Na última semana, os nomes Demerson D’alvaro e Exu estiveram entre os mais falados nas ruas, assim como pesquisados na Internet. E não é para menos, a fantástica performance do ator como o orixá na Comissão de Frente da Acadêmicos do Grande Rio foi fundamental para a escola de Duque de Caxias encerrar o jejum e conquistar o inédito título do carnaval após mais de 30 anos no Grupo Especial. Mas para além do samba e da arte, ele também joga em outras frentes. Uma delas é o Projeto Social Marimba, que ajuda garotos da periferia em busca do sonho de se tornarem jogadores profissionais. A ação é desenvolvida na Vila Olímpica de Honório Gurgel, na Zona Norte do Rio. A ideia da escola era desmistificar a imagem de Exu como uma força negativa, e Demerson também é um personagem devoto do bem na sua rotina pessoal.
O próprio foi um garoto atrás do sonho de ser jogador de futebol. Nascido e criado em Honório, ele atuava como goleiro e fez as divisões de base em diversos clubes, o mais emblemático sendo o São Cristóvão. Chegou a fazer uma peneira no Fluminense, mas não foi aprovado. Ironia do destino, acabou levantando uma taça de campeão neste ano por uma Tricolor, a de Caxias.
Após se profissionalizar e jogar em times como Artsul e Japeri, ele desistiu da carreira de atleta e migrou dos campos para as passarelas, como modelo e, depois, ator. O projeto Marimbas então surgiu para que ele pudesse proporcionar a jovens sonhadores a oportunidade que faltou a ele em sua juventude:
— A ideia nasceu da vontade de ajudar outros garotos de onde eu nasci e cresci, por conta de eu ter contato hoje em dia com dirigentes, jogadores e empresários. É muito difícil um garoto sem ajuda chegar à carreira de jogador de futebol. Eu sei como é porque eu fui um deles. No começo foi muito difícil, mas, com muito trabalho, a ação no fim de 2019 começou a crescer.
Criado em 2018, o Marimbas é sediado na Vila Olímpica de Honório e atende diretamente 50 jovens atletas, que recebem estrutura para treinos e jogos amistosos para olheiros de clubes. Além disso, costuma dar oportunidades a participantes de outros projetos sociais, que não têm a mesma visibilidade, para mostrarem seu talento em busca de uma chance.
— Tem outros projetos que a gente abraça, quando temos alguma peneira ou jogo importante. A ideia é eles terem essa oportunidade de mostrar talento — explicou.
Quanto ao nome Marimbas, a escolha é uma homenagem ao pai de Demerson. Falecido há quatro anos, Carlos Antônio deixou no filho uma herança de samba no pé e desejo por ajudar ao próximo, já que também liderava projetos sociais para auxiliar meninos a conseguirem oportunidades.
— O apelido dele era Marimba, nascido e criado na região do Engenho de Dentro e amante de carnaval. Meu pai também tinha projeto de escolinhas sociais de futebol e me deixou esse legado de ajudar a garotada, foi uma inspiração para mim.
História de amor inspiradora
Para interpretar o Exu da Grande Rio na Sapucaí de forma tão grandiosa, Demerson teve uma ajuda fundamental dentro de casa. A esposa Isadora Neves é praticante e estudiosa do candomblé e indicou livros sobre a religião para que o marido estudasse para compor o personagem. Além disso, ela auxilia o marido sempre que possível no projeto social.
A história de amor do casal começou há cinco anos, quando se conheceram em uma festa. Mas poderia ter sido antes. Também do mundo do samba, Isadora esteve presente no desfile do Salgueiro em 2016, assim como Demerson, mas não se cruzaram.
— Ele fazia parte da Comissão de Frente como Exu Catiço e eu estava em outra ala. Não nos encontramos em nenhum ensaio nem durante o desfile. Nos conhecemos anos depois em uma festa e descobrimos que havíamos desfilado em 2016. Era o destino — comenta ela.
Fonte: G1