Com prejuízo de R$ 100 mil por mês por furto de cabos, Rioluz vai instalar 10 mil câmeras com reconhecimento facial


Cabos blindados com concreto, postes de fibra de vidro, galerias com sensores de presença, tampas de bueiros de cimento. Essas são algumas estratégias adotadas por prestadoras de serviços na cidade para tentar deter os saqueadores. A Rioluz — que todos os meses tem prejuízo de cerca de R$ 100 mil para repor, em média, 30 mil metros de cabos de iluminação das ruas furtados — aposta agora na instalação de dez mil câmeras com reconhecimento facial para inibir os ladrões. Os equipamentos devem começar a ser instalados em outubro na cidade.

A ação desses bandidos também deixou às escuras 3.500 clientes da Light em 2020. E, só no primeiro semestre deste ano, o número de atingidos subiu para 6.500, um aumento de 85,7%. Copacabana, Ipanema, Centro e Barra da Tijuca foram os bairros que mais sofreram com esse tipo de crime. No início de agosto, por exemplo, cabos foram arrancados na Rua Santa Clara, em Copacabana, deixando parte dos prédios sem energia. A recomposição da rede elétrica foi complexa e demandou cerca de dez horas de trabalho. Na ocasião, para amenizar a falta de energia provocada pela ação dos ladrões, a Light acionou um gerador para suprir o fornecimento. Entre as medidas de proteção tomadas pela empresa está a instalação de sensores e alarmes em galerias de cabos subterrâneas, além da troca de boias de cobre, usadas para controlar a entrada de água, por outras feitas de fibra de vidro.

Nem a Atlântica escapa

A Rioluz informou que a maior parte dos furtos de cabos acontece nas zonas Oeste e Norte, mas áreas da Zona Sul não ficam livres.

— Isso é um mal que atinge 100% da cidade. Para se ter uma ideia, posso citar a Avenida Atlântica, onde se tem, de vez em quando, furtos de cabos — disse Ricardo Piquet, presidente da Rioluz.

Além do projeto de instalar câmeras com reconhecimento facial, a empresa municipal de iluminação pública está blindado os dutos de cabeamento com concreto em áreas mais vulneráveis. Além disto, também está fazendo a troca de postes de concreto por outros de fibra, que não deixam os fios aparentes.

Empresas acumulam gastos por roubo de equipamentos
Empresas acumulam gastos por roubo de equipamentos Foto: Editoria de arte

O furto de cabos deixa ruas, casas e até sinais de trânsito no breu. Na rede semafórica, o interesse dos ladrões é nos fios e em componentes como controladores (placas eletrônicas que comandam o sistema). Segundo a CET-Rio, em 2020 houve 455 furtos deste tipo. De janeiro a agosto deste ano, já foram 427 casos. São tantas ocorrências que o órgão de trânsito aumentou de oito para dez o número de equipes que trabalham 24 horas para reparar os sinais de trânsito. O prejuízo este ano mais que triplicou, chegando a R$ 3 milhões. Para dificultar os furtos, a CET-Rio passou a transferir os controladores para o alto dos postes semafóricos. Segundo o órgão, as áreas com mais casos de danos são Grande Tijuca, Méier e São Cristóvão, todas na Zona Norte.

— Mais preocupante que o prejuízo financeiro é o risco que as pessoas correm quando um sinal deixa de funcionar. Muitas vezes furtam um controlador que chega a coordenar quatro ou cinco sinais — disse Joaquim Dinis, presidente da CET-Rio.

O perigo também está sob os pés dos cariocas. Bandidos já levaram este ano 2.520 grelhas e tampões da rede de drenagem nas ruas, um crime tão usual que a prefeitura vem trocando essas peças de metal pelas de concreto. Assim como os cabos, essas tampas vão parar nos ferros-velhos, que funcionam livremente na cidade.

Esses estabelecimentos também recebem parte do patrimônio cultural da cidade. São monumentos e chafarizes que têm suas partes de metais saqueadas. A Secretaria de Conservação (Seconserva) registrou nove boletins de ocorrências deste tipo este ano. Entre os bens levados, estão duas peças de bronze da escultura de D. Pedro I, na Praça Onze; o bastão, a efígie e as letras da estátua de Oswaldo Diniz Magalhães, na Praça Saens Peña; e placas históricas em bronze da estátua de Benjamin Constant, no Campo de Santana, no Centro.

Passageiros a pé

O caminho mais perigoso desse crime atravessou os muros do sistema ferroviário, que já registrou 374 furtos este ano. Foram retirados 22 mil metros de cabos de energia e sinalização, provocando a suspensão de 862 viagens. Já as trocas de tiros perto das linhas férreas paralisaram o sistema 20 vezes no período. Em todo o ano passado, em 355 furtos, 6.174 metros de cabos foram levados. Mas foram o número de viagens canceladas foi menor: 81. A concessionária SuperVia informou que, para barrar os saques, fez um convênio, por meio do Programa Estadual de Integração na Segurança (Proeis), para aumentar o numero de PMs ao longo com a malha ferroviária, que liga o Rio a outros 11 municípios. A Polícia Militar também montou uma força-tarefa para impedir os furtos.

Diante da onda de saques, a Polícia Civil tem feito operações em ferros-velhos. No último dia 8, os policiais apreenderam meia tonelada de fios sem procedência definida em 50 estabelecimentos vistoriados. Ontem e anteontem e ontem, os agentes encontraram uma tonelada de peças que prendem os trilhos de trem aos dormentes. Eles estavam em uma casa de artigos religiosos e seriam transformados em adornos. Sem essas peças, os trens são obrigados a circular mais lentamente devido aos riscos.





Fonte: G1