do fio de cobre ao bueiro, o caminho percorrido pelos metais furtados

No coração do bairro imperial, 644 acabamentos em formato de seta do gradil de ferro, que cerca a Praça do Campo de São Cristóvão, na Zona Norte do Rio, despareceram. No mesmo lugar, o coreto de 1906, feito com material metálico importado da Inglaterra, foi depenado. Erguida no mesmo ano, a amurada no entorno perde a balaustrada fundida em metal francês dia após dia. O conjunto histórico tinha ainda 20 luminárias, todas furtadas, e até um dos postes foi levado. Sem falar em tampas de bueiros e nos cabos de energia. A pilhagem, que suga os cofres públicos e prejudica a população, entra na cadeia legal da reciclagem de sucata, contaminando um setor pujante e de muita importância para o meio ambiente.

Coreto de 1906 é depenado por ladrões de metais
Coreto de 1906 é depenado por ladrões de metais Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

Além de apagar parte da história, saques como os de São Cristóvão, recorrentes em todo estado, afetam diretamente a rotina da população que fica sem trem para chegar ao trabalho e enfrenta a escuridão das ruas e sinais de trânsito deligados, por exemplo. Mas o tamanho desse impacto ainda é desconhecido por parte das concessionárias e dos órgãos públicos. Levantamento feito pelo GLOBO com CET-Rio, Rioluz/Smart Rio, SuperVia, Light e Conexis (que reúne empresas de telefonia e internet) mostra que foram furtados pelo menos 380 mil metros de cabos de cobre e alumínio no primeiro semestre deste ano, ou cerca de dois quilômetros por dia. Se colocados ainda na balança 35 transformadores da Light sumidos, o total chega a 234 toneladas. É como se, em seis meses, tivessem surrupiado uma composição inteira do metrô, com seis vagões, que, segundo sua operadora, pesa 240 toneladas.

Ferros-velhos: 90% ilegais

Esse material contabilizado representa uma pequena fatia do que é alvo de ladrões, muitos deles movidos pelo vício do crack, que acabam alimentando o tráfico de drogas, diz a polícia. Uma tampa de bueiro de 50 quilos tirada da sarjeta, por exemplo, pode render ao bandido até R$ 40: o ferro custa R$ 0,80, o quilo. De acordo com consulta feita pelo GLOBO a um fornecedor, uma peça nova sai a R$ 420. A Secretaria municipal de Conservação da capital diz ter substituído, em seis meses, 5.400 grelhas e tampas de bueiro, parte por peças de concreto sem valor no mercado clandestino. O órgão não estima quantas foram furtadas.

O que some das ruas tem como porta de entrada ferros-velhos que compram esse material, sem nota fiscal, e o misturam com produtos lícitos oferecidos por catadores. O processo é facilitado por fiscalização e legislação ineficientes, e pela clandestinidade: dos 10.800 ferros-velhos (depósitos, cooperativas e ecopontos) no estado, 90% são informais, segundo estimativa do Movimento Nacional Juntos pela Reciclagem.

Em pequenos depósitos, as peças furtadas misturadas às legais são vendidas, em lotes por tipo de metal, para ferros-velhos de médio porte. A partir desse momento, em geral com nota fiscal, os fardos são revendidos para empresas recicladoras, encarregadas do beneficiamento do material, que é limpo e prensado. Daí em diante, passa a ser quase impossível identificar o que é ilícito. Mesmo uma tampa de bueiro ou uma escultura, não desmanchadas no início do processo, estão, agora, comprimidas.

A carga segue, então, seu curso, e ingressa na indústria de transformação — siderúrgicas, metalúrgicas e laminadoras. Já como metais (em tarugos), alimenta outras indústrias: as que produzem bens de consumo. No fim da cadeia produtiva, o ferro furtado da praça em São Cristóvão pode, por exemplo, virar um novo gradil ou, misturado com outras matérias-primas, engrenagens, vergalhões, fios e até carcaças de automóveis.

Furto de metais
Furto de metais Foto: Editoria de Arte
Furto de metais
Furto de metais Foto: Editoria de Arte
Furto de metais
Furto de metais
Furto de metais
Furto de metais Foto: Editoria de Arte

A Associação dos Recicladores do Estado do Rio (Arerj) destaca o gigantismo desse mercado: por ano são 720 mil toneladas de sucata ferrosa (ferro e aço) e 120 mil toneladas de metal não ferroso (cobre, alumínio e bronze). Procurador e porta-voz da entidade, Michel Assef Filho alega que o material furtado representa 1% (8,4 mil toneladas) do que é reciclado e é adquirido “de maneira inadvertida”:

— Ao mesmo tempo que chega um catador com uma sucata lícita, pode aparecer um viciado em droga. A pessoa que está fazendo uma obra pode vender o portão de garagem. Então, vão chegar cem, 500 portões absolutamente legais. E pode acontecer de um ser furtado. Você vai deixar os 500 portões porque tem medo de alguém chegar lá com um que é furtado? E quem é que faz este julgamento? É o reciclador?

