Com avanço da vacinação contra Covid-19, cariocas retomam vida normal aos poucos


Um abraço na mãe. Esse é o maior desejo que a médica Flávia Menezes espera realizar nos próximos meses com o avanço da vacinação no Rio. Hoje uma das coordenadoras médicas do Hospital Ronaldo Gazolla, referência do tratamento de pacientes com coronavírus, Flávia é uma das cariocas que aos poucos vai retomando a algo próximo do que conhecem como cotidiano, mas ainda com mudanças e restrições.

O dia 26 de abril de 2021 estava marcado na agenda como a data em que Flávia e Carlos Oliveira comemorariam 10 anos de casados, mas, por causa da terceira onda que atingiu o Rio, a celebração foi muito diferente do que as habituais viagens do casal. Juntos decidiram que o mais seguro para Carlos, que possui comorbidades, era alugar um outro apartamento para ele. O abraço que Flávia tanto gosta teve que ser adiado e o único contato que tiveram naquele dia foi visualmente na porta do apartamento em que ele estava, um de frente para o outro, com máscaras. E a volta para casa só ocorreu 21 dias depois que o marido tomou a primeira dose da vacina.

— Passei muito tempo vendo minha mãe de longe e só depois que ela foi vacinada que conseguimos nos encontrar, de máscaras e com todos os cuidados — conta a médica, que mostra otimismo com o avanço da vacinação e que o abraço com sua mãe deve chegar em breve.

A médica Flávia Menezes espera poder abraçar a mãe em breve
A médica Flávia Menezes espera poder abraçar a mãe em breve Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo

Há um mês as quartas-feiras do professor Vicente Nucci lembram um pouco aquelas vividas antes da pandemia. É quando ele tem o dia cheio com oito aulas para crianças do ensino fundamental 1, de 7 a 11 anos. Munido de cinco máscaras PFF-2, que troca durante o dia, e álcool em gel, ele retomou suas aulas presenciais no último dia nove de junho, mesma data em que recebeu a primeira dose da vacina contra a Covid-19. Ainda sem segurança, no primeiro mês as aulas foram na quadra da escola, em ambiente aberto, ensinando as crianças a montarem uma quadrilha de festa junina “moderna”: com distanciamento e sem convidados. Somente nessa última semana ele voltou a pisar em uma sala de aula após meses.

— Foi uma experiência renovadora. As quartas-feiras são um dia mais parecido com o normal, já que é o único dia que eu tenho feito as coisas. Só precisamos ficar atentos para não tornar essa segurança um vilão — comenta o professor.

As atitudes de Flávia e Vicente vão ao encontro das avaliações de especialistas, que alertam para a necessidade de manter os cuidados para evitar a contaminação, mesmo com o avanço da imunização, principalmente a manutenção do uso de máscaras e a preferência por frequentar locais abertos ou bem ventilados.

O professor de musica Vicente Costa Nucci ensaia um retorno às aulas de música
O professor de musica Vicente Costa Nucci ensaia um retorno às aulas de música Foto: Leo Martins / Agência O Globo

Felicidade no simples

Uma das mais tradicionais rodas do Rio, o Samba do Trabalhador mudou a forma de receber o público. Com um terço da capacidade, Moacyr Luz e seus músicos cantam para plateia mascarada:

— Fizemos o palco para evitar que as pessoas ficassem em volta. Quando liberou ano passado, a tristeza era muito grande. Agora o contato físico ainda deve ser pouco, mas já vemos as pessoas menos abatidas.

O retorno gradual também é vislumbrado no Retiro dos Artistas, em Jacarepaguá, um dos primeiros abrigos da cidade a ter os moradores vacinados. Na casa do contrarregra aposentado J Maia, de 79 anos, um dos mais ilustres residentes do Retiro, a felicidade está nas tarefas mais simples, como comprar pão:

— Estávamos todos muito atemorizados. Depois que me vacinei, senti um respiro.

Para o aposentado J Maia, a felicidade está nas tarefas simples, como comprar pão
Para o aposentado J Maia, a felicidade está nas tarefas simples, como comprar pão Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo

Após um ano difícil, o restaurante Parada Ouvidor, no Centro, ensaia recuperação:

— Não é da noite pro dia. Tem que trabalhar corretamente — reforça o gerente Paulo Camelo.

Aos 100 anos, Silvino não se descuida

Aos 100 anos de idade, Silvino Machado não vê a hora de poder retomar a vida normal e sair de casa para passear e fazer ginástica. O aposentado mora em Rio das Flores, no Sul Fluminense, e foi o primeiro idoso da pequena cidade a ser vacinado contra o coronavírus — presente que ganhou poucos dias antes de completar o centenário. No entanto, apesar de já ter sido imunizado com as duas doses, sabe que ainda não é hora de relaxar nas medidas de proteção.

— Fiquei feliz por ter sido o primeiro a tomar a vacina. Quando apareceu a doença, todo mundo ficou apavorado, agora estou mais tranquilo. Mas ainda podemos pegar a doença, não se pode abusar achando que já está livre — diz Silvino, pai de três filhos, avô de nove netos e bisavô de 17.

Dono de uma empresa de multifranquias no Rio, Adriano Gomes abriu três lojas durante a pandemia e planeja realizar mais cinco operações té o fim do ano:

— Com a vacinação, a gente começa a ver sinais de volta à realidade. Mas será uma realidade diferente, com procedimentos de segurança.





Fonte: G1