colégios arrecadam mais de 4 toneladas


Acostumadas a conquistar medalhas nas quadras de vôlei, Maria Clara Vieira e Sofia de Oliveira Augusto, de 15 anos, comemoram agora uma vitória inédita no campo da solidariedade. Elas são embaixadoras do Sistema Elite de Ensino, escola que mais arrecadou alimentos — 2,3 toneladas — no Intersolidário, uma iniciativa do 38º Intercolegial, realizado pelos jornais O GLOBO e Extra, com apoio da Rádio Globo, e apresentado pelo Sesc RJ.

A gincana pela busca de doações marcou a fase final do projeto que, num ano atípico, fez os atletas trocarem as competições esportivas por um ato concreto de ajuda ao próximo. Embora a disputa tenha sido travada entre as escolas, quem sentirá a vitória serão as milhares de famílias que vão receber as mais de quatro toneladas arrecadadas por todos os colégios participantes. As doações serão encaminhadas ao banco do programa de segurança alimentar Mesa Brasil Sesc RJ.

Na avaliação de Maria Clara e Sofia, estudantes do 1° ano do ensino médio, todos saíram ganhando.

— O vôlei, por ser um esporte coletivo, já tem essa dinâmica de um apoiar o outro, mas ajudar as pessoas dessa forma foi muito legal. Foi um imenso prazer fazer parte disso — vibra Maria Clara.

O esforço dos alunos para arrecadar alimentos trouxe lições complementares às da prática esportiva, segundo o coordenador de esportes do Elite, Fernando Barreto:

— O esporte desenvolve o corpo, mas também auxilia no processo de aprendizagem e, com o aspecto social, na formação integral.

Ex-atletas do Intercolegial aprovaram a adaptação do projeto durante a pandemia. Bicampeão olímpico de vôlei e técnico da seleção brasileira sub-21, Giovane Gávio ressaltou a importância da preocupação social na formação dos atletas:

— Este ano vivemos uma grande mudança nas nossas vidas e fico muito feliz de o Intercolegial ter se reinventado nessa ação tão importante. Hoje, não estamos buscando apenas campeões dentro das quadras, mas também a oportunidade de contribuirmos com a formação de indivíduos melhores.

Para o judoca Victor Penalber, medalhista de bronze no campeonato mundial de judô, a maior lição proporcionada pelo Intersolidário foi a capacidade de adaptação.

— Reinvenção é a palavra da pandemia. Esse é o grande segredo, não só para os atletas, mas para todos — diz o judoca, que precisou adaptar os treinos em 2020.

Maria Julia Jerônimo, de 15 anos, estudante do 1° ano do ensino médio no Centro Educacional Chambarelli, descobriu que faz bem fazer o bem.

— Já ajudei pessoas nas ruas, mas nunca participei de algo tão grande. Na época do Natal, costumamos nos comover mais, mas a população passa por necessidades o ano todo — diz.

A corrida pela arrecadação de doações gerou uma situação inusitada para Daniela Guimarães, treinadora de handebol da Escola municipal Olímpica Carioca Juan Antonio Samaranch, em Santa Teresa. Como o colégio estaria fechado durante o período de coleta de alimentos para o Intersolidário, ela decidiu abrir o apartamento onde mora, no Grajaú, para reunir as doações.

— Eu não tinha noção do volume que seria. Começaram a chegar várias bolsas de alimentos que tomaram conta da minha sala. Depois, tomaram o quarto da minha filha. Nas duas últimas noites, antes de recolherem, ela teve que dormir comigo no meu quarto porque não tinha condição de deitar na cama dela — conta a treinadora, rindo.

Além das doações arrecadadas pelos alunos, Daniela teve a ajuda de vizinhos, que, comovidos com a ação, decidiram participar. A escola reuniu cerca de 1.160kg de alimentos.

— Toda hora tocava o interfone com o aviso de que algum morador tinha deixado alimentos. Muitos desses vizinhos que doaram eu nem conheço. Todos estavam querendo ajudar — orgulha-se Daniela, que tocou o projeto na escola ao lado do treinador de vôlei, Marcos Silva.

‘Novo normal’

A transformação do 38º Intercolegial no Intersolidário foi uma resposta ao “novo normal”, imposto pela pandemia de Covid-19. Na primeira fase, foram montadas blitzes — pontos de coleta de doações — em diversos locais da cidade. O ator Jonathan Azevedo, que abraçou a causa e se tornou o embaixador do Intersolidário, comemorou o resultado.

— A ação conseguiu unir pessoas de diversas idades e perfis não só pelo esporte, mas também pela solidariedade. Foi incrível ver esses adolescentes se encontrando como equipe para fazer o bem — vibra o ator, que se destacou na TV ao interpretar o traficante Sabiá, na novela “A força do querer”, da TV Globo.

Escola que mais arrecadou alimentos no Intersolidário, o Sistema Elite de Ensino vai ganhar uma benfeitoria no valor de R$ 10 mil. O colégio terá os detalhes de toda a sua trajetória no Intercolegial contados em um caderno especial que será publicado nos jornais O GLOBO e Extra na próxima terça-feira.

Os donativos arrecadados foram direcionados ao banco do programa de segurança alimentar Mesa Brasil Sesc RJ, que durante a pandemia já distribuiu alimentos a milhares de pessoas em situação de vulnerabilidade social em 49 municípios do Estado do Rio. Noventa militares da Marinha, do Exército e da Aeronáutica apoiam a logística de recebimento e distribuição das doações.

Coordenadora do Mesa Brasil Sesc RJ, Cida Pessoa diz que a ação solidária tornou-se ainda mais importante durante a pandemia.

— Essas ações foram a nossa virada de 2020. Foi um ano tenso, difícil, mas o que a gente pode tirar de positivo dele é a solidariedade. Todos se uniram e, com isso, o Mesa arrecadou uma boa quantidade de alimentos. Ações como o Intersolidário são importantes porque fazem chegar até as pessoas o tipo de alimento que elas precisam neste momento, que são os da cesta básica — diz Cida, reforçando a necessidade contínua de doações. — As pessoas que vão receber esses alimentos poderão passar um Natal com menos dificuldades, mas a data vai passar, e a pandemia vai continuar. A solidariedade não pode ter fim.

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Fonte: G1