Sem que a cadeia seja interrompida, essa bola de neve vem causando reflexos até em indústrias, afetadas por quedas de energia e de internet.

— Temos recebido relatos de empresas que tiveram que parar a produção, atrapalhando sua linha de fabricação, e de multinacionais que não puderam se conectar com a matriz no exterior. Houve ainda o caso de um empresário que, sem internet, não conseguiu participar de um pregão eletrônico — conta Isaque Ouverney, gerente de infraestrutura da Firjan. — Não existe uma bala de prata. A solução para coibir os furtos não é única. Exige ações que passam pela integração de políticas federais, estaduais e municipais, e do Executivo com o Legislativo, com o objetivo de robustecer o arcabouço legal de combate a esse tipo de ilegalidade, bem como de intensificar a fiscalização com a presença ostensiva nas ruas.

Operadores: poucos dados e estimativas

Durante um mês, O GLOBO procurou 14 prestadoras de serviços públicos para levantar as perdas. Poucas tinham dados ou estimativas. Juntas, por exemplo, CET-Rio, Light e Rioluz/Smart Luz calcularam um prejuízo de R$ 5,7 milhões, em um semestre. De cabos, foram furtados 161.751 metros da Conexis, 111.333m da Rioluz/Smart Luz, 60.711m da SuperVia, 37.813m da CET-Rio e 8.540m da Light. Para calcular o peso parcial, como nem todos estimaram, foi preciso recorrer ao Sindicato dos Ferroviários do Rio e a uma empresa de telecomunicações.

Já a Enel (fornecedora de energia em 66 cidades fluminense) informou que, de janeiro a outubro, foram furtados 2.997 metros de cabos, a metade do ano passado graças à mudança do cobre (R$ 30, o quilo, no mercado de sucata) para o alumínio (R$ 7,76, o quilo). A MetroRio se limitou dizer que houve, no primeiro semestre, 52 ocorrências de furtos entre hidrantes, lixeiras de inox, cabos, grades de ralos, placas de escadas rolantes, corrimão e refletores, enquanto a Comlurb contabilizou apenas papeleiras: 1.551 furtadas ou vandalizadas em seis meses. A Naturgy argumenta que não usa mais bueiros e que os antigos não têm mais utilidade.

A Águas do Rio fala em 32 ocorrências de furto das quais 12 geraram falta de água, em seis meses. Outra concessionária de água, a Iguá, nada informou. E a Cedae diz que, em municípios do interior, houve “apenas seis registros de furto de materiais”, com perda financeira de R$ 80 mil. Quanto ao sistema de água de 22 bairros da Zona Oeste e 19 municípios, assumido pela Rio+Saneamento em agosto, a Cedae garante que nada foi levado no primeiro semestre. Já a Zona Oeste Mais Saneamento, que opera o esgoto na região, divulgou a lista de medidores de energia, inversores de frequência e cabos furtados, entre outros materiais, que somam R$ 48,2 mil, mas sem estimativa de peso.

Na capital, só 254 sucateiros têm licença

Num universo onde o clandestino predomina, dos cerca de três mil ferros-velhos de sucata existentes na capital, só 254 têm alvará de funcionamento concedido pela Secretaria municipal de Ordem Pública (Seop). Sem falar que eles são dinâmicos, afirma o secretário Brenno Carnevale:

— Eles fazem improvisos, e vão migrando de lugar. Têm ainda entrado em comunidades, o que dificulta nosso trabalho de fiscalização, porque exige articulação maior com os órgãos de segurança.

A Seop contabiliza este ano 55 operações para fiscalizar 98 ferros-velhos, que resultaram na apreensão de mais de seis toneladas de cobre, além de objetos como papeleiras e tampas de bueiros, e na interdição de 38 estabelecimentos. Num dos interditados, na esquina da Estrada Adhemar Bebiano com a Rua Augusto e Souza, no Engenho da Rainha, nas imediações do Complexo do Alemão, foi encontrada o que a secretaria chama de sala secreta. Trancada com cadeado, só foi aberta quando os fiscais ameaçaram chamar a polícia. Lá foram achados cerca de 200 quilos de cobre, parte do material já queimado, indicando procedência duvidosa.

