De aluguel social a apoio profissional, ONGs do Rio dão suporte para pessoas em situação de rua mudarem de vida


RIO — Acomodado há cerca de um mês em um quarto com banheiro, onde cabem uma cama e alguns objetos pessoais, Juan Carlos Sánches Velásquez, de 43 anos, já começa a sonhar com com dias melhores. O espaço, num prédio pequeno do Centro é o novo endereço do colombiano que veio para o Brasil no fim de 2019 em busca oportunidades e, na falta delas, acabou indo parar nas ruas. A nova chance que Juan e outras pessoas estão tendo para se reerguer é proporcionada pelo trabalho de ONGs e projetos que se destacam por ir além da ajuda emergencial com alimentos, durante a pandemia, e fazer a diferença na vida de quem vive nas calçadas. Elas oferecem apoios que vão do aluguel solidário à reinserção no mercado de trabalho e o estímulo ao empreendedorismo, para que, depois de algum tempo, os assistidos consigam prosseguir sozinhos.

— O próximo passo é garantir um emprego, nem que seja lavando pratos. A rua está muito difícil — afirma Juan, que em seu país chegou a trabalhar como chefe de cozinha, mas por aqui não teve as mesmas oportunidades.

Inclusão social

O aluguel solidário que beneficia o ex-chefe de cozinha é uma das vertentes de atuação da ONG A Nova Chance, que usa a quentinha só como pretexto para se aproximar desse público. O foco é tirar da rua e garantir que essas pessoas não dependam mais de ajuda. Com o respaldo de parcerias com a sociedade civil e campanhas de doação, a organização se programa para garantir até três meses de aluguel da nova moradia. Mas, a intenção é que, já a partir do segundo mês, a pessoa consiga bancar pelo menos a metade do valor e, do terceiro em diante, possa assumir integralmente o aluguel. Para isso, paralelamente os assistidos recebem ajuda para se reinseriram no mercado de trabalho, além de estímulo para trabalhar por conta própria ou empreender.

—Fazemos um trabalho de inclusão social. Nossa intenção é ressocializar essas pessoas — aponta Juliana Vicente Telles, fundadora da ONG.

No caso de Jeane Lourenço da Silva Costa, de 45 anos, Ailton Barros, de 48, e Alexandre Santos da Costa, de 35, a oportunidade está surgindo por meio do empreendedorismo. Os três fizeram curso de barbeiro num abrigo da prefeitura, onde se encontram, na Praça Mauá, mas faltava o principal: o equipamento para trabalhar. A ONG entrou com a doação das máquinas de cortar cabelo, duas cadeiras de barbeiro e, através do aluguel solidário, vai possibilitar que abram um salão.

— Tudo o que alguém que está na rua quer é uma oportunidade. Ela apareceu, e vou agarrar com unhas e dentes — prometeu Jeane, que viveu 15 anos nas ruas, depois de chegar ao Rio vindo do Espírito Santo.

Alexandre corta o cabelo de um cliente. Como os amigos Jeane e Ailton, ele teve apoio para equipamentos e local para abrir uma barbearia
Alexandre corta o cabelo de um cliente. Como os amigos Jeane e Ailton, ele teve apoio para equipamentos e local para abrir uma barbearia Foto: Guito Moreto / Agência O Globo

Um outro braço de atuação é garantindo a oportunidade de volta para casa de quem pretende reencontrar sua família, depois de uma experiência frustrada que acabou nas ruas. Esse é o caso de Thiago Vidigal da Silva, de 35 anos, que no começo da semana embarcou num ônibus na Rodoviária Novo Rio em direção a Vitória, no Espírito Santo.

O rapaz chegou no Rio no começo da pandemia, trazendo no bolso só o dinheiro do auxilio emergencial do governo federal e achando que assim conseguiria se manter. Por aqui, vendeu bala no sinal e foi parar nas calçadas, onde foi resgatado pela equipe da ONG.

— Estou feliz em poder seguir adiante ao lado dos meus parentes — festeja o rapaz, já em casa.

A viagem é garantida por doações, que bancam passagem, o lanche durante o trajeto e o deslocamento até o destino final. A ONG foi criada em 2016 e atua de forma regular desde 2020, já tendo feito mais de 800 atendimentos. Só os programas de volta ao lar e aluguel solidário ajudaram a tirar mais de 80 pessoas das ruas.

Chuveiro sobre chassis

Com quatro anos de atuação, o Amor de Rua incluiu recentemente em seu raio de ação o aluguel solidário e ajuda para reinserção no mercado de trabalho. O primeiro assistido já está empregado em São Paulo. A quitinete que ele ocupava, na Lapa, vai passar para outra pessoa que vive nas ruas, neste fim de semana. O projeto banca os aluguéis por até seis meses, com ajuda de doações, e, ao mesmo tempo, estimula a reinserção no mercado de trabalho.

Criada pouco antes da pandemia, a De Volta ao Lar já ajudou a retornar para suas famílias mais de 400 pessoas em situação de rua, a maioria para fora do Rio. A ONG banca a passagem, uma ajuda de custo para as despesas com alimentação no trajeto e continua auxiliando por três meses com o envio de cestas básicas. Segundo Michele Montenegro, fundadora do projeto, pelo menos metade se manteve no seu local de destino.

Já o trabalho da ONG Banho Solidário começou há três anos e meio com um módulo com chuveiro sobre chassis de automóvel, que estaciona de segunda a sexta-feira, das 8h ao meio-dia, no Largo da Carioca, onde oferece banho, corte de cabelo e roupas limpas, além de ajudar a recolocar no mercado de trabalho. O sucesso foi tanto que, em pouco tempo, o projeto migrou para um ônibus adaptado, que percorre diferentes bairros da cidade, como Copacabana, Penha e Ilha do Governador com o mesmo tipo de serviço.

Como ajudar os projetos

A Nova Chance

A ONG recebe ajuda por meio do site benfeitoria.com/anovachance. Doações podem ser feitas por Pix. A chave é o CNPJ 39437287/0001-57.

De Volta ao lar

Contatos para ajuda pelo site

devoltaaolar.org.br, pelo e-mail [email protected] ou pelo telefone (21) 99525-9009.

Banho de Cidadania

Contatos pelo telefone (21) 96908-6969 ou pelo site www.ores.org.br

Amor de Rua

Interessados devem acessar o instagram @amorderuasos.





Fonte: G1