Driblando restrições de orçamento, Secretaria de Esportes do Rio busca trazer legado olímpico de volta à vida


Após anos de abandono, com pouco ou nenhum investimento, parte do legado olímpico — construído durante a última gestão do prefeito Eduardo Paes — começa a voltar à vida no Rio de Janeiro. Um foco da Secretaria municipal de Esportes e Lazer (SMEL) é ressuscitar as vilas olímpicas. Outro, reativar o Parque Radical e o Parque Olímpico. Enfrentando restrições de orçamento, a saída é usar a criatividade e parcerias para fazer com que a cidade retome sua vocação de polo esportivo e celeiro de atletas.

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O secretário de Esportes, Guilherme Schleder, explicou que, de imediato, sua pasta precisou realizar um corte de 30% da folha, como medida decretada pela Secretaria de Fazenda na administração pública. Assim, as facilidades financeiras estão muito distantes do que havia até 2016, ano da Olimpíada do Rio. Naquele ano, a Secretaria de Esportes teve orçamento autorizado de R$ 55 milhões, dos quais R$ 35 milhões foram executados. Além disso, houve um aporte de R$ 51 milhões da Secretaria de Educação, que centraliza recursos relacionados a profissionais de Educação Física. Esse aporte, porém, ainda não está definido para 2021, e, até aqui, o orçamento da Secretaria de Esportes é de R$40 milhões.

Com o dinheiro, Schleder diz que cerca de R$25 a R$30 milhões são destinados às vilas olímpicas, o que é insuficiente, por enquanto, para realizar novos contratos de gestão para as unidades da Penha, Centro, Recreio, Maré, Ilha do Governador e Ricardo de Albuquerque. Nesses locais, a secretaria irá colocar professores de Educação Física da rede municipal. Em 2007, um decreto do então prefeito Cesar Maia transferiu 400 professores para serem funcionários exclusivos de equipamentos esportivos. No início do mês, o secretário reconvocou todos, mas descobriu que restam apenas 82, pois a maioria se aposentou ou retornou às escolas.

Vila Olímpica Nilton Santos, na Ilha do Governador
Vila Olímpica Nilton Santos, na Ilha do Governador Foto: Márcia Foletto/Agência O Globo

— Fiz uma reunião, em que compareceram 56 desses professores, e todos já foram direcionados para vilas olímpicas. O número é menor porque há alguns de grupo de risco. Estamos tentando averiguar caso a caso. Até o fim do ano, é o grupo que vai trabalhar nas vilas sem contrato, dá uma média de sete professores por unidade — explicou o secretário, que citou as parcerias com instituições e confederações como formas de aumentar a oferta de atividades. — É uma forma de driblar os problemas orçamentários.

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Para efeito de comparação, uma Vila Olímpica de porte médio, como a de Santa Cruz, funciona com nove professores. Em duas das unidades sem contrato, ainda há necessidade de obras estruturais: Ilha do Governador e Penha. Na Vila Olímpica Nilton Santos, na Ilha, por exemplo, uma tempestade em janeiro provocou danos estruturais e arremessou telhas dentro da piscina. Já a zeladoria fica a cargo da Comlurb e da Guarda Municipal.

Pista de atletismo da Vila Olímpica Oscar Schmidt, em Santa Cruz
Pista de atletismo da Vila Olímpica Oscar Schmidt, em Santa Cruz Foto: Márcia Foletto/Agência O Globo

Ideia de convênio com o Corpo de Bombeiros

O Parque Radical, em Deodoro, funciona basicamente com treinos da canoagem, e o único contrato que existe no lugar é para manutenção das piscinas. Não há hoje, então, possibilidade de a piscina ser reaberta ao público, por falta de um contrato de gestão. Outra opção, diz Schleder, é realizar convênio com os Bombeiros para que cedam guarda-vidas.

Já na Arena Carioca 3, na Barra da Tijuca, que recebeu torneios de taekwondo e esgrima durante a Olimpíada, existem algumas atividades, como escolinhas de tênis de mesa e futsal e uma academia, além de um convênio com a Federação de Ginástica do Rio. Hoje, ela está sendo usada para drive-thru de vacinação.

Por isso, apesar do plano de legado no Parque Olímpico não ter sido concluído, o secretário nega que o espaço esteja abandonado.

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— Não é verdade que o Parque Olímpico seja um elefante branco. É porque as pessoas passam na frente e não veem nada, mas tem muita gente treinando, usando equipamento, do lado de dentro — afirmou o secretário, que citou ainda a utilização dos outros ginásios, que têm concessão com a União ou com o COB. — A gente vai buscar parceria com confederações para dar maior utilização, e avançar com parcerias. No ano que vem, com o orçamento andando, conseguiremos fazer mais contratos. No Parque Radical, por exemplo, conseguimos oferecer aulas de vôlei, canoagem e ginástica para a terceira idade. Mas, com um novo contrato de gestão, as atividades seriam ampliadas.

Outro projeto da SMEL é criar um conselho com atletas, e que deverá contar com nomes como Rafaela Silva, Parreira, Robson Caetano e Torben Grael. Mas isso deve ficar para o futuro, assim como a retomada do projeto Rio em Forma, que oferecia atividades gratuitas ao ar livre à população.

— A ideia é retomar o projeto, quero elaborar os processos licitatórios até o final do ano. Hoje tenho zero orçamento para ele, mas com aumento de orçamento, e de repente com algumas emendas parlamentares, já poderíamos voltar com ele — afirmou Schleder.





Fonte: G1