— Em algumas oportunidades, encontramos material em salas escondidas, em anexos. Ou seja, uma atividade autorizada, que é a da reciclagem, acaba servindo como escudo para eles, de modo acessório, praticarem a venda de material proibido. Mas tem gente séria nesse mercado. Não dá para generalizar e criminalizar a profissão. Estamos sendo criteriosos para não criminalizar a categoria e não inviabilizar a atividade de reciclagem — afirma Carnevale.

Interditado em fevereiro, o ferro-velho do Engenho da Rainha continua fechado. Perto dali, no entanto, no meio da Rua Moréia, sucata é comercializada. O negócio é fiscalizado por homens com rádio transmissor e em motos.

Ferro-velho, onde foi encontrada uma
Ferro-velho, onde foi encontrada uma “sala secreta” com produtos sem procedência: interditado em fevereiro, permanece fechado Foto: Selma Schmidt

Interdições de fachada

Outro ferro-velho interditado pela Seop, em junho, na Rua São Miguel 397, em frente ao Morro do Borel, na Tijuca, funciona sem alvará e como se nada tivesse acontecido. O movimento é frenético no local, com calçada e trecho da via ocupadas por pilhas de materiais, caminhonetes e os chamados “burros sem rabo”.

Ferro-velho clandestino na Rua São Miguel, na Tijuca: interditado pela Seop, voltou a funcionar, ocupando calçada e trecho da via
Ferro-velho clandestino na Rua São Miguel, na Tijuca: interditado pela Seop, voltou a funcionar, ocupando calçada e trecho da via Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

Da Tijuca, para Madureira, em maio, fiscais encontraram fechado o ferro-velho da Estrada do Portela 477. O local tem alvará apenas para reciclar sucatas não metálicas. Quando repórteres do GLOBO estiveram no local, há cerca de três semanas, no entanto, encontraram o depósito funcionando e comercializando metais.

Ferro-velho em Madureira: a licença não permite que comercialize metais, o que é descumprido pelo depósito
Ferro-velho em Madureira: a licença não permite que comercialize metais, o que é descumprido pelo depósito Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

Em Ramos, no número 7.305 da Avenida Brasil, o ferro-velho é licenciado, mas foi autuado pela fiscalização em maio por ocupar a calçada com mercadorias e placas. De nada adiantou: o local voltou a expor placas de preços e usar a calçada como depósito.

‘É preciso mudar a legislação penal’

Na queda de braço com ladrões e receptadores de metais, investigação da Polícia Civil resultou na apreensão de mais de 350 toneladas de cobre, ferro e alumínio, e prendeu 87 pessoas, de julho a setembro último. Batizada de Caminho do Cobre, esboçou ainda o rumo percorrido pelo material furtado, especialmente cabos de concessionárias.

O furto, o roubo e a receptação de metais de áreas públicas e privadas são investigados por policiais da delegacia mais próxima do local onde o crime ocorreu. Já para ajudar a combater o furto de cabos de concessionárias, a Polícia Civil criou uma força-tarefa, coordenada pelo delegado Felipe Curi, que no último dia 3 assumiu a direçao do Departamento geral de Polícia Especializada. Ele defende mudanças na legislação penal em vigor no país, que prevê penas brandas em caso de crimes praticados sem violência ou grave ameaça (um a quatro anos), fazendo com que o autor fique pouco tempo atrás das grades.

— Para quebrar essa cadeia criminosa, em primeiro lugar, é preciso mudar a legislação penal. Temos casos da mesma pessoa que praticou o crime de furto dez, 15 ou 20 vezes — argumenta o delegado.

Cobre: o mais visado

Aliás, os cabos de cobre são os mais visados. Isso porque, entre os metais negociados em ferros-velhos, ele é o mais valioso e o único cujos preços de venda para a indústria de transformação costumam acompanhar os da bolsa de valores de Londres. Quando não está queimado nem encapado, placas na frente de ferros-velhos indicam que é comprado por até R$ 30 o quilo, valor que sobe para cerca de R$ 48 quando, limpo e prensado, é revendido para ser transformado.

Os preços dos metais variam de depósito para depósito e entre as empresas que fazem o beneficiamento. Porém, no momento da revenda, cada elo da reciclagem em geral embute uma margem de 20% — explica Edson Freitas, representante no Rio do Movimento Nacional Juntos pela Reciclagem.

