Conheça os projetos que levam cinema a comunidades carentes em bicicletas, Fusca e jipe


Luz, câmera, emoção! Projetos que levam exibição de filmes a comunidades carentes e sem equipamentos culturais, como cinemas, representam para muitas pessoas o acesso a um mundo de sonhos, que destoa da realidade de crise econômica e escassez. Além de formar público para a chamada sétima arte, a ideia é promover debates sobre temas de interesse para o público. As projeções chegam às localidades das maneiras mais inusitadas: de bicicleta, Fusca e jipe, emocionando plateias infantis, jovens e adultas.

Dos amigos Wesley Pimentel, de 14 anos, Lailiane Santana, de 15, e Marcos Felipe Monteiro, de 16, apenas a menina já entrou num cinema. O trio estava entre os espectadores que, na terça-feira, se acomodavam no chão de um campinho de peladas na comunidade da Caixa D’Água, em Queimados, na Baixada, para acompanhar uma exibição do Cine Bike In.

Como o próprio nome diz, o projeto utiliza uma bicicleta, um projetor e uma tela inflável, para levar exibições às comunidades carentes da cidade, que possui mais de 150 mil habitantes e nenhum cinema. As pedaladas produzem a energia para carregar a bateria que liga o projetor.

— Faltam opções de lazer na cidade. Tempos atrás tinha eventos de cinema na praça, mas parou. Faz muita falta — lamenta Wesley.

A cozinheira Camila Helena Alves, de 40, aproveita as folgas de segunda-feira para passar parte do dia em frente à TV assistindo a filmes, mas tem saudades da tela grande. A última vez que entrou num cinema foi em Nova Iguaçu, há mais de dez anos, para assistir a um dos episódios da saga Crepúsculo. Ela aproveitou a passagem do Cine Bike In pela comunidade para levar a neta Maria Alice, de 3:

— Ver filmes em casa é um hábito, é natural. No cinema é outra coisa. Tem toda uma produção para sair de casa. É um evento.

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Apesar de atrair pessoas de diversas idades, as exibições são mais voltadas às crianças, com direito a distribuição de pipoca e refrigerante. A última sessão contou com a apresentação de uma seleção de curtas, encerrada com o filme“A balada da nobre senhora”, de Guilherme Quadrado, com a atriz Camilla Amado, morta em junho, de câncer.

O projeto foi idealizado pela produtora cultural Daiane Brasil e começou com recursos de um edital de R$ 50 mil, da Lei Aldir Blanc. Desde março, já foi a cinco comunidades e tem pedidos para ir a mais dez. Hoje é mantido em parceria com a Secretaria de Cultura e Turismo de Queimados. Inscrita em outros editais, a iniciativa busca financiamento para crescer e chegar a outras cidades.

O Fusca rosa, ano 1979, com um telão retrátil no teto é outro que não passa despercebido onde chega. No último dia 24 estacionou numa praça na Pavuna, para mais uma exibição do Cine Rosa Choque. Na véspera tinha ido a São joão de Meriti.

O Cine Rosa Choque, fusquinha rosa com uma tela em cima, vai até o público, na Pavuna
O Cine Rosa Choque, fusquinha rosa com uma tela em cima, vai até o público, na Pavuna Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo

Nos dois locais exibiu o documentário “O silêncio dos homens” e promoveu rodas de debates sobre igualdade de gênero e cultura de paz. Lançado em março, com recursos da Lei Aldir Blanc, já esteve em oito comunidades. As próximas serão Rocinha e Morro da Casa Branca, na Tijuca. O projeto busca parceiros para levar cultura e debate a outras praças.

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Cinemão sustentável

O Cinemão nasceu há dez anos, época em que as favelas passavam por ocupação pelas forças de segurança, e ganhou esse nome para se contrapor ao caveirão, como é conhecido o blindado da PM. O primeiro veículo do projeto era uma caminhonete Rural, 1970, que tinha escrito na lataria “Veículo de ocupação tática em cultura”. Depois passou para um jipe Land Rover . O carro é a cabine de projeção e a tela tem as mesmas dimensões das de cinema.

Com mais de 300 eventos, o cinema móvel partiu para um formato sustentável, com uso de energia solar para abastecer o sistema de projeção. Na pandemia virou Cinema nas Janelas, levando exibições aos conjuntos habitacionais para que as pessoas pudessem ver filmes sem sair de casa. Com o avanço da vacinação, prepara a volta às ruas no Dia das Crianças, em Sulacap, na Zona Oeste.

— Estamos buscando as autorizações da prefeitura — afirma Cid César Augusto, idealizador do projeto.





Fonte: G1