‘Ele nem olhou se vinha BRT’, diz delegada que prendeu motorista que matou mulher e deixou feridos em acidente


Preso nesta sexta-feira, dia 26, Marcelo de França Soares, acusado de ser o responsável pelo acidente com um BRT no último dia 10, que resultou na morte de uma pessoa e feriu outros 30 passageiros, nunca teve habilitação. Em depoimento à Polícia Civil, o acusado disse que, no dia do acidente, ele foi incumbido de levar um carro clonado de Curicica à comunidade do Cesarão, em Santa Cruz, ambos bairros da Zona Oeste. Ele confessou saber que o veículo era roubado.

De acordo com o ajudante de ferro-velho, o veículo seria entregue para um miliciano que atua na Zona Oeste. Naquele dia, ele diz que recebeu R$ 200 pelo transporte. Na manhã desta sexta-feira, no momento em que era transferido para a Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, Marcelo afirmou ao EXTRA que não lembrava o que aconteceu.

Imagens: Acidente envolvendo BRT e carro deixou pelo menos uma pessoa morta e 20 feridas

Os investigadores da 43ª DP (Guaratiba) chegaram a ele com o auxílio das imagens de mais de 20 câmeras de trânsito da CET-Rio. Os agentes traçaram a rota do suspeito e descobriram onde ele estava: na comunidade do Terreirão. Na quinta-feira, os investigadores foram ao local para conduzir o ajudante de ferro-velho à distrital para que ele prestasse depoimento sobre o acidente, já que a Justiça ainda não havia decretado sua prisão. Quando ele estava dentro da viatura, Marcelo tentou fugir e foi contido.

Ônibus do BRT tomba com passageiros após bater em poste na Zona Oeste do Rio
Ônibus do BRT tomba com passageiros após bater em poste na Zona Oeste do Rio Foto: Reprodução

Já na 43ª DP, o acusado confessou que foi o responsável pelo acidente. Uma testemunha que viu a batida também reconheceu Marcelo. O ajudante de ferro-velho disse que, no dia 10, por volta das 13h, foi procurado por um miliciano de nome Kako — que atuaria em Curicica — para que ele levasse o veículo, que era roubado e clonado. O carro seria entregue para outro paramilitar de Santa Cruz.

— No dia do acidente, por volta das 19h30, ele colocou os dois filhos, de 5 e 10 anos, além da esposa, e foram entregar o carro. Quando chegaram em Guaratiba, para fugir do trânsito, ele entrou na calha do BRT. Quando ele viu o articulado, tentou sair, mas já era tarde — afirma a delegada Márcia Julião, titular da 43ªDP.

A delegada ainda afirma que ele nem verificou se algum ônibus do BRT estava chegando no corredor naquele momento.

— Ele assumiu o risco total do acidente. Ele nem olhou se vinha ou não BRT. O dolo eventual é porque ele assumiu o risco de matar. Olha o tamanho dessa irresponsabilidade. Acima de tudo, o poderoso – para ganhar R$ 200 – fez isso tudo daí. Ele não poupou nem os filhos.

Legista periciou morta e preso

Ainda segundo o depoimento de Marcelo, para não ser “linchado”, ele tirou a família e pediu carona para um motorista que passava no local. O ajudante de ferro-velho contou ainda que acredita que o condutor tenha pensado que ele era uma das vítimas do acidente. Marcelo foi deixado junto com a esposa e os dois filhos perto da casa onde moram.

Com cicatrizes nos dois joelhos, o suspeito foi encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML) para fazer corpo de delito. No local, o exame foi realizado pelo mesmo legista que periciou o corpo de Eliana Almeida de Carvalho, de 57, que morreu no acidente.

— O legista falou para ele que era o mesmo que periciou a Eliana. Ele não teve reação. Só abaixou a cabeça e ficou calado — disse a delegada Márcia Helena Julião.

Carro envolvido em acidente com BRT
Carro envolvido em acidente com BRT Foto: Alexandre Cassiano

Após com a confissão do homem, Márcia Julião representou pelo pedido de prisão. Durante a madrugada desta sexta-feira, a juíza Maria Izabel Pena Pieranti, do plantão judiciário, concedeu a sua detenção temporária de 30 dias. Marcelo foi indiciado por homicídio doloso — com intenção de matar —, lesão corporal dolosa trinta vezes e receptação.

Já o carro que ele dirigia era clonado, tinha placa de São Paulo e havia sido roubado dias antes do acidente. A Polícia Civil informou que o acusado possui oito anotações criminais, entre elas roubo, estelionato e receptação de veículos.

— Em nenhum momento ele se arrependeu de nada. A preocupação dele era fugir, porque ele sabia o tamanho do estrago que ele tinha feito — completou Márcia Julião.





Fonte: G1