Catadores, donos de ferros-velhos e técnicos da Secretaria estadual de Meio Ambiente chegaram a elaborar um manual com preços de compra dos produtos no início do processo. No documento, os ferros-velhos pagam, no máximo, R$ 8,40 pelo quilo da latinha, R$ 0,93 pelo do ferro e R$ 4,90 pelo do aço.

Além dos prejuízos causados aos governos, às concessionárias e à população, o urbanista Luiz Fernando Janot ressalta a descaracterização das cidades, quando peças históricas não são repostas. Mas ele destaca outra questão a considerar:

— Cabos e algumas estátuas são substituídos. Mas o assunto não pode ser tratado de forma tão imediatista. Há um individualismo exacerbado que ignora a presença do outro. Quando depredam um bem público, a própria existência das cidades é negada. A gente vê as cidades entrarem num processo de decadência, com seus valores se perdendo.

De coreto histórico a estátua de 400 quilos, nada escapa

Após sucessivos roubos, a Praça do Campo de São Cristóvão mistura o passado imperial com um presente agonizante. É no coreto que o estrago é maior. Basta escalar alguns degraus do monumento para verificar que o corrimão histórico foi quase todo retirado. Quem se aventura subir repara que o guarda-corpo do piso não existe mais. E uma rápida olhada para o teto é suficiente para constatar que a luminária despareceu.

Para o historiador Tito Henrique Silva Queiroz, as peças de metal importadas seriam uma das razões que ajudam a manter o coreto de pé:

— Alguma coisa que resiste há décadas de abandono e depredação, só pode ter uma ótima qualidade.

Nos arredores da praça, além de trechos da amurada histórica que sumiram — a Secretaria municipal de Conservação diz que registrou o caso na polícia no último dia 9 —, na semana passada dois sinais de trânsito estavam apagados, perto do Colégio Pedro II. Segundo a CET-Rio, a reposição fora feita em 20 de setembro, mas houve novo furto de cabos no último dia 10.

Já a Conservação informa que está ciente dos ataques no Campo de São Cristóvão e que fará o orçamento para repor o que foi levado. A Polícia Civil, por sua vez, afirma que as investigações relativas ao Campo de Sâo Cristóvão estão em andamento na 17ªDP (São Cristóvão) e que os agentes tentam identificar os autores do crime.

Furtos à parte, moradores de rua, usuários de droga e o descuido com a manutenção assustam os poucos que frequentam a Praça do Campo de São Cristóvão. Nas três vezes que repórteres do GLOBO estiveram no local, nas últimas três semanas, não foram vistos guardas municipais.

— Venho sempre aqui, mas dá medo. Está tudo muito largado. Tive um acidente vascular cerebral (AVC) e tenho de fazer exercícios diários. Mas está difícil essa situação. Procuro aparecer para fazer exercício quando há alguém por perto — explica o aposentado Marcio da Silva Gonçalves, de 67 anos.

O vendedor Carlos Eduardo Oliveira Fraga, de 51 anos, mora em São Cristóvão e também reclama:

— No coreto, falta quase tudo. Se uma criança subir ali, pode cair por falta da proteção lateral. Não trago minha família nessa praça. É perigoso. Prefiro ir à Quinta da Boa Vista.

A guia de turismo Isabel Melchiades e o turismólogo Valdemar Cândido Vargas alegaram que os furtos aos monumentos do bairro atrapalham ao agendamento de visitas de turistas ao bairro imperial:

— Não há condição de trazer turista na praça, onde o coreto foi saqueado, ou no próprio Campo de São Cristóvão. A parte histórica está deteriorada. Além disso, é inseguro.

Problema avança em outras áreas

A cobiça por peças metálicas deixa marcas em outros pontos da cidade. Sete das oito “golas” de ferro em volta de árvores do largo principal da Praça José de Alencar, no Flamengo, por exemplo, desapareceram total ou parcialmente. Situada na confluência das ruas do Catete, Conde de Baependi, Barão do Flamengo, Marques de Abrantes e Senador Vergueiro, a José de Alencar foi inaugurada em 1897. Com o passar do tempo, foram incorporados a ela dois outros trechos: num deles, onde fica uma cabine da PM quase sempre vazia, uma placa de metal, com informações sobre o marco do Rio Carioca (que passa ali embaixo), sumiu do totem onde estava instalada; e, no outro, há um quiosque de flores.

