do Rio, os bairros com maior número de casos são Rocinha, Vila Kennedy, Barra da Tijuca, Alemão, Ilha do Governador e Tijuca. Não há registro de óbitos pela doença.

Casos graves aumentam 25%

O número de casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no Rio subiu 25% entre as semanas epidemiológicas 43 (24 a 30 de outubro) e 46 (14 a 20 de novembro). É o que apontam dados do projeto InfoGripe, da Fiocruz. Nesse período, a média móvel de ocorrências semanais saltou de 336 para 421 no estado. Uma variação consideravelmente maior que a do país, que foi de 8%. A faixa etária de 0 a 9 anos teve um dos maiores crescimentos: 46% entre as semanas epidemiológicas 42 (17 a 23 de outubro) e 46. No primeiro período de referência, a Fiocruz detectou 129 casos, em média; no segundo, 189.

O cálculo se baseia em estimativas de nowcasting, método que considera o comportamento dos números em análises epidemiológicas para diminuir o efeito do atraso na atualização de dados, retirados do Sistema de Informações da Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe). A diferença percentual foi projetada a partir da média móvel de cada semana.

O grupo de 20 a 29 anos foi outro que teve um aumento expressivo. Na semana 42, a média móvel da faixa etária ficou em sete casos semanais. Na semana 46, o número saltou para 19. A variação percentual foi de 190%.

Os especialistas da Fiocruz dizem que os números do Rio podem estar associados ao surto de Influenza que se alastra pela capital e outras cidades da Região Metropolitana, embora a hipótese ainda precise ser averiguada por dados provenientes de exames de laboratório. Caso ela se confirme, o levantamento da Fiocruz jogará luz sobre o possível efeito da circulação da Influenza em relação aos casos graves, alavancados no estado por números da capital.

— É uma hipótese bastante provável, mas é necessário aguardar as próximas semanas para que sejam inseridos os resultados laboratoriais nos registros do Sivep — diz o pesquisador Marcelo Gomes, do grupo de Métodos Analíticos em Vigilância Epidemiológica da Fiocruz (Mave/Fiocruz). — Entre os registros que já têm resultado laboratorial (referentes ao começo de novembro para trás), nas crianças continuamos vendo majoritariamente casos de vírus sincicial respiratório (VSR), e nas demais faixas etárias SARS-CoV-2 (Covid-19).

Um dos idealizadores do InfoGripe, o epidemiologista Leonardo Bastos afirma que os números do estado são compatíveis com os de um surto por doença respiratória.

— Meu palpite é que isso se deve à baixa cobertura vacinal contra a Influenza, sobretudo no público de 20 a 29 anos. Afinal, esse aumento não se manifesta no grupo de 10 a 19 anos, o que é intrigante — afirma o especialista.

Tendas instaladas ao lados das UPAs

A grande maioria dos episódios da doença, no entanto, se manifesta como síndrome gripal. São quadros mais leves, mas capazes de causar uma grande sobrecarga nas emergências. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES), o surto de Influenza aumentou a demanda de atendimentos nas UPAs estaduais em 429% em uma semana, como o GLOBO revelou.

Tenda sendo montada ao lado da UPA da Tijuca
Tenda sendo montada ao lado da UPA da Tijuca Foto: Alexandre Cassiano/Agência O Globo

Com unidades lotadas, a pasta anunciou nesta quinta-feira que abrirá tendas para a assistência a gripados ao lado das UPAs Marechal Hermes, Tijuca, Penha e Botafogo. As estruturas, mundialmente conhecidas como hospitais de campanha, já foram usadas no Rio em outras epidemias, como as de dengue e zika.

Surto pode ter resultado de um relaxamento

O novo surto de Influenza deixou autoridades e pesquisadores inquietos, já que o vírus costuma circular com mais intensidade em períodos mais frios, como o inverno. Mas não é só a Influenza que resolveu roubar a cena num período atípico. O vírus sincicial respiratório (VSR), que costuma afetar especialmente as crianças, já teve um aumento de movimentação registrado por exames laboratoriais, segundo os especialistas da Fiocruz.

Para Marcelo Gomes, o ressurgimento desses patógenos às vésperas do verão pode resultar também de um relaxamento dos protocolos de combate ao contágio por doenças respiratórias.

— Aumentamos muito nosso nível de interação e, consequentemente, facilitamos a transmissão de vírus respiratórios em geral. Já vínhamos observando isso nas crianças desde o começo do ano, com novo aumento de outros vírus respiratórios a partir de agosto. A novidade é o reaparecimento de Influenza, que até agora ainda não tinha aparecido nem nos casos de SRAG, nem nos casos de síndrome gripal — diz o especialista. — É uma consequência natural, embora indesejada. Por isso a importância de mantermos ainda certos cuidados, bem como não deixar de tomar a vacina da gripe, que é justamente para combater os efeitos do vírus Influenza.





Fonte: G1