Comércio sobre rodas como pet shop, estúdio de tatuagem e floricultura estão ganhando as ruas


‘Fique em casa. Nós vamos até você’. O lema adotado pelo tatuador Leandro Azevedo, de 38 anos, cai com uma luva para um tipo de negócio que cresceu durante a pandemia e, segundo especialistas, veio para ficar: o comércio sobre rodas. Tudo começou com os food trucks, mas, com muita criatividade e espírito de empreendedorismo, houve expansão para outros ramos. E, num momento em que as pessoas estão evitando sair de casa, serviços móveis como pet shop, estúdio de tatuagem, floricultura, papelaria e até sorveteria estão ganhando, literalmente, as ruas.

Esse tipo de atividade foi regulamentada no começo do ano passado pela prefeitura, que desde então tem recebido uma média de 15 pedidos de regulamentação por semana. Segundo dados da Secretaria municipal de Trabalho e Renda, atualmente existem 48 empreendimentos destes regularizados na cidade e outros 229 em processo de legalização. O estúdio de tatuagem móvel de Leandro foi um dos primeiros a obter autorização para funcionar.

—A gente está na rua, muito próximo das pessoas e isso facilita para elas, principalmente num momento como esse — aponta o empreendedor, que montou o estúdio Tattoo na Van.

O estúdio móvel, que no começo atendia apenas os moradores de Realengo, onde Leandro mora, estaciona agora na entrada do Parque Madureira e em Marechal Hermes. A ideia inicial era driblar os custos altos de uma loja fixa. O investimento inicial de R$ 100 mil ainda não foi totalmente coberto, mas Leandro não se arrepende. Pelo contrário. O rapaz pensa expandir o negócio para um ônibus, já comprado e que foi um salão de beleza móvel. A comodidade de poder fazer tatuagem perto do local de trabalho atraiu o estudante de engenharia Raphael Luiz de Oliveira Santos, de 36 anos:

— Já fiz umas sete tatuagens no estúdio móvel.

O Pet Shop Móvel de Roberta Novaes, de 43 anos, moradora na Tijuca, também está fazendo sucesso
O Pet Shop Móvel de Roberta Novaes, de 43 anos, moradora na Tijuca, também está fazendo sucesso

O Pet Shop Móvel de Roberta Novaes, de 43 anos, moradora na Tijuca, também funciona numa van adaptada. O negócio surgiu em 2014 e durante a pandemia ganhou fôlego. Isso porque é ela quem vai até o cliente, que agenda a visita por telefone. Essa aproximação garantiu a fidelização de 80% da clientela, restrita aos bairros da Barra da Tijuca e do Recreio, sua área de atuação.

O conforto contou pontos para a comerciante Márcia Valéria Novello. A moradora da Barra disse que antes levava seus cães Pingo, Minnie e Manolo para o banho e tosa num shopping do bairro:

— Era longe e eles ficavam muito nervosos. Aí eu descobri o pet shop móvel, resolvi tentar e deu certo. É muito mais prático, porque não preciso sair de casa.

Custo mais baixo em relação a loja

A Papelaria Sobre Rodas, de Elisa Barreto, de 30 anos, moradora em São Cristóvão, mira em pessoas em home office que precisam de material de escritório para trabalhar. Mas o truck está ganhando prateleiras para circular por escolas, universidades e empresas.

Papelaria Sobre Rodas, de Elisa Barreto
Papelaria Sobre Rodas, de Elisa Barreto

Na praça do Condomínio Barra Bonita, no Recreio, um fusquinha rosa chamado Fuscolé virou a sensação da criançada. A ideia partiu da carioca Martha Martins, de 47 anos, e sua esposa, a baiana Goy Pires, de 48, donas do veículo desde 2012. Martha explica que no começo era um sacolé “raiz”, feito em casa, mas com o tempo e o sucesso ficou “gourmetizado” e passou a ser produzido num ateliê culinário, com a oferta de outros produtos.

O Fuscalé de Martha e Goy
O Fuscalé de Martha e Goy

Na Zona Sul, o sucesso fica por conta do fusquinha floricultura “Lia Linda Flor”. No ano passado, Valcineia Machado, de 51, que gosta de ser chamada de Roberta, viu naufragar seus dois negócios anteriores. Foi então que resolveu transformar o carrinho na garagem em loja ambulante. Deu tão certo que neste mês ela comprou um segundo Fusca. A ideia é que o primeiro continue em Copacabana, onde já conquistou os moradores, e o segundo circule por outros bairros.

A analista do Sebrae Rio, Louise Nogueira, acredita que os negócios sobre rodas encontraram um terreno fértil na pandemia e vieram para ficar. A principal vantagem desse empreendimento, na sua avaliação, é que eles têm um custo mais baixo em relação a uma loja com endereço fixo. Além disso, há uma grande economia com funcionários e a vantagem de poder mudar de ponto a qualquer momento.

Como se regularizar

É preciso destacar que os veículos e trucks, usados para negócios sobre rodas, devem estar emplacados, respeitar normas de trânsito e só podem estacionar em locais permitidos. A economia sobre rodas foi regulamentada em fevereiro do ano passado, após decreto municipal. A concessão é dada pela Secretaria municipal de Trabalho e Renda, por meio de autorização especial. O interessado deve buscar o órgão através do e-mail [email protected] e solicitar o formulário. Depois, será feito estudo de viabilidade econômica.

É necessário apresentar RG, CPF, MEI ou Contrato Social, comprovante de residência, CRLV do veículo, planta baixa (interna e externa) do módulo assinado por um técnico responsável, xerox da carteira de registro profissional do técnico, croqui do local de interesse (pode ser print de imagem do Google Maps), certificado do curso de manipulação de alimentos (para quem vai comercializar esse tipo de produto), cardápio com preços, requerimento contido no anexo da Resolução nº 75 e termo de autodeclaração contido na mesma resolução. Em caso de aprovação, será calculado o valor da Taxa de Utilização de Área Pública (Tuap), pela Secretaria municipal de Fazenda.





Fonte: G1