da volta do público aos estádios à retirada das máscaras


Pondo as fichas no avanço da vacinação contra a Covid-19 e na hipótese de a variante Delta não causar o aumento no número de óbitos pela doença nem de internações, a Prefeitura do Rio lançou nesta quinta-feira (29) um novo plano de flexibilização das medidas de restrição da cidade. Serão três etapas até a volta do “velho normal”, em novembro, quando três em cada quatro cariocas (75% da população) já estarão totalmente imunizados. A campanha “Rio de Novo, um ano de reencontros” prevê, em sua primeira fase, uma grande celebração, com ponto facultativo e vários eventos pela capital, já no início de setembro, mês em que serão permitidas a reabertura de boates e a volta do público aos estádios (veja o passo a passo no fim desta reportagem).

O calendário marca até o dia em que todos poderão voltar andar sem máscaras nas ruas: 15 de novembro — desta data em diante, a proteção facial só será obrigatória nos transportes públicos e dentro de unidades de saúde. Especialistas ouvidos pelo EXTRA, no entanto, afirmam que as medidas são precipitadas e alertam que comemorações já em setembro podem representar um risco.

O secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, explicou que foram analisados protocolos adotados em outros países, como Estados Unidos, França e Reino Unido, e a taxa de vacinação da população em cada momento da reabertura nestes locais. Em Londres, especificamente, onde especialistas apontam que a alta dos casos é causada pela variante Delta, Soranz ponderou que não foi observado um aumento de óbitos. O prefeito Eduardo Paes (PSD) afirmou que, apesar do planejamento, há possibilidades de recuo caso haja aumento das internações e dos óbitos por Covid.

— Queremos anunciar para que as pessoas se planejem. Se houver necessidade, se o secretário de Saúde me disser que não é possível, imediatamente a gente interrompe o processo de reabertura e impõe novas medidas. Mas queremos ser otimistas ao olhar para o futuro. Tudo indica que a gente vive um momento melhor. Não é ideal e não é bom e, por isso, as restrições permanecem. A abertura se dá de maneira gradual — defendeu Paes.

Pelo menos até o dia 9 de agosto, segue valendo o decreto que está em vigor na capital que, entre outras restrições, proíbe o funcionamento de boates e festas com vendas de ingresso e exige que bares e lanchonetes só podem atender clientes sentados com distância mínima de 1,5 metro entre as mesas.

Presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia do Rio de Janeiro, Tânia Vergara não concordou com o planejamento apresentado pela Prefeitura do Rio. A autorização para eventos com público já em setembro é considerada precipitada por ela.

— Eu discordo de evento presencial no mês de setembro. Acho que não temos porcentagem suficiente da população vacinada para isso. Também não teremos como controlar o cumprimento das regras nem aplicar punições. Durante toda a pandemia, o que mais presenciamos foram as autoridades que deveriam fazer cumprir as regras de uso de máscaras e distanciamento as descumprindo. Como podem exigir que outros o façam? — questiona Vergara. — Já para a terceira etapa, em novembro, acredito que possamos ficar mais tranquilos. Ainda assim, lembro que países com elevado índice de vacinação completa precisaram recuar na liberação do uso de máscaras em ambientes fechados.

O Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos voltou a recomendar, nesta semana, o uso de máscaras em ambientes fechados mesmo para as pessoas que já estejam com o esquema vacinal completo. O recuo, que já está sendo adotado por alguns estados americanos, deve-se ao avanço da variante Delta no país, que vive uma nova onda de casos da doença, mas não há um aumento significativo do número de mortes.

A Delta é considerada mais contagiosa, mas ainda não há indícios de que ela seja mais letal. A variante já tem transmissão comunitária no Rio. O estado registrou, até agora, quatro mortes causadas por esta nova cepa, todas em cidades da Baixada Fluminense.

— Considero irresponsável a realização das comemorações em setembro. É muito ruim dar a falsa sensação de que a pandemia acabou. Não é o governo que vai decretar isso, são os indicadores. Infelizmente, numa pandemia, não é realista fazer esse tipo de promessa. São muitas dúvidas. Estamos diante de uma nova variante, que não sabemos como vai impactar nos casos e óbitos, nem se quem foi vacinado em janeiro vai precisar de um reforço, ou quanto tempo vamos ter que usar máscaras, já que a vacina não impede a transmissão. Não temos programa de testagem. Essa proposta é excessivamente otimista e, neste momento, não sabemos se é factível — disse a epidemiologista Ethel Maciel.





Fonte: G1