Blusa de manga comprida, cabeça baixa e um aparelho que desperta curiosidade. Na água gelada do inverno carioca os “garimpeiros do mar” não parecem se incomodar com o frio e se fazem ainda mais presentes na praia depois da queda de temperaturas. Em períodos de ressaca, apostam na subida da maré para levar tesouros para casa.
Apesar do trabalho ser parecido, cada pessoa que executa essa tarefa tem motivos muito particulares para estar ali. Seja para conseguir uma renda extra, para levar comida para casa ou por puro hobby, com o passar dos anos o interesse pelo ramo parece ter aumentado.
Cláudio de Souza tem 57 anos e garimpa desde os 12. Segundo ele, de cinco anos para cá, o número de pessoas atuando nessa área cresceu e fez com que joias e preciosidades se tornassem ainda mais raras. — Depois que começaram a fazer vídeo do que acham no mar ficou mais difícil. Antes a gente quase não via garimpeiros e agora tem em todo lugar — explica. Alguns desses ‘caçadores’ gravam vídeos de rotina do trabalho. Mostrando o que acham, acabam transformando as postagens numa espécie de convite para quem ainda não conhece o garimpo no mar.
Mesmo assim, o que Cláudio encontra na praia ajuda, e muito, dentro de casa. Além de procurar tesouros na areia, ele também trabalha num estacionamento, mas é o garimpo que faz a diferença. Entre joias antigas, anéis de ouro e pedras preciosas, sua maior conquista foi conseguir pagar pelos estudos da filha que, no final deste ano, se forma em medicina na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. — Eu já levei muita coisa que achei aqui para ela, mas ela sempre preferia ganhar livros de presente. E por causa do garimpo eu também podia ajudar — conta o garimpeiro com um sorriso orgulhoso no rosto.
Enquanto Cláudio impulsionou os estudos da filha, Wallace Moura, de 30 anos, prefere levar o que encontra para casa. Mesmo vendendo algumas peças, ele gosta mesmo é de garimpar para presentear a mulher e o filho com acessórios e até brinquedos. Trabalhando como segurança na maior parte do tempo, Wallace tem horas contadas para deixar a praia e voltar a trabalhar.
Esses trabalhadores usam instrumentos variados para encontrar o que procuram. Uns com uma espécie de peneira com cabo e outros com detectores mais modernos de metal que podem chegar a até R$ 9 mil o objetivo é o mesmo. No entanto, entre os principais desafios estão a dificuldade de achar peças tão valiosas quanto achavam antigamente. — Por causa da violência, o pessoal foi parando de usar aqueles colares de muito valor, né? O que a gente acha de muito valor assim costuma ser mais antigo — disse Wallace.
Como o vai e vem das ondas, a ocupação também pode ser traiçoeira, ainda mais para quem só tem o garimpo como fonte de renda, como é o caso de Marcílio Moura, de 46 anos. Trabalhando há 10 anos como garimpeiro, ele já encontrou uma única peça que valia o equivalente à renda média mensal, que varia de R$ 2 mil a R$ 5 mil, dependendo do mar. Em dias de ressaca, com a força do mar e a maré mais alta, os garimpeiros são beneficiados.
— Quando tem ressaca é bem melhor, a gente acha mais ouro e, dependendo da cotação do dia, dá pra ganhar bastante dinheiro — contou Marcílio.
Em contrapartida, há dias que não são tão bons assim. Mesmo trabalhando todos os dias exclusivamente com o garimpo, nem sempre a sorte ajuda.
— Na mesma semana, dá para achar um tesouro e achar só lixo. Quando tem só tem lixo, a gente fica meio chateado, mas tem que aprender a ser paciente — desabafou.
Apesar de não ser alegria para os garimpeiros, encontrar pedaços de lata e objetos sem valor algum na areia é positivo para o meio ambiente porque há quem guarde tudo o que encontra para descartar corretamente na saída das praias.
Fonte: Portal G1