Praça José de Alencar:
Praça José de Alencar: “gola” de árvore de ferro furtada Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

Quem mora ou trabalha nas redondezas, cita o intenso movimento da área para justificar ainda estarem íntegros a estátua do escritor, sentado e em tamanho natural, e medalhões em baixo relevo em seu pedestal, representando cenas extraídas dos romances O Guarany, O Gaúcho, o Sertanejo e Iracema. Os degraus sob o pedestal, alguns com pedras quebradas, viraram dormitório de moradores de rua. O monumento, com peças em bronze, é de autoria de Rodolfo Bernardelli e foi fundido no ateliê Barbediene, em Paris. Em 2011, foi tombado pelo município.

— A circulação grande tem poupado o monumento e as tampas de bueiro. Mas faltam limpeza, manutenção e segurança na praça. Só às vezes tem um PM na cabine — diz Douglas Alves, que trabalha no quiosque de flores. — Geralmente tem morador de rua dormindo no largo e perto da cabine da PM em qualquer horário do dia.

O monumento mais recente da José de Alencar é o marco do Rio Carioca, de 1996. Foi “construído para identificar no bairro o trajeto subterrâneo do Rio Carioca, que deu origem a cidade”, segundo o blog Inventário dos Monumentos RJ, da arquiteta e urbanista Vera Dias. A peça, em concreto revestido por mármore, está suja e com placas quebradas.

Prestes a completar 82 anos em dezembro, Helena Mendes está sempre batendo ponto na José de Alencar. Vai atrás de plantas de um jardim aromático, plantado em 2018, ao lado do quiosque de flores. Ela também reclama do descuido da praça:

— Sei que há frequentadores que não cuidam, mas o poder público deveria olhar mais por essa praça, que não tem uma única lixeira e está com os bancos estão quebrados.

Além de roubo de metais, Praça José de Alencar está sem manutenção
Além de roubo de metais, Praça José de Alencar está sem manutenção Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

Responsável pela José de Alencar, a Fundação Parques e Jardins (FPJ) garante que as ocorrências de furtos “são sempre comunicadas aos órgãos competentes”. A FPJ não sabe, no entanto, informar o que foi levado da praça, alegando que “não guarda registro de todos os itens furtados”. Questionada, a FPJ mandou uma equipe à José de Alencar e anunciou que o espaço será recuperado. Já a PM alega que a corporação vem realocando o policiamento de cabines de acordo com seu planejamento estratégico.

Com área bem menor que a Praça do Campo de São Cristóvão, a José Bonifácio, no Largo de São Francisco, teve todos os 51 pedaços da parte superior de seu gradil de ferro, em formato de seta, arrancados. Um roubo logo após a reinauguração para o bicentenário da Independência do Brasil, em 7 de setembro.

— No dia 8 de setembro já havia pontas de ferro do gradil furtadas. No dia 25, todas tinham desaparecido — lamenta Marconi Andrade, fundador da ONG SOS Patrimônio.

Mãe de Deodoro: há dois anos sumida

Marconi Andrade estima que a peça de monumento mais pesada furtada no Rio tenha sido a estátua de Dona Rosa Paulina, mãe do Marechal Deodoro da Fonseca. Ela tinha 400 quilos e ficava na Glória. O caso foi há mais de dois anos. Antes, já tinham desaparecido as 16 peças em bronze de figuras da época da Proclamação da República, além da placa e da porta do gradil que cerca a escultura, onde estão guardados os restos mortais de Deodoro e sua mulher.

Monumento a Deodoro, na Glória: além da escultura da mãe do marechal, 16 placas em bronze de figuras da República desapareceram
Monumento a Deodoro, na Glória: além da escultura da mãe do marechal, 16 placas em bronze de figuras da República desapareceram Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

A Polícia Civil apurou que uma Kombi foi vista, na madrugada de 16 de fevereiro de 2020, nas proximidades da Praça Paris. Segundo uma testemunha, três homens seriam os responsáveis por colocar a peça no veículo. Imagens do utilitário, que não mostravam a placa de identificação, chegaram a ser localizadas por policiais. Nem a peça de bronze e nem a Kombi foram encontradas.

Marconi cita ainda outra praça desfigurada por furtos: a das Nações, em Bonsucesso. A escultura da Mulher da Luz sumiu do chafariz da praça. Só sobrou o pedestal.

Com 1,8 metro de altura e cerca de 250 quilos, a peça é de ferro fundido e sustentava com o braço direito um globo luminoso, compondo o chafariz da Praça das Nações. A obra foi feita em 1908 pela Cia Nacional de Fundição, para uma exposição nacional no mesmo ano. Inicialmente, foi instalada na Praia Vermelha e transferida em 1936 para a Praça das Nações, em comemoração à urbanização da região. Está desaparecida desde 2010.

Fonte: Portal G1