Dia da Consciência Negra tem celebrações, combate ao racismo e pedido de justiça por produtor preso


Contar a própria história por meio de danças, músicas e tradições. A celebração pelo Dia da Consciência Negra deste ano tem ao longo do dia eventos para destacar, ainda, a luta por igualdade dentro da sociedade, por meio do combate ao racismo. Em meio às comemorações no Monumento Zumbi dos Palmares, no Centro do Rio, com um cartaz simples Elcy Leopoldina dava seu grito de pedido por justiça. O filho dela, o produtor de eventos Angelo Gustavo Pereira Nobre, de 28 anos, está preso há 80 dias acusado de ter participado do roubo de um carro.

O combate ao racismo estrutural foi um pedido em comum. É da coletividade que Elcy tem tirado forças para continuar na luta de provar a inocência do filho. Nesta manhã, enquanto esteve no evento, contou mais algumas vezes sobre a batalha que enfrenta diariamente, com “Gugu”, atualmente detido no presídio Romeiro Neto, em Magé, na Baixada Fluminense.

— Nunca tinha ido a esse evento. Minhas amigas falaram para ir expor o caso do Gustavo .Eu não tinha noção da força desse movimento negro. Fui muito acolhida. E acho muito importante mesmo. É uma luta diária, em relação à raça deles, da minha e do meu filho também. Eu vejo casos que são menosprezado. É muito importante lutar contra a desigualdade racial no país — disse Elcy.

Elcy Leopoldina, à direita, em evento no Dia da Consciência Negra questiona a prisão do filho detido após reconhecimento por foto
Elcy Leopoldina, à direita, em evento no Dia da Consciência Negra questiona a prisão do filho detido após reconhecimento por foto Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo

Elcy segurava a todo o tempo o cartaz com o dizer “racismo estrutural prende inocentes”. O filho Gustavo foi preso após a vítima do crime alegar que o reconheceu através de uma foto publicada numa rede social. Nesta quinta-feira artistas publicaram um vídeo em que leem a carta enviada pelo rapaz à mãe.

— É muito triste o meu filho estar passando por isso. E tem outros casos. Tenho certeza que vai ajudar outras mulheres a correrem atrás. Estou tendo muito apoio, de artistas também, o que está sendo importante para combater esse racismo estrutural — afirmou.

A programação no Monumento Zumbi dos Palmares começou com uma alvorada e foi seguida por uma homenagem aos ancestrais e às pessoas vítimas da Covid-19. Luiz Eduardo Negro Ogum, um dos idealizadores do evento, destacou a importância da data não só neste dia 20 de novembro:

— O Dia da Consciência Negra é extremamente emblemático, mas hoje não estamos festejando. Nós estamos aqui hoje homenageando, celebrando a memória dos nossos ancestrais, principalmente os nossos irmãos e irmãs que num ano tão doente, tão ruim, se foram. O racismo é a pior doença que existe. Nós queremos hoje uma vacina para curar o coronavírus, mas a vacina para acabar com o racismo, com a intolerância religiosa, ela está dentro de nós, basta nós olharmos e fazermos — afirmou em entrevista ao “Bom Dia Rio”, da TV Globo.

Programação na cidade

A programação pela cidade é realizada em outros pontos também com importância histórica para data. A manhã também é de celebração no Cais do Valongo, com apresentação do Programa Orquestra nas Escolas da Secretaria Municipal de Educação e roda de capoeira.

A tradição da lavagem das escadarias do Morro Santa Marta é só uma das atividades na programação, que ainda conta com performances de Egili Oliveira e da Companhia Teatro Te-Arteiros e apresentação de capoeira, maculelê e do grupo Produto do Morro Bateria.

A tradicional roda de samba da Pedra do Sal tem a edição desta sexta-feira também em comemoração à data. Jefferson Oliveira, o DJ Jefinho, um dos organizadores dos eventos, diz que essa programação irá reunir grupos afros, a partir das 18h. Ele destaca que o monumento histórico e religioso, no bairro da Saúde, atrai visitantes neste dia mesmo sem uma agenda cultura.

— Sempre vai ter pessoas para rezar, para agradecer. Toda essa história que envolve a Pedra do Sal, o ponto de samba, então sempre há pessoas em volta, mesmo que em particular fazendo suas homenagens — observa o DJ Jefinho.

Com a discussão sobre racismo como um dos temas principais nesse dia, o organizador das tradicionais rodas de samba observa que o assunto tem sido mais recorrente uma vez que há mais relatos sobre tais crimes.

— Cada ano que passa se dá mais importância porque se verifica novos relatos a cada semana. O racismo vem culturalmente, e nós lutamos contra isso, é uma das nossas bandeiras principais. Passar pelo racismo é bem constrangedor, e ainda há muito isso. É relevante que o ser humano tenha consciência

Portas fechadas

Diferentes dos 16 anos anteriores, a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, na Glória, na Zona Sul do Rio, está de portas fechadas no dia 20 de novembro. Na data em que é celebrado o Dia da Consciência Negra, a homenagem em forma da tradicional missa foi cancelada este ano. No ano passado, a celebração terminou em confusão ao ser invadida por um grupo religioso tradicionalista. Fiéis atribuem o cancelamento a uma ordem da Arquidiocese do Rio, comunicada nesta quinta-feira, dia 19, após reunião dos bispos.

Quase um ano depois da confusão da missa afro na igreja, porém, a Polícia Civil anunciou o indiciamento de cinco homens por intolerância religiosa e alguns por racismo. Eles são acusados de terem tentado impedir a realização do culto em 20 de novembro de 2019.





Fonte: G1